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O relatório da discórdia

Especialista volta a colocar maternidade no Hospital da Cova da Beira, para além de esvaziar o Hospital da Guarda das suas principais especialidades de referência

Outro pormenor curioso diz respeito aos doentes internados por tipo de tratamento. Se na Guarda há um maior peso relativo de internamentos nos casos cirúrgicos – uma situação normal devido aos períodos de convalescença –, na Cova da Beira isso verifica-se nos casos médicos, o que pode indiciar o internamento “compulsivo” de quem procura os serviços do Centro Hospitalar da Cova da Beira. No caso da escolha deste hospital para acolher o único Bloco de Partos e Neonatologia da Beira Interior, o autor constata que a média de partos realizados na região (2.400) está a diminuir, sendo por outro lado necessário concentrar recursos para ter «melhores condições técnicas». O estudo já foi entretanto desvalorizado pelo presidente da ARS do Centro. Fernando Regateiro garante que o relatório «não é vinculativo», pois o documento que vai valer, tanto na questão da maternidade, como na reorganização hospitalar, é o despacho do ministro da Saúde com base nas propostas do CA do futuro Centro Hospitalar da Beira Interior.

«Discordo do modelo de reorganização proposto»

Luís Ferreira, director clínico do Hospital Sousa Martins

«O relatório do professor Carlos Costa não vem acrescentar nada de novo, Já havia um trabalho feito pelos Conselhos de Administração dos três hospitais da Beira Interior para as especialidades, pelo que são assuntos encerrados nesta altura. Este será apenas outro ponto de vista, mas, do meu ponto de vista, entendo que deve ser considerado o documento elaborado pelos responsáveis das unidades da Guarda, Covilhã e Castelo Branco, porque conhecem melhor a realidade e os recursos instalados. No entanto, discordo totalmente do modelo de reorganização proposto pelo especialista, até porque já tínhamos chegado a um acordo em termos de afinidades de especialidades de referência. A mesma discordância aplica-se em relação à localização da maternidade no Hospital da Cova da Beira, porque contraria a própria decisão do ministro, que atribuiu ao Conselho de Administração do futuro Centro Hospitalar da Beira Interior a decisão de propor a continuidade de uma ou duas maternidades na região».

«O importante é estarmos todos unidos»

Sanches Pires, presidente do Conselho de Administração do Hospital Amato Lusitano

«Este estudo corrobora o que pensamos e vem fortalecer ainda mais a vontade de criarmos complementaridades entre as três unidades hospitalares da Beira Interior. Vem dar-nos razão àquilo que vínhamos pensando há muito tempo. Há cerca de um ano que estamos a conversar sobre este desejo de unir esforços no sentido de encontramos soluções para melhorar o serviço de saúde prestado na região, evitar as deslocações dos doentes da Beira Interior para outros locais do país e, ao mesmo tempo, optimizar os recursos e os custos. Em conjunto, poderíamos apostar em especialidades que ainda não existem na região, o que isoladamente não conseguiríamos, e em meios complementares de diagnóstico. É claro que temos que o ter em consideração na criação do Centro Hospitalar da Beira Interior, pois a união dos três hospitais implica a criação de uma estrutura para organizar, gerir e conjugar as três unidades. O importante é estarmos todos unidos. Estamos a trabalhar no assunto e convém salientar que neste processo todos devemos ganhar e não perder. Se se perder por um lado, terá que haver ganhos e contrapartidas noutros». Até ao fecho desta edição, não foi possível obter um comentário de João Casteleiro, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar da Cova da Beira.

Luis Martins

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