Nasceu numa quinta junto de Gonçalo e, nesta, fez a 4ª classe. Aos 11 anos foi aprender a ser cesteiro; e aí se manteve três anos. De seguida, por três meses, foi ajudante de camionista.
Mais tarde, despenseiro no hotel (Hotel Turismo, claro), estudava, todavia, de noite na, então, Escola Comercial e Industrial, onde tirou o Curso Geral de Comércio. No hotel trabalhava oito horas.
Faz a tropa no Campo Militar de Santa Margarida, onde esteve 18 meses. Casou aos 19 anos e o então Director do Hotel, Sr. Oliveira Coelho, admitiu também a mulher a trabalhar na rouparia-lavandaria até que regressasse do serviço militar. Convém lembrar, desde já, que, na altura, pelo mesmo trabalho, as mulheres ganhavam muito menos que os homens – mas o Sr. Director pagava-lhe o salário do marido.
No Portugal de então, o que se entendia por solidariedade – que o era de facto, mesmo que com muita ingenuidade à mistura – levou Marques dos Santos a militar na esquerda política, juntamente com Adelaide Campos, Gustavo Brás e irmã, Joana Vedes, ….
Após o 25 de Abril, a falta de bacalhau levou-o a comprar o produto em Espanha. Tratava-se de aumentar os rendimentos, mas, por outro lado, o seu carácter empreendedor já aqui estava. Para o transporte comprou uma Austin-Sherpa e, ademais, era na actividade comercial que via o seu futuro.
Empregado do Hotel tomava a bica no Café Mondego e, aí, é abordado por um cliente daquele, onde, claro, se tinham conhecido. Era o Director dos “Cafés Montarroio”, que lhe comunicou que a empresa, pelo Natal, também comprava e exportava castanha. Com o bacalhau, a castanha e passas de uva pagou o resto da carrinha e, com o dinheiro aforrado, monta uma discoteca em Mangualde, iniciativa resultante do desencontro conjugal, que, em vez de se amenizar com a deslocação, antes se agravou.
Profundamente incomodado com a situação emigra para Espanha.
Em Madrid torna-se empregado de mesa; e a sua finalidade era aprender o castelhano, tal qual superar o desencontro conjugal. Aí esteve durante um ano.
Através de amigos, que lhe ofereceram trabalho numa quinta, decidiu-se pelo trabalho agrícola. O seu objectivo era encontrar-se a si próprio como pessoa. Aliás, acresce a sua condição de “escorpião”, a profunda empatia para com a Natureza, que lhe é inerente, tal como os espíritos profundos viverem apenas devidamente encontrados consigo próprios.
Os proprietários da quinta para onde foi trabalhar, mesmo junto do Mediterrâneo (La Ribera de Cabanes, muito próximo donde escrevo), eram os marqueses Cabeza de Vaca, um notável nome da aristocracia espanhola, de resto aparentados com o caudilho Francisco Franco.
Aí trabalho sete anos. Primeiro como jornaleiro, depois encarregado da quinta; por fim como pessoas de absoluta confiança – a tal ponto que os representava em reuniões agrícolas de venda de frutas ou import-export.
Refez e consolidou a sua vida com um segundo casamento. Uma vez inserido e dominando o ambiente começou a trabalhar como empregado de comércio, que era, afinal, o seu currículo. Em ano e meio passou de mero empregado a Encarregado de Cadeia de Supermercados, onde esteve três anos, o que lhe deu preparação para o seu próprio negócio.
De tal modo era benquisto que o nobre e terratenente Cabeza de Vaca lhe propiciou instalar-se com o tal próprio negócio.
E tornou-se no que é hoje, um empresário com actividade múltipla, desde o supermercado à construção civil, da compra e venda na área do imobiliário à restauração de luxo e aluguer de propriedades urbanas, do investimento in loco a Portugal e às maiores bolsas do Mundo, seguindo, muito atentamente, os índices nova-iorquinos Nasdaq e Dow Jones.
São-lhe feitos convites, nomeadamente na área da Política, o que sempre tem recusado e recusa, porque a inteireza do seu carácter não vai com o sinuoso de tal actividade.
Diz que os jovens devem trabalhar com fé absoluta no futuro, afincadamente, dispondo-se sempre ao esforço, por mais penoso, e com a honradez própria de quem sabe que se impõe e é reconhecido pela sociedade.
Conheci-o há, precisamente, seis anos, apresentado pelo proprietário da oficina onde necessitei de prestar assistência à auto-vivenda, Dom Jorge Lavernia. Este, supremo aristocrata do espírito, era amigo de José António.
É bem verdade que “os grandes espíritos se encontram”. Eram e continuarão amigos para sempre. O nosso patrício e Jorge Lavernia – e a sua Mulher, Doña Adela Beltrán – são gente emocionante. Em Agosto, na sua casa, passo todo o tempo que quero – e a minha “boa estrela” sempre, e às vezes espantosamente, se confirma.
Não me substituo ao leitor nas suas espirituais conclusões. Também a generosidade do nosso compatriota é emocionante. Ademais, este está disposto a investir na Guarda – e a trazer com ele investidores espanhóis – desde que veja solidez para futuro. Todavia, seja o que for que aconteça, o senhor Presidente da Câmara deve absolutamente agraciá-lo no próximo aniversário da cidade.
Cabanes (Castellón) 3-VIII-06
Por: J. A. Alves Ambrósio