(…) «Eles não sabem, nem sonham,
Que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
O mundo pula e avança
Como bola colorida
Entre as mãos de uma criança».
António Gedeão magistralmente o escreveu na sua “Pedra Filosofal”. Mas, de facto, nós, os homens, além de não sabermos que «o mundo pula e avança (…)», não imaginávamos que o mundo afinal, de solavanco em solavanco, de tropeção em tropeção, caminha inexoravelmente para uma catástrofe a que urge pôr cobro. Vemos os telejornais, ouvimos a rádio, lemos os jornais e diariamente somos informados sobre acontecimentos que devastam populações indefesas e sacrificadas pela volúpia de uns quantos que fazem da força das armas a justificação da sua existência sobranceira e intolerante. O Médio Oriente é um barril de pólvora. Na martirizada Ucrânia o flagelo continua. A prepotência arrogante de Putin impõe-se com o poder destrutivo dos mísseis, de obuses e de toda uma panóplia de material militar destrutivo. Os ucranianos liderados por Zelensky resistem. Da fraqueza fazendo força, resistem e dão lições de exemplar valentia e determinação. Até onde poderá chegar essa resitência, perguntamo-nos e, embora cépticos, confiamos…
À brutalidade do massacre perpetrado pelo Hamas, Israel responde com a brutalidade que caracteriza as suas retaliações, dizimando palestinianos indefesos tragicamente sujeitos à fúria e ao ódio personificados nessa entidade sinistra que dá pelo nome de Benjamin Netanyahu. Mil aplausos para as palavras de António Guterres, Secretário-Geral da ONU, que, sem omissões, repreendendo o acto sanguinário do Hamas, soube repor a verdade dos factos, recriminando as perseguições de que os palestinianos têm sido vítimas desde tempos recuados. É num permanente sobressalto que vivemos ao ver o avanço das tropas israelitas a caminho da Faixa de Gaza que, sabe-se lá, pretenderão pura e simplesmente anexar ou destruir através de um «ataque conjunto e coordenado por ar, mar e terra». De sobressalto em sobressalto, vamos assistindo a este descalabro num mundo que se pretendia globalizado, com as assimetrias progressivamente reduzidas, num mundo em que os holocaustos não fossem mais que recordações tenebrosas e que não veríamos repetir-se. Meu Deus! Que ilusão! As decepções povoam as nossas vidas e queremos crer que nada de pior ainda possa acontecer. A Europa tenta proteger a comunidade judaica proibindo manifestações pela Palestina o que constitui um grave ataque ao direito de se manifestar.
Assim vai o mundo e as implicações são notórias nas vidas de todos nós, os que nos preocupamos com a salutar convivência entre os povos de todo o mundo. Pura utopia! “Homo homini lupus”, disse Plauto e constatamos dia a dia a sua permanente veracidade. Bem gostaríamos que o mundo progredisse com equilíbrio e bom senso numa verdadeira e autêntica coexistência pacífica. Bem gostaríamos.
Guarda, 30 de outubro de 2023
* Professor aposentado