Cara a Cara

«Esse travão à vinda de jovens para o interior agrava a coesão e o desenvolvimento do país como um todo»

Joaquim Brigas
Escrito por Efigénia Marques

P – Qual o balanço que faz do primeiro mandato como Presidente do IPG?
R – Um balanço claramente positivo. Foram anos muito desafiantes e difíceis, em que tivemos de enfrentar uma pandemia e as consequências da guerra na Ucrânia, mas em que aumentámos ano após ano o número de cursos, o número de alunos, de docentes, de investigadores e de funcionários. Fizemos e temos em curso investimentos estruturantes. E a investigação e produção de conhecimento do Politécnico da Guarda alcançou uma relevância e uma notoriedade nacional como nunca tinha tido.
O IPG passou a integrar várias redes de instituições de Ensino Superior, como a do Sudoeste Europeu (CRUSOE) e a das universidades promotoras de saúde (RIUPS – Rede Ibero-Americana de Universidades Promotoras da Saúde). A nossa colaboração com os agentes económicos da região e com os atores sociais e autárquicos é maior do que nunca. O IPG fundou e lidera o laboratório colaborativo em Logística (o CoLab LogIN) e participa num elevado número de projetos europeus, alguns dos quais na liderança. No último ano, o Sistema Interno de Garantia da Qualidade do IPG foi acreditado por mais seis anos.

 P – Quais os objetivos principais para o novo mandato?
R – Para este novo mandato o grande objetivo é acrescentar valor e prestígio às quatro escolas do Politécnico da Guarda. Para isso vamos ensinar mais e melhor, vamos produzir inovação e vamos qualificar cada vez mais a população ativa.
Iremos desenvolver mais investigação científica e promover a transmissão de conhecimento à sociedade, aumentando as interações com os tecidos social, económico e cultural da região e do país. Vamos também fomentar parcerias com empresas, com unidades de saúde, com escolas, com autarquias, com IPSS, com clubes desportivos e com órgãos de comunicação social.
Vamos continuar a liderar projetos nacionais e internacionais em áreas estratégicas, para as quais dispomos de recursos qualificados, casos da saúde, da logística, do setor social, do turismo e da economia azul, entre outros.

 P – Quais são os principais problemas com que, neste momento, se debate o IPG? 
R – A diminuição do número de vagas para alunos internacionais que nos foi imposta este ano é um dos principais problemas. Se antes estes estudantes eram admitidos até 30% do total de vagas, agora têm de entrar nas vagas sobrantes do Concurso Nacional de Acesso. Esta alteração prejudica o trabalho que instituições, como o Politécnico da Guarda, têm feito para atrair estudantes para o Interior. Esse travão à vinda de jovens para o interior agrava a coesão e o desenvolvimento do país como um todo.
Também a evolução do modelo de financiamento é injusta para o IPG porque há uma desigualdade no valor atribuído para os mesmos cursos consoante o subsistema em que são ministrados, prejudicando os politécnicos. As instituições de ensino superior do interior não são apoiadas como deviam.

P – Para o novo ano letivo há um aumento de novos alunos. Sabendo dos constrangimentos em relação à falta de alojamento, qual é o panorama para o novo ano letivo e como é que se pode, no futuro, contornar ou resolver este problema?
R – Tendo em conta o aumento de novos estudantes, os Serviços de Ação Social do IPG desenvolveram uma ação especial de apoio aos alunos para os ajudar a encontrar alojamento adequado. Como as residências estudantis são insuficientes para a procura, ajudam-se os alunos a encontrarem outro tipo de soluções de alojamento no exterior da instituição, nomeadamente em quartos ou casas partilhadas.
Embora este ano a Pousada da Juventude tenha disponibilizado quartos para estudantes do IPG, continua a haver a necessidade de mais camas. Faltam novas residências, uma necessidade a que o Governo não tem respondido como devia. A Câmara da Guarda também devia ajudar mais, à semelhança do que sucede com outras autarquias que têm ensino politécnico no seu território.

P – O IPG tem feito vários acordos com municípios para levar a formação a diferentes pontos da região. Quais são as áreas e os níveis de formação e que novos municípios podem entrar nessa rede de formação?
R – O Politécnico da Guarda passou a incluir na sua cultura académica uma abertura ao exterior como nunca existiu. Tal como sublinhei no meu discurso de tomada de posse, vamos continuar a alargar a realização de formações que valorizem, e que qualifiquem, o capital humano da região da Guarda e do país. No capítulo empresarial, estamos a orientar o ensino e a produção de ciência do IPG para parcerias com operadores no terreno, entre os quais avultam as empresas tecnológicas.
É este, aliás, o desígnio da Incubadora de Iniciativa Tecnológica que o IPG está a desenvolver com polos ou incubadoras próprias com concelhos como Mêda e Seia – aos quais se seguirão outros municípios que manifestem interesse em cooperar connosco.
Através destas parcerias com as câmaras municipais, a incubadora desnuclearizada vai estar vocacionada para acolher startups cuja atividade incida sobre as áreas da Automação, Logística, Economia Social e Mundo Digital. Esta incubadora está associada ao Ecossistema Tecnocientífico Avançado que está a ser desenvolvido pelo IPG, o qual também inclui um Centro de Competências em Blockchain.

P – Vai mudar a estrutura orgânica do IPG, como oportunamente disse a O INTERIOR, criando a figura de pró-presidente? Vai haver novas direções nas escolas?
R – Está em curso um processo de alteração parcial dos Estatutos, nomeadamente para a inclusão da figura do pró-presidente, uma forma de descentralizar as funções da presidência que hoje está muito sobrecarregada. Também a alteração às unidades orgânicas UDI (Unidade para o Desenvolvimento do Interior) e da UED (Unidade de Ensino à Distância), para passarem a ser unidades funcionais, à semelhança, por exemplo, do Centro de Informática do IPG.
Propõem-se ainda alterações na nomeação dos diretores das escolas, tal como nas restantes instituições de ensino superior do país com modelo de gestão semelhante ao do Politécnico da Guarda.
Será desejável que estas alterações estejam efetivadas até ao final do ano.

P – Para o futuro, qual será a designação da instituição: Universidade Politécnica da Guarda? E quando é que essa mudança, de IPG para UPG, poderá ocorrer?
R – Em termos internacionais, já podemos usar essa designação, Polytechnic University of Guarda. É de salientar que o Politécnico da Guarda integra já, como membro de pleno direito, a Rede de Universidade Europeia – UNITA.
O que importa, no entanto, é aumentar a qualidade e a profundidade da investigação que se faz no Politécnico da Guarda e a sua interação com os tecidos económico, social, educativo e cultural da região e do país. Ora, como toda a gente sabe, a qualidade da ciência produzida pelo IPG nos últimos anos aumentou muito, com vários projetos a terem destaque a nível nacional e internacional.
Estamos a criar condições para, em colaboração com centros de investigação, criarmos ciclos de doutoramento e podermos ser universidade politécnica.

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JOAQUIM MANUEL  FERNANDES BRIGAS

Presidente do Instituto Politécnico da Guarda

Idade: 63 anos

Naturalidade: Vila do Touro (Sabugal)

Profissão: Professor do Ensino Superior

Currículo (resumido): Licenciado e mestre em Geografia pela Universidade de Coimbra; Estudos de 3º ciclo em Jornalismo pela Universidade Pontifícia de Salamanca; e doutoramento em Comunicação, Publicidade e Relações Públicas pela Universidade de Vigo.

Livro preferido: Sensibilidade e Bom Senso, Jane Austen

Filme preferido: Joker, dirigido por Todd Phillips e com o ator Joaquin Phoenix

Hobbies: Ler, cinema e passear de mota

Sobre o autor

Efigénia Marques

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