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É possível fumar em liberdade?

Um dia, no já longínquo ano de 1989, nos Estados Unidos, um professor americano, fumador compulsivo, disse-me, enquanto acendia um cigarro: «Espero que nos tornemos rapidamente numa pequena minoria, para então reivindicarmos alguns direitos».

Esta frase, dita em tom de brincadeira, tinha um sentido profético. Progressivamente, o acto de fumar ia deixando de ser social. Em certos círculos dos EUA já o era há 17 anos; em Portugal demorou um pouco mais, mas o caminho foi o mesmo.

A ironia da frase está no facto de os direitos poderem ser reivindicados por pequenas minorias, mas jamais por maiorias ou por grupos consideráveis. Por algum motivo, em certos aspectos insondável, a opinião publicada tornou-se muito atenciosa face a pequenos grupos exóticos, face aos que defendem causas estranhas ou modelos de vida «alternativos» (palavra irritante que pretende ser a normalidade uma mera opção). Em contrapartida, a mesma opinião mostra-se bastante reservada, senão mesmo crítica, em relação a temas «não alternativos» como, por exemplo, a religião, o casamento, ou a heterossexualidade.

Ora, no tempo em que os fumadores não eram ainda uma pequena minoria (será que já o são, em Portugal?), não poderiam reivindicar direitos. Eram, apenas, poluidores. Agora, que a ideia de não fumar se tornou, definitivamente, parte do pensamento único politicamente correcto, já é possível ver a União Europeia a defender os fumadores, afirmando que é «contra a sua discriminação» nas contratações para empregos (isto, depois da mesma UE ter, por lapso, afirmado que a empresa irlandesa que tinha recusado emprego a um fumador não tinha discriminado o candidato).

HÁ SÓ um ligeiro problema – o da liberdade. Ou seja, uma pessoa pode fumar porque é livre de o fazer? Uma empresa pode não aceitar um trabalhador porque ele é fumador? Estas são as questões fundamentais. Mas, em vez delas, discute-se unicamente a ideia de discriminação.

Do ponto de vista da liberdade, o problema tem solução simples e não carece de complexas regulações de Bruxelas: qualquer pessoa deve ter a liberdade de fumar, desde que não incomode; qualquer empresa deve ter a liberdade de proibir que se fume nas suas instalações, mas não a de averiguar se, na privacidade, o empregado fuma ou deixa de fumar.

É simples, mas talvez demasiado para os acessos regulamentadores e para as mentes politicamente correctas. Resta-me, pois, a esperança de que a normalidade não tenha de ser muito minoritária, para então conseguir reivindicar alguns direitos.

Por: Henrique Monteiro *

* Director do Expresso

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