O problema é o CO2, como é sabido. A sua concentração excessiva na atmosfera está a aquecer o planeta e a provocar fenómenos meteorológicos extremos como aqueles a que assistimos este Verão. O que muitos não sabem, mas deviam saber, é que o CO2 é uma molécula composta de um átomo de carbono e dois de oxigénio. Quando a clorofila das folhas de uma árvore absorve a luz do sol, para desencadear a fotossíntese e, a partir dela, dividir as moléculas do CO2 nas suas partes componentes, o oxigénio que daí resulta regressa à atmosfera e o carbono é parcialmente usado pela árvore para a produção de biomassa, como a celulose, e é depois armazenada no tronco e ramos. O restante CO2 é combinado com o hidrogénio resultante da hidrólise (outro processo químico associado à fotossíntese) para ser recombinado em glicose e servir de fonte de energia para vários processos pela árvore.
É por causa destes processos, bem conhecidos de todos os que não esqueceram as aulas de ciências, que se diz serem as florestas sumidouros de carbono e se acredita estar na plantação de árvores (e preservação das que existem) parte da solução para o problema do aquecimento global. Há também o problema do metano, também indutor do efeito estufa, e haverá outros, mas a simples constatação de que o carbono integrante do CO2 é capturado pelas árvores todos os dias e convertido por elas em lenha deveria alertar todos, insisto, para a importância de se preservarem as florestas e se plantarem mais árvores.
O que tem acontecido é o contrário. Há extensas queimadas na floresta amazónica, ardeu este ano uma área florestal no Canadá superior à área do nosso país, nós próprios somos assolados todos os anos por enormes incêndios, tal como o são os gregos, os espanhóis e em geral os povos mediterrâneos. A consequência desses incêndios é duplamente grave, em sede de aquecimento global: por um lado, são destruídas árvores que deixam de capturar o carbono atmosférico; por outro, o carbono que elas tinham capturado é devolvido à atmosfera onde irá reforçar o efeito de estufa.
É verdade que uma floresta é também fonte de dióxido de carbono, proveniente, por exemplo, das árvores que apodrecem ou são abatidas e convertidas em lenha para aquecimento, ou através da respiração das plantas (de que o CO2 é um subproduto) ou dos incêndios. Contudo, uma boa gestão florestal poderá evitar ou reduzir esse problema, fazendo com que o saldo final entre captura e libertação de CO2 seja positivo ou, pelo menos, neutro. Mesmo neste último caso, a existência de uma floresta em sítios em que agora não há nada, ou mero rasto rasteiro, é sempre de preferir.
Tudo visto, sugiro que se repare nos montes que cercam a nossa cidade da Guarda e onde nada existe senão mato rasteiro. Reparem também nos inúmeros terrenos agrícolas abandonados na nossa região. Lembrem-se dos gigantescos incêndios do Verão de 2022 e pensem se não será altura de plantar árvores em larga escala, de preferência das espécies tradicionais da região, que de eucaliptos e pinheiros bravos apenas temos a esperar mais incêndios.
Plantem árvores
“É verdade que uma floresta é também fonte de dióxido de carbono, proveniente, por exemplo, das árvores que apodrecem ou são abatidas e convertidas em lenha para aquecimento, ou através da respiração das plantas…”