Numa entrevista a João Ferrão, em agosto, o jornal “Público” revelou resultados de estudos coordenados por este investigador do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa. Geógrafo, ex-secretário de Estado do Ordenamento do Território e das Cidades, João Ferrão é mais impressivo como académico do que foi como governante, tarefa da qual pouca memória deixou.
Primeiro, as más notícias: a dinâmica demográfica do Norte está a perder-se, há cada vez mais municípios em morte social, a grande concentração de jovens está na área metropolitana de Lisboa. A macrocefalia é uma doença que se agrava. Nada de novo.
Depois, as novidades: «Há ilhas de dinamismo no oceano despovoado que é o Interior». Há cidades médias com grande dinamismo, como Viseu ou Bragança. E há muitos concelhos, de norte e sul do país, que contrariam a tendência geral de emigração.
Segundo João Ferrão, uma razão forte para o dinamismo de vários centros urbanos do interior é o baixo custo da habitação. É lá que muitos casais jovens se instalam, quer para trabalhar nessas pequenas e médias cidades, quer para ganharem a vida através do teletrabalho.
Essa capacidade de atração de muitas vilas e cidades não foi captada pelos Censos 2021. Segundo João Ferrão, os dados apurados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) não refletem toda a realidade do território, nomeadamente a população flutuante e os migrantes. Quase todas as cidades médias têm universidades ou politécnicos e a população real dessas cidades durante o ano letivo é subavaliada pelo INE. Quanto aos imigrantes, um exemplo: os dados do INE apontam para sete mil brasileiros em Braga, mas vivem na cidade pelo menos três vezes mais.
Moral da história, nomeadamente para as autarquias. Vale a pena ter políticas de apoio às instituições de ensino superior para atrair jovens. Vale a pena ter políticas de apoio à habitação. Vale a pena ter políticas locais para atrair imigração económica. Tudo o que a Guarda não tem.
O apoio da Câmara Municipal da Guarda ao IPG fica-se pela cedência de umas dezenas de camas para estudantes… e pouco mais.
Em políticas de habitação, a Guarda está a anos-luz de Viseu e, sobretudo do Fundão, que se candidatou a 30,5 milhões de euros de apoios a projetos de habitação a custos acessíveis. E o município não promove nenhum programa de atração de imigrantes para as empresas do concelho e da região.
Devendo estar ao lado de Viseu ou de Bragança, a Guarda corre o risco de se juntar a Lamego, a Portalegre ou a Beja nos indicadores socioeconómicos.
* Presidente distrital da SEDES Guarda