A falta de especialistas pode voltar a ser preocupante no Hospital Sousa Martins, mas desta vez na Cardiologia. Actualmente, o serviço é assegurado por apenas três médicos, após a aposentação de Braz Pereira em Abril, o que tem causado uma sobrecarga de trabalho a cada vez que um deles está de férias. Mas a situação pode agravar-se a breve prazo, porque o director de serviço está à beira da reforma. Para já, a única solução encontrada para minimizar o problema está na contratação de um especialista para apoiar o serviço, nomeadamente nas Urgências, um dia por semana e um fim-de-semana por mês.
Contudo, o despacho favorável da Presidência do Conselho de Ministros, obrigatório por lei, ainda não chegou à Guarda, o que pode originar um Verão conturbado. Cenário que Fernando Girão afasta totalmente, porque «o despacho está aí a chegar». De resto, o presidente do Conselho de Administração garante que a Cardiologia funcionou «optimamente» com quatro médicos e «assim vai continuar com três, mais aquela ajuda», notando que «ainda faltam dois anos» para a aposentação de António Raposo. «Temos tentado contratar mais especialistas para a Guarda, cujo hospital teve a única vaga para cardiologistas da região Centro ao abrigo dos carenciados, mas o lugar ficou vago», adianta. Fernando Girão diz que vai continuar a insistir nesta área, até porque o serviço, que tem a única unidade coronária da Beira Interior a funcionar 24 horas sobre 24, é «uma área fundamental na prestação de cuidados de saúde a uma população que excede os limites do distrito da Guarda». Segundo dados oficiais, em 2005 estiveram internados na unidade coronária do Sousa Martins 374 doentes, o que representa uma taxa de ocupação superior a 103 por cento. «A taxa de mortalidade ronda a média europeia», refere Braz Pereira, o último cardiologista a aposentar-se no Hospital da Guarda.
O serviço, fundado em 1975, dispõe de 26 camas, mais quatro destinadas especificamente à unidade coronária. No ano passado foi alvo de obras de beneficiação global, mas melhoradas as condições físicas continua por resolver a questão do pessoal. Braz Pereira confessa que o caso parece não ter emenda. «Parece-me que todas as soluções idealizadas são provisórias, pois o problema da falta de cardiologistas persiste e tende a agravar-se com os anos porque não estão disponíveis a vir para a Guarda. Assim, o serviço vai-se esvaziando», considera, elogiando o trabalho dos três colegas (um chefe de serviço e dois especialistas) que ficaram e da equipa de enfermagem. «É uma vantagem ter gente tão profissional e dedicada, caso contrário a Cardiologia já tinha fechado», garante. Mesmo assim o médico sublinha que a sobrecarga de trabalho dos que ficaram é «brutal», a tal ponto que não é raro os clínicos mais novos assumirem uma semana inteira de serviço em permanência, 24 horas por dia. «Nestas condições, o colapso pode acontecer devido ao cansaço dos médicos», refere, apontando como soluções a contratação de cardiologistas ou então preencher o quadro com internos. Mas estas duas opções parecem quimeras.
«O dr. Francisco Luís é o único médico que põe “pace-makers” na Guarda e, se estiver impedido, os doentes terão que ser deslocados para outros centros com todas as inconveniências que isso envolve», exemplifica, classificando a Cardiologia como um serviço exemplar no Sousa Martins e a sua ligação especial à Pneumologia, outra área de referência na região. «Os problemas do primeiro vão afectar seriamente o segundo», avisa Braz Pereira.
Luis Martins