Dois estudantes do curso de Engenharia Topográfica do Instituto Politécnico da Guarda – IPG desenvolveram projetos de prevenção de incêndios florestais, tendo já despertado o interesse de companhias de seguros pelos seus dados. Uma licenciada desenvolveu mapas digitais que identificam as zonas mais vulneráveis a incêndios. Outro licenciado calculou a severidade dos incêndios e os tipos de ocupação de solo.
“Portugal está cada vez mais exposto ao risco de incêndios – recordamos bem duas grandes catástrofes no distrito da Guarda, em outubro de 2017 e em agosto de 2022 – pelo que o interesse económico nestes projetos é evidente”, afirma Elisabete Soares, professora do Politécnico da Guarda e orientadora dos projetos. “Estes estudos são muito úteis para quem gere florestas e as suas limpezas, assim como para as seguradoras, ajudando-as a avaliar o risco e os prejuízos associados às sinistralidades”, afirma a docente. “Há já uma seguradora com interesse nos dados dos projetos, mas acredito que estes também têm utilidade para outras entidades, como a Proteção Civil ou as câmaras municipais”.
“Mapas de Vulnerabilidade de Incêndios Florestais do distrito da Guarda”, da autoria de Rita Sieiro, foi um dos projetos apresentados. O estudo focou-se na construção de quatro mapas sazonais, um por cada trimestre do ano, que consideraram a análise de nove variáveis: ocupação de solo, declive do terreno, exposição das vertentes, distância aos cursos de água, distância às áreas artificializadas, densidade populacional, proximidade à rede viária, temperatura e precipitação média. Estas condições conduziram à obtenção de classificações da vulnerabilidade em todo o distrito da Guarda, podendo aplicar-se o mesmo tipo de análise a outras zonas do país.
Luís Branco é o autor do estudo “Mapeamento de Incêndios e Caracterização Geral do Território a partir de Deteção Remota”, o qual incidiu na análise das ocorrências de 2017 e 2022, no distrito da Guarda. Este projeto permitiu distinguir diferentes níveis de severidade de incêndios florestais e identificar os solos, através da análise da ocupação, que estão mais suscetíveis a reincidências, referenciando e quantificando as áreas afetadas.
Ambos os trabalhos – apresentados na Conferência Segurança Proteger 2023, em Santa Maria da Feira – resultaram da aplicação de técnicas avançadas como a classificação de imagens de satélite, sistemas de informação geográfica e a deteção remota (recolha de informação sobre um fenómeno pela análise de dados reunidos por um dispositivo que não está em contacto com esse mesmo fenómeno), as quais ajudaram a compreender as áreas ardidas e o estado da vegetação e do solo.
“O Politécnico da Guarda destaca-se pela aposta na investigação e na contratação de quadros altamente qualificados para potenciar nos seus projetos”, afirma Joaquim Brigas, presidente do IPG. “Todos os anos Portugal está sob alerta para o perigo de incêndios rurais, pelo que o papel do IPG, enquanto academia, é utilizar o conhecimento que produz para prevenir e, tanto quanto possível, diminuir este problema”.
Elisabete Soares acrescenta que o fator “histórico de incêndios” é “fundamental para contrariar a tendência de vulnerabilidade e de exposição ao risco de incêndios”. Segundo a docente do IPG, “só é possível prevenir os incêndios de forma efetiva se as causas da vulnerabilidade dos territórios vítimas das catástrofes forem identificadas, estudadas e corrigidas”.
O Robô Bombeiro
De um concurso de robótica a um protótipo, o “Robô Bombeiro” foi outro projeto apresentado pelo Politécnico da Guarda na Conferência de Segurança Proteger 2023. “Detetar e extinguir fogos são características deste robô totalmente autónomo”, afirma Carlos Carreto, professor do IPG e coordenador do concurso.
A iniciativa pretende promover a robótica e dar espaço aos alunos para aplicarem em projetos concretos os conhecimentos adquiridos nos cursos de engenharia. O concurso testa a capacidade de pequenos robôs para detetar e apagar um incêndio, simulado por uma vela, num ambiente doméstico.
“O protótipo tem vindo a ser melhorado ao longo destas edições, mas a robótica ainda não responde totalmente bem a cenários mais realistas de pouca previsibilidade”, afirma Carlos Carreto. “Ainda assim, temos no horizonte desenvolver uma tecnologia que possa ser útil no combate aos incêndios e tenha capacidade para ser usada com fiabilidade no terreno”.