Os génios

Escrito por Diogo Cabrita

“Uma prateleira de cantores, escritores, pintores, muito próximos da revolução cubana, muito comprometidos com uma esquerda que matava opositores, que perseguia os poetas e os escritores que ousaram criticar, muito subservientes a ditadores homofóbicos, machistas e pistoleiros, como Fidel Castro, Velasco Alvarado, Morales Bermúdez, etc. “

“Os Génios”, livro de Jaime Bayly (março 2023), editado em Lima (Peru) pela revueltaeditores@gmail.com
Jaime Bayly nasceu em 1965 e escreve neste livro a história de um episódio famoso em que Vargas Llosa deu um valente sopapo no seu querido amigo García Márquez (Colômbia 1927-2014), durante um evento público de apresentação do filme “La odisea en los Andes”, cujo argumento escrevera o próprio Varga Llosa (peruano, 1937).
– Isto é pelo que fizeste à Patrícia! Mais que esta frase não se sabe, não se conhece a história ou o que originou a agressão. Dois génios num cinema e um murro violento e uma amizade acabada. O romance fantasia a partir dos dados que o autor foi obtendo, uma possível verdade, que explique a ira de Vargas Llosa.
Este livro perpassa a época formidável do realismo mágico com uma mostra de como foi marcante a quantidade de génios em torno da vida de Gabriel García Márquez e de Vargas Llosa, que eram amigos desde 1967. Uma lição de pujança literária, de respeito e de vitórias internacionais. Pelo menos três amigos conseguiram o Prémio Nobel da literatura nos anos seguintes, Pablo Neruda (Chile 1904-1973), García Márquez e Vargas Llosa. Antes deles, apenas dois latino-americanos o haviam obtido, a chilena Gabriela Mistral (1889-1957) e o guatemalteco Miguel Ángel Asturias (1899-1974).
Neste livro regista-se o convívio com William Faulkner (Estados Unidos 1897-1962), com Júlio Cortázar (Argentina 1914-1984), Jorge Edwards Bello (Chile, 1931-2023), Joaquín Sabina (Espanha, 1949), Cristina Peri Rossi (Uruguai, 1941), Mario Benedetti (Uruguai 1920-2009), Pablo Picasso, Herberto Padilla (Cuba 1932-2000). Uma prateleira de cantores, escritores, pintores, muito próximos da revolução cubana, muito comprometidos com uma esquerda que matava opositores, que perseguia os poetas e os escritores que ousaram criticar, muito subservientes a ditadores homofóbicos, machistas e pistoleiros, como Fidel Castro, Velasco Alvarado, Morales Bermúdez, etc. A esquerda pintou o mundo das barbaridades de Pinochet, mas nunca se descolou das brutalidades próprias.
Por detrás de todo este frenesim há uma livreira inventiva, meticulosa, boa pagadora, Carmen Balcells (Espanha 1930-2015), que consegue o “boom” da literatura sul-americana com a conquista de seis Prémios Nobel. A livreira ainda existe com a gestão do seu filho. Representa António Lobo Antunes na literatura portuguesa.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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