A EnerArea – Agência Regional de Energia e Ambiente da Beira Interior, criada na Associação de Municípios da Cova da Beira (AMCB), e a empresa Eco-Soros – Transformação de Soros Lácteos estão a preparar uma candidatura para a implementação de uma Central de Biomassa na área da Plataforma Logística de Iniciativa Empresarial (PLIE) da Guarda.
A candidatura será apresentada à Direcção-Geral de Geologia e Energia (DGGE) até Setembro, no âmbito do concurso de Atribuição de Capacidade de Injecção de Potência de Rede dos Sistema Eléctrico de Serviço Público e Ponto de Recepção Associado para Energia Eléctrica produzida em Central Termo Eléctrica a Biomassa Florestal, aberto pelo Governo para o distrito. O protocolo de cooperação nas áreas energética e ambiental entre a AMCB e a empresa deverá ser assinado esta semana, ou no início da próxima, e tem por base a realização de estudos de viabilidade económica e técnica para a implementação de uma Central de Biomassa com Processo de Vapor, com uma capacidade de 10 MVA de produção. Entre as várias acções, destacam-se a valorização da gestão florestal municipal e regional, a recolha e utilização da biomassa florestal, o desenvolvimento de acções de eficiência energética e de menor impacte ambiental e, por último, a criação de novas actividades económicas e emprego.
O projecto para uma central eléctrica com biomassa florestal surge na sequência da unidade de transformação final de resíduos lácteos que a Eco-Soros pretende instalar na área da PLIE (Ver caixa). Só assim se pode garantir a viabilidade desta unidade, já que, para funcionar, necessita de uma grande produção de vapor e um alto consumo eléctrico. Por isso, e para além da Central de Biomassa, a empresa vai ainda instalar painéis fotovoltaicos para tirar uma maior rentabilidade da energia solar. A Eco-soros é o «pilar» para a construção desta central e vai usufruir do vapor para tratar os soros lácteos, aponta Carlos dos Santos, director-geral da EnerArea. E isso é uma «mais valia» para a concretização do projecto, acrescenta, uma vez que a produtividade da central eléctrica com a utilização do vapor será «superior a 70 por cento», ao contrário de uma central que usa apenas a biomassa para a produção de energia. «Aí, a rentabilidade é apenas de 20 por cento», compara.
«Se a candidatura for aprovada, esta será a única central de biomassa a vapor da região», destaca, dizendo que não deverão existir muitas no país, uma vez que são poucas actualmente as empresas que necessitam do vapor para a sua laboração. Neste processo, a EnerArea será responsável pela validação e realização da candidatura ao concurso nacional. Por isso, terá que identificar as espécies vegetais existentes em toda a área de influência da AMCB (que engloba um total de 13 concelhos), bem como a probabilidade de cultivar outras espécies para a produção de energias. Um trabalho que será realizado durante o Verão. A associação deverá ainda assegurar que todos os municípios envolventes e associações de produtores florestais celebrem contratos de fornecimento de biomassa com a Eco-Soros. Tarefa que Carlos dos Santos acredita ser possível, visto que o empreendimento só traz vantagens como a «limpeza das matas e prevenção de fogos, criação de postos de trabalho e a requalificação de zonas abandonadas com o cultivo de novas espécies florestais». A aposta no aproveitamento da biomassa já tinha sido demonstrado pela EnerArea, que desenvolveu estudos para a criação de uma Rede de Aproveitamento de Biomassa Florestal (BioRural).
O que é a Eco-Soros?
A Eco-Soros, empresa que se dedica à transformação de soros lácteos desde Janeiro de 2000, pretende instalar a unidade de transformação final de resíduos lácteos na área da Plataforma Logística da Guarda. Para a empresa, trata-se de uma zona estratégica dadas as «ímpares» acessibilidades nacionais e regionais, situando-se a dois quilómetros do eixo de convergência da A23 com a A25 e a cerca de 3,5 quilómetros da estação de caminhos-de-ferro da “cidade mais alta”.
É que, além da energia, os transportes são também identificados no projecto como custo industrial determinante. O participação da Eco-Soros foi considerada pioneira para a afirmação da PLIE, o que motivou a autarquia guardense a considerá-la como investimento de interesse municipal, designadamente por aumentar a competitividade regional e desenvolver competências necessárias para a internacionalização das empresas e dos sectores produtivos, nomeadamente para o sector ibérico. O empreendimento é composto por três unidades de recolha (Guarda, Oliveira de Azeméis e Santarém), sendo que ficará na Guarda a unidade final de tratamento do soro lácteo. O investimento total ronda os 36,5 milhões de euros, sendo que a maior parte será canalizada para a “cidade mais alta”. O projecto assume-se igualmente como de importância nacional ao resolver os problemas ambientais associados ao sector dos lacticínios, apontando soluções de despoluição para os pequenos e médios industriais e promovendo o desenvolvimento industrial no interior do país com tecnologias de ponta inovadoras.
É que, com este projecto, a Eco-Soros propõe-se separar os vários componentes do soro lácteo – actualmente despejados nos rios e cursos de água – para aproveitamento industrial em áreas como a farmacêutica, cosmética ou até mesmo o fabrico de produtos biodegradáveis. Os queijeiros também obtêm benefícios, nomeadamente na criação de soluções sustentadas para resolver os problemas ambientais que o soro implica às queijarias, designadamente as de pequena e média dimensão, e também na rentabilização dos meios financeiros. Uma importância reconhecida pelo Governo, que já atribuiu vários incentivos a fundo perdido desde o Norte ao Alentejo. Até agora, a empresa já firmou compromissos de fornecimento de soro com 130 unidades industriais (queijarias), o que assegura uma recolha superior a um milhão de litros de soro por dia.
Liliana Correia