Vinte e três anos depois, o Centro de Alcoólicos Recuperados (CAR) da Guarda concretizou um velho sonho ao inaugurar a sua sede, no último sábado. A instituição dispõe finalmente um espaço próprio, cedido pela Câmara da Guarda por 50 anos, junto à Escola Secundária Afonso de Albuquerque. A festa contou com a presença de alguns dos utentes recuperados e muitos familiares dos doentes que por ali passaram. Brindou-se à nova “casa”, mas com sumo e cerveja sem álcool.
Segundo Carlos Brito, fundador e presidente do CAR da Guarda, as novas instalações «vêm valorizar todo o trabalho desenvolvido a nível distrital, em prol do doente alcoólico e da família». O Centro foi fundado em 1983 e desde então já ajudou gratuitamente mais de 1.600 alcoólicos de todo o país, com uma taxa de sucesso de cerca de 80 por cento. No entanto, as dificuldades financeiras são mais que muitas: «Neste momento temos as obras da sede para pagar, não sei é como vamos fazê-lo», revela, lamentando a falta de ajuda das autarquias do distrito. O CAR conta apenas com o apoio da Segurança Social e um subsídio anual atribuído pelo município guardense, «senão a instituição não sobreviveria», garante Carlos Brito, que confessa «desanimar às vezes». Acrescenta, contudo, que «gosta disto» e não desiste. Quanto à nova “casa”, acredita que vai ser uma «mais-valia» para a instituição, que deixa de pagar a renda mensal e ganha um «espaço próprio». A sede dispõe de uma sala para atendimento e sensibilização, outra para terapia de grupo e um compartimento maior para as reuniões da Assembleia do CAR. Trata-se de um espaço «mais airoso» que permitirá desenvolver um trabalho «diferente», assegura, servindo, nomeadamente, «os nossos filhos e netos».
Carlos Brito considera que o álcool é «a droga da moda», já que a sociedade quase que impõe que se beba “por tudo e por nada”. «Tanto pela alegria, como pela tristeza», ironiza. Só no distrito da Guarda há 26.120 bebedores excessivos e 21 mil alcoólicos crónicos, adianta o responsável, que se diz apreensivo com os consumos excessivos dos jovens, pois já não bebem vinho ou cerveja, mas bebidas «mais perigosas», como os “shots”. Como a lei permite que estes bebam a partir dos 16 anos, «as “bebidas da moda” fazem em cinco anos uma alcoolização que antes demorava 20 anos a beber vinho em excesso». Igualmente preocupante é o alcoolismo feminino, que está a crescer. Os números do Centro Regional de Alcoologia de Coimbra apontam para a existência de 26.370 bebedores excessivos e 21.120 alcoólicos crónicos no distrito da Guarda. Desde o início da actividade do CAR da Guarda foram internados para recuperação 1285 doentes alcoólicos dos quais 618 são do concelho da Guarda. Segue-se Pinhel com (70 doentes), Celorico da Beira, (68), Sabugal (56), Almeida (52), Seia e Figueira Castelo Rodrigo (43), Trancoso (42), Foz Côa (39), Gouveia (33), Manteigas (21), Mêda (20), Fornos de Algodres (17) e Aguiar da Beira (7).
Patrícia Correia