É do conhecimento geral que as escolas são locais de saber. Mas há algumas que vão além desta função para alcançarem uma proeza maior: o saber-fazer. É o caso da Escola Pêro da Covilhã, que tem a funcionar desde o início deste ano lectivo uma Oficina de Actividades Pré-Profissionalizantes de Carpintaria.
O espaço, coordenado e idealizado pelo professor João Maximino, é o refúgio de 16 alunos que ali aprendem a trabalhar com a madeira, mas também a fazer canalizações, instalações eléctricas, a pintar, envernizar ou reparar electrodomésticos. Enfim, um vasto conjunto de trabalhos técnicos e manuais que visam «despertá-los para uma profissão sem nunca descurar a escola», adianta o docente. Esta foi a solução encontrada pela Escola Pêro da Covilhã, que lecciona o quinto e o sexto ano de escolaridade, para evitar o abandono escolar dos alunos que não se sentem motivados pelos currículos tradicionais. É que a maioria destes jovens já têm 14 ou 15 anos. Uma idade de abandono escolar quando a escola «já não diz nada e o mundo lá fora é mais apelativo», salienta Jorge Antunes, presidente do conselho executivo, revelando que o Agrupamento de Escolas Pêro da Covilhã regista uma taxa de abandono entre «1 e 1,5 por cento». Uma realidade que apenas pode ser «suprida com este tipo de oferta diferenciada», considera.
A ideia de criar esta oficina, que foi aprovada pelo Ministério da Educação, surgiu quando João Maximino regressou à Covilhã após de ter estado na delegação do Fundão da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM). Ali montou uma panificadora e uma carpintaria para desenvolver as capacidades dos alunos com deficiências, mas o projecto acabou por atrair alunos de outras escolas. Os resultados obtidos foram tão benéficos que João Maximino por lá ficou durante oito anos, «quando era apenas para estar um», conta.
Alunos estão mais motivados
Aqui, os sucessos obtidos também estão à vista: os alunos estão mais motivados e, consequentemente, «mais comportados» nas outras disciplinas, refere. Diferenças que os próprios pais também notam. «Uma mãe dizia-me há uns tempos que, dantes, vinha todas as semanas à escola. Algo que agora não acontece, considerando que o filho estava completamente diferente em termos escolares e comportamentais», indica.
Tudo porque na oficina «há regras a respeitar», nomeadamente as normas de segurança. Além disso há também um grande respeito, pois o “professor engenhocas”, como é apelidado pelos alunos, está «sempre disponível» para passar o tempo com eles, confirmou Jorge Antunes. «A minha mulher costuma dizer que só me falta trazer o divã», graceja João Maximino. E os alunos também não lhe dão sossego: almoçam num quarto de hora e aproveitam cada tempo livre para estar na oficina. Tudo porque o trabalho «é prático» e, por isso, «mais motivantes», garantem os alunos. «As outras aulas são secas», acrescenta um deles, vindo da escola do Teixoso.
A oficina foi ontem inaugurada pela Direcção Regional de Educação do Centro, numa cerimónia em que foram apresentados trabalhos desenvolvidos pelos alunos, como cavaletes, telheiros, arranjo de portas e a construção de um auditório escolar. Aliás, «têm sido eles a fazer a manutenção da escola», acrescenta o professor. E hoje está satisfeito por ter levado o projecto avante, mesmo sem apoios. As máquinas que possuem foram todas cedidas por empresas ou associações, tal como muitos dos materiais utilizados. No futuro, gostaria de ter «mais apoio» financeiro para poder comprar os materiais necessários e fazer com este projecto servida «de embrião» para outras escolas.
Liliana Correia