Enquanto professora anónima que só convive com professores, também anónimos, nunca poderia ter conhecido o “professor de História, conferencista e autor de numerosos estudos de história, património e educação, que até já foi gestor educativo, ‘external expert’ em educação para a Comissão Europeia, vereador da Câmara Municipal das Caldas da Rainha e vencedor do Global Teacher Prize Portugal 2019”, Rui Correia. Contudo, como nestas coisas o mais básico exercício de cidadania, que é do se estar a par do que se vai escrevendo e dizendo, acaba sempre por suplantar qualquer outro atributo, lá acabei por dar com o dito num jornal nacional. (O que, dadas as probabilidades de o professor Rui Correia dar comigo num jornal regional, até acaba por não ser completamente justo, mas como ele próprio acaba por deixar transparecer naquela narrativa toda, a justiça não é coisa que, nesta vida, assista à vida de alguém.)
Continuando. Esquecendo, ou simplesmente ignorando, que não é bem cada escola, mas mais o conselho de turma, quem costuma decidir sobre estas e outras parecidas, a sua convicção, acerca da necessidade de se chumbar por faltas, leva-o a escrever: «Em segundo, cada escola aplica o PIT (Plano Individual) de forma diversa, o que gera uma inaceitável discriminação na equidade da sua aplicação; ou seja, vai depender da escola se o miúdo chumba ou não por faltas». Ou seja, para este professor, a não discriminação e a equidade passam mais por tratar de forma igual o que, inevitavelmente, é sempre diferente, do que por atender às circunstâncias individuais de cada aluno. Claro que isto, de se atender às circunstâncias individuais de cada um dos alunos, pressupõe, desde logo, cumprir com a legalidade e, acima de tudo, com os princípios da pedagogia mais adequada a cada caso. Ou, se preferirem, uma grande trabalheira. “Papelada”, na linguagem dos professores. Facto nada despiciendo para quem, como parece ser o caso, queira juntar achas à atual fogueira. Ainda assim, da opinião de Rui Correia, isto sobressai menos do que a sua intenção de evidenciar, perante um certo grupo de professores, que lhes está vedada a possibilidade de qualquer norma legal, ou lógica pedagógica instituída, lhes respaldar decisões que prefeririam padronizadas e impessoais.
Para este professor, quando estão em causa pessoas, o destino de pessoas, nada se compara à tranquilidade que um carimbo, no fim de uma lista de verificação de requisitos, confere e não se ser responsabilizados por nada. Mesmo que a decisão de carimbar, ou não, seja exclusivamente nossa, é preferível ser apenas os executores do que outros predefiniram e classificar os alunos de acordo com uma escala universal, do que avaliá-los de acordo com as suas características e percursos de aprendizagem. Claro que, não fosse dar-se o caso de esta ser a postura adequada à fábrica de funcionários, em que se transformou a escola do século passado, e do outro que o antecedeu, também não seria daqui que mais mal viria ao mundo. Por isso, o problema será, mesmo, o de se aceitar que este terá de ser mais o século da inclusão e da defesa dos recursos ambientais, do que o do funcionário e este tipo de concepções educativas não ajudar, em nada, à missa.
Em matéria de educação, a terminologia conceptual conta
“Claro que isto, de se atender às circunstâncias individuais de cada um dos alunos, pressupõe, desde logo, cumprir com a legalidade e, acima de tudo, com os princípios da pedagogia mais adequada a cada caso.”