Atualmente vivemos num período interglacial, que se iniciou há mais de onze milénios e que se seguiu ao intervalo glacial, que durou mais de 100.000 anos. Ainda nos rodeiam muitos vestígios daquela época, paisagens que falam de um tempo não muito distante em que um imenso manto de gelo, com cerca de três quilómetros de espessura, se estendia por grande parte da América do Norte e norte da Europa alcançando áreas tão meridionais como as que hoje são ocupadas por Dublin, Copenhaga ou Nova Iorque.
Se nestas cidades já não encontramos esta quantidade de gelo, nas calotas polares o gelo acumulado está a permitir reconstituir as alterações climáticas do passado com uma resolução sem precedentes. Perfurações no gelo a mais de 3.000 metros de profundidade proporcionam registos contínuos que permitem aprofundar o conhecimento do clima dos últimos 125.000 anos na Gronelândia e quase 800.000 na Antártida.
A informação dada pelo gelo é de índole diferente. Assim, a espessura das camadas de gelo, que, com frequência, são anuais, possibilita reconstruir os padrões de precipitação, já que a espessura de cada camada depende da quantidade anual de neve acumulada. Outro caso é o pó, que, ao ficar depositado e acumulado no gelo, permite inferir as alterações da transparência atmosférica, ou a intensidade e direção dominante dos ventos. Também são importantes as propriedades químicas do gelo: a acidez é um bom indicador de grandes erupções vulcânicas, e os isótopos – átomos do mesmo elemento químico, que possuem o mesmo número de eletrões e protões, mas diferente número de neutrões – estáveis do oxigénio e o hidrogénio usam-se como paleotermómetros, uma vez que a concentração varia de forma sistemática com a temperatura.
Finalmente, há que mencionar um elemento que revolucionou o conhecimento das alterações climáticas: o ar contido no gelo. Quando a neve se compacta, transforma-se em gelo e perde quase toda a sua porosidade, mas ainda restam pequenas bolhas de ar capturadas e totalmente isoladas da atmosfera. Portanto, essas bolhas estão cheias de ar fóssil. Analisar esse ar dá-nos uma informação direta de como era a concentração de gases de efeito de estufa no passado.
Tempo congelado
“Finalmente, há que mencionar um elemento que revolucionou o conhecimento das alterações climáticas: o ar contido no gelo. Quando a neve se compacta, transforma-se em gelo e perde quase toda a sua porosidade, mas ainda restam pequenas bolhas de ar capturadas e totalmente isoladas da atmosfera.”