Há uma luz ao fundo do túnel para o Hotel Turismo da Guarda. Na sexta-feira, a ENATUR – Empresa Nacional de Turismo, concessionária da rede das Pousadas de Portugal, e o Turismo de Portugal assinaram, na Guarda, um memorando de entendimento para a requalificação do imóvel e a sua integração naquela rede. O objetivo é que a antiga unidade hoteleira reabra até ao final de 2025, ano a partir do qual a ENATUR vai pagar ao Turismo de Portugal uma renda mensal de 3.891 euros durante 50 anos, prazo da concessão.
Na cerimónia, Rui Mota, presidente do Conselho de Administração da ENATUR, cujo principal acionista é o Turismo de Portugal, considerou que esta «é a melhor solução» para a revitalização do espaço, cuja degradação «não era aceitável do ponto de vista do interesse público e do interesse do turismo». O responsável disse acreditar que a transformação «deste magnífico edifício» em Pousada de Portugal irá traduzir-se numa «oferta turística qualificante» da região e da cidade. «Teremos de contar com a ajuda e a colaboração do grupo Pestana Pousadas, ao qual cabe a exploração desta rede desde 2003, e vamos trabalhar com o Turismo de Portugal para rapidamente celebrar contrato de arrendamento que viabilizará a entrega do prédio e o seu enquadramento» na rede das Pousadas de Portugal.
«Seja por subarrendamento ou por cedência de posição contratual, seja através da realização das obras pela ENATUR ou de uma outra solução, iremos seguramente encontrar o modelo adequado que permite o desiderato de recuperar o Hotel Turismo e colocá-lo ao serviço do turismo. Até final de 2025 teremos aqui uma magnífica Pousada de Portugal», garantiu Rui Mota. Um otimismo partilhado por Teresa Monteiro, vice-presidente do Turismo de Portugal, proprietário do imóvel, sublinhou que, ao integrar as Pousadas de Portugal, o Hotel Turismo vai «ganhar escala» ao ser associado a uma «marca de prestígio», tornar-se «mais competitivo e atrativo». A dirigente recordou que esta foi a segunda vez que veio à Guarda «anunciar uma solução» para o imóvel projetado pelo arquiteto Vasco Regaleira em 1936.
Recordando que as anteriores falharam por falta de interesse dos operadores e devido à insolvência do consórcio formado por duas empresas do grupo MRG, Teresa Monteiro ressalvou que desta vez «temos aqui uma solução chave na mão, está tudo feito e o memorando assinado é precisamente o compromisso daquilo que vamos fazer a seguir». A ENATUR, o Turismo de Portugal e a autarquia vão agora trabalhar em conjunto para que o projeto «avance o mais rapidamente possível», disse o ministro da Economia. António Costa Silva considerou que o Hotel Turismo «é uma das joias da arquitetura portuguesa» e que «temos o dever de honrar e transfigurar o projeto que o arquiteto Vasco Regaleira deixou». O governante sublinhou que a unidade e a Guarda podem ser «o epicentro» do desenvolvimento do turismo transfronteiriço cuja estratégia traçada com Espanha foi apresentada na última FITUR – Feira Internacional de Turismo, em Madrid.
«O turismo desta região tem que ser diferenciador para atrair as pessoas, devendo por isso apostar muito no turismo de natureza, cultural, arquitetónico e histórico, congregando todos os ativos que temos para formatar pacotes atrativos», exemplificou. O ministro revelou ainda que está a ser desenvolvida uma rota de fortalezas e castelos ao longo da fronteira, estando identificados 62 castelos do lado português. Já Ana Mendes Godinho, ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, considerou que esta foi «a melhor solução que alguma vez poderíamos ter imaginado» para o Hotel Turismo. «Hoje é um dia histórico», considerou a governante, que lembrou que José Saramago foi obrigado a dormir no carro porque o então único hotel da cidade mais alta estava lotado, como o próprio relatou no livro “Viagem a Portugal”. «É este passado que queremos que seja o nosso futuro, de um hotel lotado, cheio de vida», sublinhou, adiantando que o Governo cumpriu «o compromisso» de reabrir a unidade.
Por sua vez, o presidente da Câmara da Guarda realçou que, «após 12 anos em que este edifício emblemático foi votado ao abandono e à incúria, apesar das várias tentativas para contraria essa tendência, a Guarda quer ter finalmente motivos de esperança». Sérgio Costa acrescentou que o imóvel «merecia menos peripécias e enredos para finalmente conseguir a sua reabilitação», tendo afirmado que foram ouvidas «as nossas constantes reivindicações e apelos para encontrar a visão que está neste memorando». «Temos a absoluta certeza e a confiança que será um investimento do futuro e de sucesso mais do que garantido», sublinhou, destacando que o «enorme potencial turístico» da Guarda «começou finalmente a alavancar» com os Passadiços do Mondego e futuramente com os projetos dos trilhos do Noeme e da rede dos museus temáticos, entre outros. «São iniciativas que irão proporcionar experiências únicas e inesquecíveis aos turistas que nos visitarem», disse o edil, segundo o qual a cidade mais alta «necessita de camas e com qualidade».
«Mais interior no turismo»
Na sessão participou também o secretário de Estado do Turismo. Nuno Fazenda realçou que o turismo é uma atividade «muito importante» para Portugal, pois representa 20 por cento das exportações de bens e serviços.
«É fator de desenvolvimento económico e gerador de emprego, mas é também fator de coesão territorial e de desenvolvimento regional. Em 2022 superámos em 15 por cento o melhor ano de sempre, 2019, em receitas turísticas [soube-se mais tarde que ultrapassaram os 22 mil milhões de euros]», revelou. Neste cenário, a prioridade é ter agora «mais interior no turismo» através de «uma agenda» que o Governo vai elaborar com os territórios e que terá «medidas diferenciadoras e concretização» para contribuir para «a valorização do território e do património, de que é exemplo o Hotel Turismo da Guarda, e de atração de investimento, de pessoas e de empregos», afirmou Nuno Fazenda. Recorde-se que o Hotel Turismo está encerrado e devoluto desde 2010.
Luís Martins