Quanto vale a arte combinada de juntar peças e de transformar problemas em oportunidades?
Há peças que estão enterradas no passado, peças que fazem parte do nosso dia-a-dia e peças que ainda estão por surgir. Há problemas circunstanciais e outros que nos acompanham há décadas.
Uma peça do passado dá pelo nome de “Relatório Porter”, um estudo sobre a competitividade da economia portuguesa nos inícios da década de 1990, assinado pelo economista norte-americano Michael Porter.
Graças a esse relatório, Portugal encontrou formas inovadoras de potenciar setores económicos tradicionais, como a vinha e o calçado, e viu identificados caminhos para melhorar as suas deficiências ao nível da educação, da gestão florestal, do desenvolvimento tecnológico e da transferência de conhecimento das universidades, politécnicos e centros de investigação para o tecido empresarial.
Outras peças fazem parte do tempo presente, como o maior acesso de sempre a fundos comunitários ou a existência de uma estrutura político-administrativa que integra 15 concelhos dos distritos da Guarda e de Castelo Branco e que tarda a despertar.
Várias peças encontrá-las-emos num futuro não muito distante, como a consumação da revolução digital, a rutura parcial de certos setores de atividade devido à ausência crónica de mão-de-obra especializada ou o ressurgimento de circuitos de produção e de abastecimento locais.
A CIM das Beiras e da Serra da Estrela carece de muitas coisas, começando pela inexistência de uma orientação clara para a concretização de objetivos comuns. Assim se explica a ausência de um sentimento de pertença e missão conjunta dos concelhos que dela fazem parte e assim se entende o pouco ou nada que tem feito para promover o desenvolvimento socioeconómico e cultural da região.
Um “Relatório Porter” para a CIMBSE, elaborado por uma equipa multidisciplinar de competências reconhecidas, ajudaria a colmatar essas lacunas, indicando de forma clara e objetiva quais as áreas prioritárias de investimento e quais os modos de intervenção a adotar, permitindo um melhor aproveitamento da conjuntura favorável ao nível de fundos comunitários.
Quando isso acontecer talvez todos nós passemos a ter uma melhor noção de quanto vale a arte combinada de juntar as peças e de transformar problemas em oportunidades. Talvez até a CIMBSE desperte de uma vez por todas…
* Historiador e antigo presidente da Federação do PS da Guarda