Reza a lenda que uma velha muito abastada e proprietária da grande “Quinta do Lagar de Azeite”, na povoação de Santa Maria de Porco – hoje Aldeia Viçosa –, deixou um testamento à igreja local segundo o qual havia a “obrigaçom” de distribuir castanhas – o alimento principal à época – e vinho ao povo. Em troca os paroquianos tinham que rezar “um Padre Nosso” na igreja pela sua alma.
A tradição cumpre-se religiosamente há mais de três séculos em Aldeia Viçosa, no concelho da Guarda – mesmo condicionada pelas restrições da pandemia nos últimos dois anos –, naquele que ficou conhecido como o “Magusto da Velha” e que acontece todos os anos a 26 de dezembro. No dia a seguir ao Natal são lançados da torre da igreja 160 quilos de castanhas e servidos 50 litros de vinho, oferecido pela Quinta do Ministro, no adro pelo povo, após a missa pela “Alma da Velha”. Mais do que uma lenda este é um acontecimento marcante naquela comunidade do Vale do Mondego e consta do “Livro de usos e costumes da Paróquia de Porco”, do padre António Meirelles, de 1698, que descreve a tradição e que situa a sua origem na Idade Média.
Mais recente é a prática das “cavaladas” no adro da igreja, onde quem se baixa para apanhar uma castanha – ou rebuçado – fica sujeito a que lhe saltem para as costas. De há uns anos para cá, a Junta de Freguesia serve também pão torrado embebido em azeite e jeropiga, proporcionando ainda animação musical durante a tarde. Ultimamente há também espaço para uma encenação teatral à volta do testamento, que está programada para as 15h30, pelo Grupo Hereditas. O programa deste ano, que retoma os moldes habituais, começa às 14h30 com uma breve resenha histórica da localidade, realizando-se meia-hora depois a missa. O cortejo do magusto acontece pelas 16 horas e pouco depois serão lançadas as castanhas da torre sineira.
Atualmente, a Junta de Freguesia de Aldeia Viçosa recebe um Certificado de Renda Perpétua emitido pelo IGCP – Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública com uma renda de cêntimos, mas de «enorme valor simbólico», sublinha Luís Prata, autarca local.