O livro “Beira Interior – Vinhos que vêm do frio” foi apresentado esta terça-feira no grande auditório do Teatro Municipal da Guarda (TMG). Da autoria do enólogo e académico Virgílio Loureiro e de Constança Vieira de Andrade, investigadora da Universidade do Porto, a obra compila toda a história dos vinhos da região.
O presidente da Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior (CVRBI), Rodolfo Queirós, disse mesmo a O INTERIOR que este «é um documento fundamental que há muitos anos queríamos criar» e que ficará para «as gerações futuras». O livro demorou três anos a ser concluído e envolveu «trabalho árduo e rigoroso» em termos de pesquisa e de estudo sobre os vinhos da Beira Interior. Segundo Constança Vieira de Andrade, «fizemos uma recolha em primeira mão da história do vinho, exclusivamente da Beira Interior». Nesta verdadeira “bíblia” da viticultura da região os autores identificaram os solos, as castas, a história das instituições, «começando nas casas senhoriais até às Adegas Cooperativas», e, por fim, há ainda uma «abordagem ao consumo», em que os autores procuraram saber «como é que foi o consumo do vinho na Antiguidade e porque é que, dependendo dos estratos sociais, a função do vinho era diferente».
Para Constança Vieira de Andrade, esta obra «foi um primeiro passo muito importante para a história da Beira Interior e sentimo-nos orgulhosos por poder colaborar». Quanto às principais castas da Beira Interior, Virgílio Loureiro adiantou a O INTERIOR que, para «os produtores que têm de vender o vinho rápido, provavelmente as principais castas são aquelas que vêm de fora… já não são da região». Mas se falarmos das castas que existiam nesta região há 100 ou 200 anos, «essas são a raiz da viticultura da Beira Interior e eram as mesmas castas de um lado e do outro da fronteira – que é uma conclusão aparentemente óbvia, mas surpreendente».
A casta branca, a Síria, é a «mais mediática na Beira Interior». Virgílio Loureiro afirma que em Portugal há apenas 10 por cento desta uva – o que corresponde a «600 hectares», enquanto em Espanha «há 6 mil hectares» de casta Síria. «A grande originalidade das castas é um caracter distintivo que deve ser aproveitado ao invés de importarmos castas internacionais, que vão desvirtuar a identidade da região», alerta o especialista. De resto, Virgílio Loureiro sublinha que «uma região produtora de vinhos só tem futuro se conhecer a sua história. Pelo que sabemos, este é o primeiro texto escrito sobre os vinhos da Beira Interior. E o vinho não pode ser só copos. É o símbolo da civilização mediterrânica».
Sofia Pereira