P – Como surgiu o livro “O Estado do Campo”?
R – Resultou da vontade de partilhar uma seleção de textos retirados do meu blogue pessoal, que desde há anos serve como a minha “sebenta” literária, mas também diário de viagem, caderno de campo, rascunho de crónicas e ensaios, e ao qual apenas alguns amigos têm acesso.
P – Que livro é este? O que é que os leitores vão encontrar?
R – É uma coletânea de textos, uns curtos e outros em formato de contos, que escrevi ao longo dos anos e que expressam um olhar introspetivo, talvez poético, talvez nostálgico, sobre as minhas, inúmeras, viagens através deste vasto território rural (Beira Interior, Trás-os-Montes e Alto Douro, e Castela e Leão).
P – Uma vez que o livro “O Estado do Campo” é uma visão de territórios portugueses e espanhóis, quais as semelhanças e diferenças entre ambos?
R – Posso dizer que talvez por ter as minhas origens familiares na “raia”, dos dois lados da fronteira, desde sempre que esse tema me interessa profundamente. Aliás, neste momento essa visão faz parte da minha própria identidade como pessoa, essa “transfronteiralidade”. É para mim quase uma obsessão pensar e sentir esses espaços no seu conjunto, ou até mesmo como um espaço único. Contudo esta proximidade geográfica, ecológica e sociocultural, não tem sido suficiente para contrariar uma tendência histórica e secular de, como povos, voltarmos as costas uns aos outros. É um sonho que trago comigo, o de dar um contributo para que deixe de ser assim, para que haja uma diluição da própria fronteira. Escrevo também para isso, para que haja uma real aproximação entre as pessoas dentro desse espaço transfronteiriço.
P – Qual a sua visão dos territórios que descreve no livro?
R – É sobretudo uma visão interior, um olhar íntimo, subjetivo, livre, por vezes abstrato. Este livro não corresponde a uma monografia que retrate qualquer um dos motivos de interesse destes campos, desta paisagem. Ainda que o pudesse fazer noutro contexto, e estou a trabalhar nisso, “O Estado do Campo” não é uma reflexão sobre este espaço, deixo isso para outro momento e outros contextos.
P – Não nasceu na Beira Interior, mas fixou-se cá há alguns anos. O que o fez ficar por cá?
R- Apesar de ter nascido em Lisboa, em criança passei todas as minhas férias, grandes e pequenas, em duas aldeias do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, e foi desse contacto com o campo que adquiri uma paixão pela natureza, pela fauna e flora deste território. Por esse motivo fui para Biologia e, ainda durante o curso, mudei-me definitivamente (em 1993) para o nordeste de Portugal. Para além de Figueira de Castelo Rodrigo, onde atualmente resido, vivi por razões profissionais no distrito de Bragança. A principal motivação para viver na Beira Interior sempre foi o amor pela sua paisagem e pela vida selvagem desta região, não apenas no aspeto contemplativo, mas antes porque considero que é um espaço cheio de oportunidades em termos de realização profissional, nomeadamente em áreas como a conservação da natureza, a agricultura ecológica, o eco-agroturismo. Digo-o porque assisti à concretização prática dessas oportunidades, em empregos e fixação de pessoas, por exemplo, e acredito que estamos apenas no princípio do processo de materialização desse potencial. Muito embora haja o peso desta demografia socioeconómica negativa que tem origens lá atrás, sempre vi a Beira Interior como um dos melhores espaços da Europa para o empreendedorismo “verde”. Nestes quase 30 anos como beirão, o que alguns podem chamar de utopia, sempre foi a minha principal motivação para aqui viver e trabalhar. _______________________________________________________________________
ANTÓNIO ESPINHA
Autor do livro “O Estado do Campo”
Idade: 52 anos
Naturalidade: Lisboa Profissão: Biólogo do ICNF Currículo: Mestre em Biologia e licenciado em Engenharia Florestal, trabalha como técnico no Parque Natural do Douro Internacional/ICNF desde 1997; Casado e pai de duas raparigas, vive na aldeia histórica de Castelo Rodrigo; Foi sócio fundador e dirigente de diversas associações regionais, com destaque para a Palombar, a AEPGA e para ATNatureza (Reserva da Faia Brava)
Livro preferido: “Outono nos bosques”, de Yuri Kazakov Filme preferido: “Rumblefish”, de Francis Ford Coppola
Hobbies: Silvicultura, criação de equídeos, ler, atletismo, “birdwatching”.