Dois casais estão separados por uma mesa de café. Estão sós, mas juntos. O homem tenta estabelecer um diálogo, que a mulher quebra com violência. Dá-se uma confissão nua, crua e frágil que mostra os animais desamparados que cada um transporta dentro de si. É este o mote de “O Corvo”, a nova peça que o TeatrUBI – Grupo de Teatro da Universidade da Beira Interior vai estrear segunda-feira à noite, no Teatro-Cine da Covilhã.
Adaptado para teatro por Ivan Briscoe, a partir do poema homónimo de Edgar Allan Poe, “O Corvo” é um espectáculo que materializa a perda do amor, a solidão e a ausência. «Temos aquele que ama, o que sonha, o que busca e o que perde. Não trata só o amor, mas também a solidão e a perda”, explica a encenadora argentina Lorena Briscoe. No fundo, «retrata a ausência do amor e do carinho, sentimentos básicos que todos os seres humanos procuram», acrescenta Rui Pires, um dos actores. Mas o espectáculo é mais do que a simples representação do poema de Edgar Allan Poe, considerado, de resto, como um dos mais famosos da literatura americana. Publicado pela primeira vez em 1845, “O Corvo” foi desde logo traduzido em diversas línguas. Charles Baudelaire não resistiu em traduzi-lo em francês, o mesmo acontecendo com Fernando Pessoa para português. O poema continua a ser um desafio, mas desta vez para ser representado em palco.
«É um texto que me encanta. Já tinha estudado o poema na Argentina e desde aí que tive vontade de o encenar. É um desafio, pois podemos dividi-lo e dar-lhe diferentes sentidos», salienta a encenadora. Mas esta peça é mais do que a representação do poema. Este funde-se com movimentos, diálogos e monólogos no texto escrito por Ivan Briscoe, director da versão inglesa do “El País”. O espectáculo, com uma hora de duração e dividido em seis actos, apresenta uma visualização forte feita de contrastes entre as sombras e a luz. Destaque ainda para o desempenho dos jovens actores, pois «isto é mais do que um trabalho de representação. É um trabalho de criação deles próprios», aponta a encenadora, uma vez que o processo partiu das próprias imagens criadas pelos próprios. «Depois, foi só manipular essas imagens para contar o que queria», acrescenta. O espectáculo está em cena até dia 23 na sala de espectáculos da cidade e é interpretado por Gabriel Travasso, Liliana Silva, Mafalda Morão, Mário Gomes, Rui Pires e Sérgio Novo. A assistir Lorena Briscoe, directora da companhia Medea_73, de Madrid, estão ainda Juan Torres e José Carillo.
Liliana Correia