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Uma ilha encantada no Colégio do Mondego

Nove jovens utentes encenaram sonhos, desejos e realidades numa pequena experiência teatral coordenada por José Neves

“Os nove e a ilha encantada” foi o primeiro capítulo do “Inside Out”, um projecto sócio-cultural inédito do Serviço Educativo do Teatro Municipal da Guarda (TMG) que estreou na última sexta-feira no pequeno auditório. Nove jovens do Instituto de Reinserção Social – Colégio do Mondego, com idades compreendidas entre os 16 e os 18 anos, subiram ao palco para apresentar uma pequena experiência teatral, coordenada por José Neves, actor residente no Teatro D. Maria II, em Lisboa.

Na véspera, durante um ensaio geral, a palavra de ordem dos protagonistas era mesmo «na boa». «Esperemos que fique melhor. Ainda não está como a gente quer, precisa um bocado de agitação e de alegria», dizia Miguel [nome fictício], um dos nove elementos da autodenominada “Companhia do Sr. Zé”, numa alusão a José Neves. «Mas já dá para um gajo se desenrascar», garantia. A descontracção fez o resto, bem como a presença de alguma assistência: «Quando está mais gente a ver, as coisas correm melhor», dizia o Paulo [nome fictício], confessando ter sempre pensado que o teatro era mais difícil. Igualmente satisfeito estava José Neves, para quem o resultado final «ultrapassa bastante» a expectativa inicial. «Este projecto arrancou com o objectivo de encontrar nestes jovens uma dinâmica diferente daquela a que estão habituados. Eu próprio também tive que me adaptar muito àquilo que eles são, mas ligámo-nos bem», acredita. E assim nasceu, após quatro semanas de ensaios, um espectáculo feito de sonhos, desejos e realidades.

A pequena peça – dura meia-hora – está carregada de mensagens e levanta um pouco o véu sobre cada um dos seus intérpretes. O ponto alto desta revelação/comunicação acontece quando um deles pergunta o que desejam os outros. «Um dia de sorte» é a resposta mais surpreendente, mas também viagens ao Brasil – «para conhecer mulheres» – ou a Cabo Verde e jogadores de futebol. Mas também «mais liberdade» ou querer ser rico. De seguida, estes e outros desejos “voaram” para a assistência escritos em aviões de papel. Um deles rascunhou um número de telemóvel. Outro, protegido pelo anonimato, escreveu “Quero ser chulo para toda a vida”. Os colegas riem-se. A realidade acaba sempre por se intrometer na fantasia destes jovens de 16 a 18 anos. Para Victor Afonso, coordenador do Serviço Educativo do TMG, o “Inside Out” pretende privilegiar «públicos que são muito diferentes do espectador comum e estão à margem da actividade cultural». O objectivo é integrar utentes e instituições na comunidade, dando-lhes a oportunidade para «mostrarem as suas realidades e sobretudo que há por lá pessoas com sonhos de vida», acrescenta. Por isso, o projecto pode contribuir para que ganhem alguma auto-estima: «Ao participar, estes jovens do Colégio do Mondego são vistos de forma diferente», garante, esperando que o mesmo aconteçam nas próximas edições. O “Inside Out” vai continuar este ano em parceria com o Estabelecimento Prisional, a Casa de Saúde Bento Menni, a Cercig e a Aldeia SOS da Guarda.

Luis Martins

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