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“Agora, parece que o mais importante é definir a sexualidade e atribuir-lhe um nome. E categorizar, contrapondo à heterossexualidade que parece ser normativa e terrível.”

Tem decorrido na comunicação social portuguesa uma discussão terrível – e nem quero imaginar a turbulência que deve andar pelas redes digitais, que é mundo que não frequento, porque a internet, desde que passou a servir mais para discutir ideias e problemas e menos para ver filmes feitos em casa por pessoas a viver momentos de felicidade, perdeu grande parte do seu interesse.
Essa discussão tem como tema principal a sexualidade. Como já disse, nos bons tempos da internet, a sexualidade era claramente o tópico principal da sua utilização. Mas não era para a discutir, que para discussões já temos outras coisas que nos aborrecem. Antigamente, a sexualidade na internet era motivo de observação cuidada. E tinha como finalidade alegrar um indivíduo, qualquer que fosse o sexo – o do indivíduo e o do ecrã.
Agora, parece que o mais importante é definir a sexualidade e atribuir-lhe um nome. E categorizar, contrapondo à heterossexualidade que parece ser normativa e terrível, as sexualidades alternativas que procuram utilizar todas as letras do alfabeto: assexual, bissexual, consensual, etc… No entanto, apesar de tanta informação, a campanha do ABCLGBT+ também é discriminatória.
Primeiro, porque não refere uma prática, muito em voga em militantes de partidos e religiões – passe o pleonasmo – que consiste em ter sexo apenas em posições dogmáticas bastante rígidas e imutáveis: a ortossexualidade (não confundir com hortossexualidade, que é o desejo de fazer amor com pepinos, rabanetes e couves-lombardas).
Mas o mais imperdoável é manter o véu do preconceito sobre a pornossexualidade. Amar pessoas que fazem o seu amor à frente de uma câmara e no ecrã do computador é também uma forma de amar. Seja a pornossexualidade monogâmica, a das pessoas que vêem tudo sempre no mesmo site, ou a versão poliamorosa, partilhada por gente que tem várias hiperligações no seu histórico e nos favoritos do browser, são formas de sentir únicas.
Senhores activistas, pela igualdade e pela tolerância, parece-me importante que o mundo e o jornal “Público” entendam que é tão aceitável ter vários parceiros na mesma casa como ter diversos calos na mesma mão.

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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