A atribuição pelo Ministério da Cultura do subsídio máximo (252 mil euros) do Programa Operacional (POC) vai «estabilizar as contas» da CulturGuarda, garante o seu director financeiro, Francisco Dias. Para os responsáveis da empresa municipal que gere o TMG, não há motivo para alarmismos e muito para menos leituras «precipitadas e descabidas» do relatório financeiro dos primeiros meses de actividade. «Não se pode falar em prejuízo em termos culturais, o que há são custos sociais, pois o que fazemos é subsidiar a vinda de espectadores», acrescenta o director artístico.
Visivelmente desagradado com o destaque dado aos 115 mil euros de prejuízo da CulturGuarda em apenas dois meses, Américo Rodrigues esclareceu segunda-feira que «não houve despesismo excessivo» no TMG e que os números em causa «já estavam previstos nos estudos iniciais» da empresa municipal. «Este tipo de actividades não são auto-financiáveis, pelo que a Câmara da Guarda tem o dever de suportar esses encargos», sublinhou, à margem da apresentação da programação para o primeiro trimestre de 2006. Uma certeza que o director artístico justifica com o facto da Guarda ter optado por «este» teatro municipal, que só precisa mesmo que «o deixem fazer o seu caminho». Uma opinião partilhada por Francisco Dias, para quem a CulturGuarda trabalha apenas «com aquilo que lhe dão» e tem como objectivo «depender cada vez menos» da Câmara. Para Vergílio Bento, vereador com o pelouro da Cultura e representante da autarquia no Conselho de Administração da empresa, está claro que o TMG é um projecto de «desenvolvimento regional fundamental para a cidade». Contudo, também não escapa aos cortes efectuados no Plano e Orçamento municipal, sendo-lhe destinada para 2006 uma verba de 604 mil euros, um pouco menos que no ano corrente.
«Mas o TMG vai continuar a desenvolver projectos de qualidade, pois achamos que o ano que vem vai ser de consolidação e de afirmação deste projecto na região e no país», acredita o também vice-presidente da Câmara. Para tal vai contribuir a integração na rede cultural de Castela e Leão, no âmbito de um protocolo inédito a assinar em meados de Janeiro na Guarda. Mas também a perspectiva de uma estrutura similar com as principais salas de espectáculos da região Centro. Duas iniciativas que vão permitir mais diversidade na programação a menores custos. O funcionamento em rede do Centro de Artes e Espectáculos (Figueira da Foz), do Teatro Académico Gil Vicente (Coimbra), Teatro Aveirense, Teatro Viriato (Viseu) e TMG foi o tema de uma reunião, na passada terça-feira, na delegação do Centro do Ministério da Cultura, em Coimbra. De acordo com Américo Rodrigues, a região Centro vai ser «um exemplo para o país», mas antes disso será a Guarda graças à ligação com uma rede transfronteiriça formada por 23 cidades da região espanhola de Castela e Leão. Aliás, o TMG será o único palco português a funcionar como extensão da programação de “nuestros hermanos”. Para assinalar o início desta colaboração, a Guarda vai receber, na terceira semana de Janeiro, uma pequena mostra de Teatro de Castela e Leão.
«É uma antecipação do que nos vai proporcionar a rede cultural, pois teremos produções de primeira linha mesmo a nível mundial», garante o director artístico, para quem «já não faz sentido estarmos de costas voltadas para iniciativas de muita qualidade e bem organizadas do outro lado da fronteira, e com as quais podemos aprender muito», sublinha. Mas nem só de teatro vai viver o TMG nos primeiros meses de 2006. Apesar da redução das transferências da Câmara, compensadas com o apoio máximo do POC, a direcção quer consolidar o projecto com propostas e projectos de qualidade, alguns dos quais desenvolvidos em parceria com as principais salas portuguesas, como a Fundação Serralves e o Centro Cultural de Belém, entre outros. Música, cinema, dança, fado e ópera são algumas das iniciativas agendadas, para além de “Inside Out”, um projecto invulgar a levar a cabo pelo actor José Neves com os jovens do Colégio do Mondego.
Luis Martins