Esta semana, recebi o seguinte desafio: “Os utópicos comem Nestum. Está aqui o título, falta escrever o texto”. Normalmente, não reajo a desafios porque incluem correr ou comer hortaliças, mas, desta vez, como é um desafio aliciante que não envolve sacrifícios de maior, decidi aceitar.
As utopias, como os leitores sabem, são cenas mirabolantes de loucas que gostaríamos muito que acontecessem, mas acabam por ser impossíveis de realizar. Para exemplificar, imagine-se que Portugal era governado por pessoas que eram competentes em vez de serem socialistas. Pronto, isto é uma utopia. Só para ser ter uma ideia de quão irrealizável é tal coisa notemos apenas que mais depressa o filho da Putina iria a Kyiv render-se do que as raízes do socialismo deixariam os nossos solos. Os utópicos são aqueles que imaginam esses mundos belos livres dos tentáculos do partido que nos governa e para sempre nos governará. No entanto, sabemos que um mundo sem guerra é possível. Mas um mundo sem Costa não.
É por isso que os utópicos comem cereais com leite. De tanto ranger os dentes com a inexequibilidade das utopias, a dentição desgasta-se e encontrar um dentista no SNS (Saúde Nacional Socialista) é mais difícil do que encontrar um tanque russo em boas condições. Nessa utopia, toda a picanha seria tenra, nenhuma cara teria máscara e eu seria engraçado. Sonhando acordado com estas impossibilidades utópicas, adormeço reconfortado com uma tacinha de papa, mesmo sabendo que usei a inflação como desculpa para não comer vegetais. Na minha utopia, a hortaliça seria grátis, mas mesmo assim não me convencia.
Numa outra utopia, a de Moscovo, o presidente filho da Putina ficou agastado ao saber de um tipo, também ele utópico, que andava pelas ruas a apregoar a paz. Imediatamente, mandou a polícia encontrar e apanhar esse perigoso agitador, chamado Jesus Cristo.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia