48 anos depois e o 25 de Abril mantém viva a chama da liberdade para que os cravos possam continuar vermelhos. Lembrar 1974 é reviver o princípio da tal revolução que tarda em chegar.
Liberdade, fraternidade, igualdade serão, apenas e tão só, um punhado de palavras bonitas, de sonhos não concretizados, servindo de forma refletiva para perceber a realidade do nosso quotidiano.
48 anos depois, em pleno século XXI, não podemos ficar indiferentes ao que se passa à nossa volta, acomodados a um prazer histórico de reflexões, recordações e datas. Devemos, isso sim, continuar a correr riscos, ter o bom senso de inovar, construir utopias, pois algo se está a perder: princípios, valores e convicções.
Somos testemunhas permanentes do desencanto, dos jogos de poder, dos vícios, do cinismo, onde a falta de frontalidade, de firmeza e decisão é substituída por palavras líricas, dialogantes, seguidas de medidas teatrais e melodramáticas. É talvez por isso que quem tem o poder esquece a sua verdadeira missão. Os aplausos constantes embrutecem o espírito e empobrecem a alma.
Se é verdade que o sonho não valoriza a parte material da vida, já o revés da medalha faz questão de aplicar, única e exclusivamente, os cifrões frios do capitalismo, gerando as conhecidas desigualdades, que nem as mais aperfeiçoadas leis conseguem superar. Pasme-se, até entre homens e mulheres.
48 anos depois do 25 de Abril somamos diferenças substanciais, o que faz com que Portugal seja ultrapassado por vários países do antigo bloco de leste e até por inúmeros países do continente africano com PIB’s muito superiores ao nosso. Acresce ainda a existência de quase dois milhões de pobres, dois milhões do salário mínimo, dois milhões da reforma mínima e uma classe média altamente contestada, que aguenta tudo isto, neste oásis de contrastes onde alguns banqueiros, muitos empresários e inúmeros políticos vão enchendo os bolsos e arredondando a pança.
48 anos depois do 25 de Abril verifica-se qua a política está recheada de novos protagonistas, que de política velha, podre e bolorenta, vão desbobinando argumentos premiáveis aos mais incautos, entoando um velhinho hino salazarento do lá vamos cantando e rindo. O poder já tem dose suficiente de cinismo e hipocrisia neste crescente processo de falência social que, durante todos estes anos, apenas soube criar miséria e opulência num jogo conspurcado e deveras imoral de apoio aos mesmos de sempre.
Neste 25 de Abril, todos ou quase todos iremos comemorar. Uns por convicção, outros por comportamento “soft” do politicamente correto, ainda outros por necessidade de afirmação e finalmente os barataristas capitalistas, obrigacionistas na defesa do tacho. A estes últimos, o poeta dedicou-lhes a seguinte quadra: “Cravo vermelho ao peito/A todos fica bem/Sobretudo dá jeito/A certos filhos da mãe”.
Festejar Abril, neste cantinho de quase nove séculos, é estar atento, desperto e interessado a tudo aquilo que nos rodeia, defendendo a Liberdade e políticas consistentes protegendo quem se esforça, labuta, poupa, constrói e mantém viva a chame de uma sociedade mais livre, mais justa e mais fraterna.
A juntar a tudo isto resta-nos continuar a acreditar na poesia, no verdadeiro significado do cravo rubro. Cravo esse que continua a ter vida, cor, pensamento, motivação e dar relevo ao mais belo que se encontra em cada um de nós.
Seja qual for o presidente, o governo, o parlamento, o partido ou a associação, o grito ecoará contra a guerra, contra a intolerância, contra a incompreensão, contra a injustiça: 25 de Abril, Sempre.
25 de Abril – Do sonho à realidade
“Liberdade, fraternidade, igualdade serão, apenas e tão só, um punhado de palavras bonitas, de sonhos não concretizados, servindo de forma refletiva para perceber a realidade do nosso quotidiano.”