Sociedade

Álvaro Amaro «confiante e desiludido» com candidatura

Alvaro
Escrito por Efigénia Marques

Ex-autarca guardense lamentou falta de mobilização em torno da Guarda 2027 e ausência de referências ao CEI, ao ensino superior da região e a Eduardo Lourenço

Um misto de confiança e desilusão, é assim que Álvaro Amaro fala da candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura em 2027. O antigo presidente da Câmara esteve na apresentação do dossier, na semana passada, no TMG, a convite da autarquia, e não escondeu algum descontentamento.
«Gostava que nestes dois anos e tal tivesse sido um projeto polarizador, mobilizador, não apenas da sociedade cultural, mas da sociedade no seu todo. Queria ter visto o auditório do TMG todo cheio, mas tenho que confessar que foi o meu primeiro embate negativo», disse a O INTERIOR. Considerado o “pai” da candidatura – que lançou em 2018 –, o agora eurodeputado diz esperar que este sentimento «não tenha qualquer significado» e que «tenha sido um projeto mobilizador, que tenha abraçado a sociedade. Eu queria sentir-me nesse abraço, com plena convicção de que a Guarda já ganhou qualquer coisa. Queria estar convencido em absoluto ao dizer que a Guarda já ganhou».
Sobre a apresentação do dossier, o social-democrata fala em «conceitos magníficos em termos de formulação teórica, como o reforço da questão do interior, que me é muito querida, e uma ideia nova que achei deliciosa: a “metrópole do interior”. Acho que este conceito teórico é a simbiose perfeita daquilo que sempre defendi, que é uma cultura mais elitista combinada com uma cultura de cariz mais popular, porque quem vive no interior tem de fruir os bens culturais de que os habitantes das grandes cidades disfrutam, e isso está lá visível no dossier». No entanto, a dose de desilusão referida pelo ex-autarca tem a ver com o facto de não ter ouvido qualquer referência ao ensino superior da região. «O Instituto Politécnico tem de estar muito valorizado e temos uma Universidade da Beira Interior e uma Universidade de Salamanca, com a qual já trabalhávamos a candidatura, por isso é que fomos falar com eles», recordou.
Álvaro Amaro queria também ver evidenciado – «eu não o vi, como gostava de ver» – «a riqueza do interior, ou seja, dar substância a um conceito bonito da metrópole do interior… Dar-lhe substância através de aspetos em que podemos e devemos dar cartas, porque a riqueza da interioridade é a diferenciação. É tão rico um bom espetáculo de ballet como fazer-se uma boa refeição na panela de ferro, na lareira da aldeia, isto é culturalmente rico», considerou o antigo edil guardense. «Estranho» foi também não ter ouvido qualquer referência ao Simpósio Internacional de Arte Contemporânea, que, «durante um mês, traz à Guarda e à região dezenas de artistas, da literatura à escultura. Não há uma referência? Eu não vi».
Outra nota negativa sublinhada pelo agora eurodeputado foi o facto de não ter ouvido qualquer destaque ao Centro de Estudos Ibéricos. «É claro que não podemos ter a Universidade de Coimbra, como temos no CEI, porque Coimbra também é candidata, mas temos Salamanca. Espero que esteja aqui também uma componente reforçada de um projeto que, sendo territorial e culturalmente rico, um território importante, não apenas para termos os tais 200 e tal mil habitantes, que sendo importante não é o suficiente», considerou.
Álvaro Amaro deixou ainda mais uma nota negativa, salvaguardando que ainda não leu totalmente o dossier: «Uma candidatura a Capital Europeia da Cultura tem que assentar também na riqueza das artes, das letras, da cultura em geral e nós temos um dos maiores expoentes nacionais e internacionais: Eduardo Lourenço. Por tudo o que ele nos fez e nos deu, espero que esteja muito bem refletido no dossier e que seja muito bem transmitido a quem vai decidir o futuro da candidatura», sublinhou.

 

Carlos Gomes

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Efigénia Marques

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