A onda de solidariedade gerada pela guerra na Ucrânia tem-se multiplicado um pouco por todo o país. Desde o envio de bens de primeira necessidade à disponibilização de autocarros para ir buscar refugiados, as autarquias, empresas e cidadãos anónimos têm deitado mãos à obra para apoiar os refugiados.
Na Guarda, o município disponibilizou um autocarro que partiu no passado sábado em direção à capital polaca, Varsóvia, para ir buscar 47 pessoas. Segundo a autarquia, o veículo foi previamente carregado com bens essenciais, como cobertores e produtos farmacêuticos, e levou quatro motoristas, dois tradutores, um médico e uma enfermeira. Esta ação é realizada em articulação com a Secretaria de Estado da Internacionalização, gabinete titulado por Eurico Brilhante Dias, e a chegada dos refugiados está prevista para esta semana. Entretanto a iniciativa privada também se mostra cada vez mais solidária e pronta a ajudar, como é o caso da empresa de transportes internacionais “Just in Time”, na Guarda, que já disponibilizou nas próprias instalações dois quartos para alojar temporariamente refugiados ucranianos. Segundo Miguel Saraiva, CEO da transportadora, existem também duas parcerias com clientes da empresa, «em que fazermos o transporte de ajuda humanitária para a Ucrânia». Na opinião do empresário, «toda a gente está empenhada em ajudar um país em guerra».
Também a Câmara de Seia, em articulação com as freguesias e outros parceiros locais, está a colaborar na operação de auxílio ao povo ucraniano. O presidente do município, Luciano Ribeiro, adiantou, em comunicado enviado a O INTERIOR, que a autarquia tem interesse em acolher de imediato 20 famílias ucranianas, disponibilidade já manifestada ao Alto Comissariado para as Migrações. Para tal, estão a ser criadas bases de alojamento em edifícios públicos e privados. Em articulação com o Solar do Mimo será criada no concelho uma instituição de acolhimento de crianças e jovens em risco. E para inserir os refugiados na sociedade e no mercado de trabalho, a autarquia senense tenciona criar ainda uma bolsa de emprego, em articulação com o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), e disponibilizar um curso de português para estrangeiros na Biblioteca Municipal. A par destas iniciativas, continuam as doações de kits de higiene, primeiros socorros e medicamentos, como complemento a outras iniciativas em curso desde o início do conflito.
Já o município da Covilhã lançou a “Missão de Acolhimento Covilhã – Ucrânia”, um programa de acolhimento de refugiados e de apoio necessário à receção e integração de cidadãos ucranianos. A autarquia tem neste momento 150 camas disponíveis «para receber refugiados, entre diversas tipologias, que vão desde apartamentos camarários até Alojamento Local e residências», adianta o município. Por outro lado, foi criada uma bolsa de emprego, que conta já com cerca de 100 postos de trabalho nas mais diversas áreas, como linhas de produção industrial, construção civil, assistentes operacionais, engenheiros, serventes, operacionais e arquitetos. «Para além da questão humanitária e solidária, os territórios de baixa densidade como os nossos, onde faltam pessoas e mão-de-obra, poderão ter aqui uma oportunidade não só de ajudar, mas também a de serem ajudados por um povo que foge da guerra e que é, maioritariamente, qualificado e trabalhador», afirma Vítor Pereira, edil covilhanense.
Empresas da Guarda abrem 245 vagas para refugiados
O NERGA – Associação Empresarial da Região da Guarda contactou com cerca de mil empresas, através de um questionário, para avaliar a disponibilidade de abertura de vagas de emprego para refugiados vindos da Ucrânia para a região.
Até esta segunda-feira, cerca de 55 empresas já tinham respondido ao inquérito, sendo que existe um total de 245 vagas estimadas. A informação foi dada a O INTERIOR pelo presidente do NERGA, Orlando Faísca, segundo o qual «a nossa intenção é reforçar esta ação junto das empresas para que respondam o maior número possível e para conseguirmos depois agilizar com as entidades, com a Câmara da Guarda, os demais municípios e o Ministério do Trabalho, para que consigamos trazer as famílias, de uma forma pacífica, tranquila, com todas as condições acauteladas de forma antecipada».
O dirigente empresarial acrescentou que as vagas apontadas são para profissões que vulgarmente são realizadas por homens, «mas também existem para mulheres, desde a parte da restauração, empregadas das limpezas, e outras áreas em que é possível essa incorporação», pois «a expectativa é que os homens possam juntar-se depois ao agregado familiar que já irá estar na nossa região».
Catarina Reino