Comtes de fades

“Caro leitor, se foi adepto dos confinamentos radicais, no próximo domingo, fique em casa. Se ainda acha horrível ver pessoas em espaços públicos, no próximo domingo, fique em casa.”

De acordo com informações obtidas junto de fontes relativamente credíveis, nomeadamente os meus olhos, os meus ouvidos e a minha memória, e observações efectuadas em sítios tão dispersos como a televisão e a rua, as “pessoas de esquerda” foram as que mais aplaudiram confinamentos forçados, vacinações obrigatórias e segregações compulsivas durante esta pandemia.
Noto, sem ironia, que muitas das “pessoas de esquerda” que rasgaram as vestes em defesa da Ciência são as mesmas que defenderam a homeopatia e outras curas como sendo equivalentes à medicina ocidental, que grande parte de quem se exaltou contra os cépticos das vacinas eram os mesmos que antes sugeriam as vantagens de ervas indígenas sobre os produtos farmacêuticos, por estes serem produtos do capitalismo, e que tantos dos que exultaram o confinamento domiciliário se afirmavam, antes de 2020, os grandes defensores da liberdade contra a opressão do sistema estatal. Quando terminar esta pandemia, veremos quanto tempo durará este enlevo com os positivismos.
Com o crescimento explosivo do número de pessoas infectadas e o perigo que representam ajuntamentos, julgo que as pessoas deveriam ser coerentes com o que sempre defenderam desde Março de 2020. Aos que sempre concordaram com todas as medidas propostas pelo Governo do PS e aprovadas a 100% pelo Bloco de Esquerda, sugiro que no próximo domingo sigam as indicações que aguerridamente quiseram obrigar um país inteiro a aceitar.
Caro leitor, se foi adepto dos confinamentos radicais, no próximo domingo, fique em casa. Se ainda acha horrível ver pessoas em espaços públicos, no próximo domingo, fique em casa. Se acha que as pessoas infectadas com Covid-19 são os novos leprosos, no próximo domingo, fique em casa. Se quer salvar o SNS e achatar a curva de novas infecções, no próximo domingo, fique em casa. Por si, pelos outros, fique em casa. Nesse caso, mesmo que não fique tudo bem, talvez fique bem melhor.

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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