Os novos negacionistas

Escrito por Diogo Cabrita

“Os novos segregacionistas não acreditam na ciência com que colaboram, não perdem o medo depois de terem feito tudo para enfrentar o bicho ruim.”

Vacinaram-se três vezes, lavam-se a cada 30 minutos, esfregam-se com álcool, usam mais que uma máscara, vivem atormentados com o bicho apesar disto tudo. Os novos negacionistas não acreditam na ciência. Vacinaram os filhos a quem exigem máscara, não visitam amigos, querem multas aos anti, querem penalização aos que duvidam da ciência, mas eles, os que fazem tudo, cumprem as normas, seguem as recomendações, continuam como no primeiro dia ouvindo deprimidos Paulo Portas, ouvindo em êxtase o Rodrigo Guedes de Carvalho e sucumbidos com a gravidade da doença que não levou nenhum dos seus amigos ou parentes. Não acreditam em tudo o que fizeram. Os negacionistas de 2022 estão protegidos, mas odeiam o que pensam diferente, detestam o campeão tenista, condenam os não vacinados, exultam quando uma não vacinada tomba – há festa na TV, há momento pornográfico de divulgação do nome, da cidadania, há alegria e felicidade. Ontem era uma grávida – todos excitados, senti orgasmos em comentadores. Os novos segregacionistas não acreditam na ciência com que colaboram, não perdem o medo depois de terem feito tudo para enfrentar o bicho ruim. A vacina deles afinal não os protege, não lhes dá conforto, a vacina não liberta os seus filhos, a máscara tem de se manter mesmo depois da próxima dose e da seguinte. Não acreditam que os meninos não morreram do bicho apesar de estarem nos dados da Direção-Geral. Há um novo negacionismo que aumenta – o dos crentes que têm medo de não ser verdade a ciência em que sonharam acreditar. Nada retira o medo da próxima variante, também desta omicron, do vento onde voam os sars, dos jornais onde pousam os perdigotos infetados. Esta gente sofre. Esta gente está em negação dos seus remédios e escuta os padres construtores da pirâmide do medo.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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