Entrevista

«O objetivo é aumentar o salário médio nos próximos quatro anos»

Dsc 8658
Escrito por Efigénia Marques

Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social

P – A sua relação com o distrito da Guarda passa pela sua avó, por Foz Côa, que memórias guarda da sua infância, das suas visitas a Foz Côa?
R – A minha mãe nasceu em Vila Nova de Foz Côa e mantive sempre uma relação muito umbilical, emocional, com Foz Côa desde logo porque a minha mãe saiu de lá muito nova. Era a filha mais nova de cinco irmãos que se mudaram todos, como muitas famílias nos anos 50, à procura de melhores condições de vida no litoral. Desde que me lembro que temos o hábito de regressar às origens, porque o resto da família ficou por Foz Côa, e recriar as tradições que estiveram presentes na nossa vida comum, como as cantigas. Mantive sempre uma relação regular, principalmente com o meu avô, ia, por exemplo, buscar as amêndoas.

P – O que recorda da infância em Foz Côa?
R – Lembro-me de um acolhimento muitíssimo caloroso da família quando voltávamos, de terem sempre as portas escancaradas à nossa espera, para contar as histórias que tinham acontecido na família. Tinham sempre uma mesa pronta para nos receber, com um grande sorriso, lembro-me também da forma como partiam as amêndoas na rua para as preparar para a venda. São muitas memórias associadas à minha mãe, que faleceu há 11 anos, foi, talvez, o pior momento da minha vida, mas, esta ligação a Foz Côa é permanente, de presença com a minha mãe.

P – A sua mãe era a ponte com a região, com o seu falecimento manteve essa relação?
R – Não era só a minha mãe, porque toda a parte da família da minha mãe manteve essa relação com Foz Côa, principalmente os meus quatro tios – infelizmente só já me sobra um, mas ele continua a ser uma grande ponte com Foz Côa. Estive lá na semana passada e disseram-me que continuam a lembrar-se do meu tio Belmiro porque jogava futebol e era uma pessoa muito ativa no desporto. Liguei-lhe logo e ele ficou muito contente do amigo se lembrar. Todos os irmãos acabaram por ir para Torres Vedras e fizeram lá vida, mas acabaram por ter uma ligação emocional, forte e permanente com a família de Foz Côa, que fez sempre parte dos nossos agregados permanentes. Estas ligações familiares que temos aqui na região são ligações que nos marcam a todos e que nunca se cortam.

P – Até ao dia em que regressa na qualidade de secretária de Estado do Turismo e abraça de novo a região, como se de cá nunca tivesse saído, embora nunca cá tenha vivido.
R – Não voltei só como secretária de Estado, mantive sempre esta ligação e fui voltando, ao longo dos tempos, para estar com a família. Naturalmente que, enquanto secretária de Estado do Turismo, procurei assumir esta ligação ao interior como uma grande missão para colocar o interior de Portugal na centralidade do mapa. Assumi isso na altura por sentir que é preciso ter uma visão, um olhar diferente e colocar as prioridades do interior nos centros de decisão. Fi-lo também devido às minhas prioridades e considerar que o posicionamento de Portugal passava muito por conseguirmos diferenciar-nos de outros destinos pela nossa autenticidade, pela capacidade de sermos um destino com natureza e diversidade concentrada muito rica. O interior tem uma oportunidade enorme do ponto de vista de posicionamento, esse foi, aliás, o gancho que utilizei como forma de posicionar Portugal e penso que com resultados evidentes. Enquanto secretária de Estado procurei desenvolver programas específicos, dedicados ao interior, como, por exemplo, o Programa Valorizar, em que criei uma linha só para desenvolvimento de produtos turísticos do interior, no fundo para acelerar a oferta turística do ponto de vista de estruturação da própria oferta. Lancei também ações e programas dedicados à ação turística no interior, coisa que não existia antes, mais uma vez procurando colocar os olhos no território, dando força do ponto de vista da capacidade de ação política. Confesso que assumi isso muito como o legado da minha mãe, cuja família teve que sair daqui por falta de oportunidades, de trabalho.

P – Sente-se como corresponsável pelo desenvolvimento e nova forma de gestão da Fundação Côa Parque?
R – Sinto-me corresponsável e orgulhosa, acima de tudo, porque mostrámos que era possível um caminho diferente daquele que parecia inevitável e que muitos aventavam para o museu. Na altura o cenário era muito negro e mostrámos que é possível desconstruir fatalidades – este é o meu lema. Tenho que aqui focar a grande capacidade de mudança introduzida pelo Bruno Navarro, que contribuiu, por um lado, para a recuperação financeira e de gestão da fundação, mas também para lhe dar mais visibilidade.

P – Como natural de Foz Côa, como se sente por ter um concelho com dois Patrimónios da Humanidade?
R – É de uma riqueza brutal, que todos começámos a valorizar de forma diferente. Foz Côa tem desde logo a sua riqueza natural, patrimonial, evidente, tem dimensão histórica e também o Douro como enorme oportunidade. Aliás, também já o assumimos e defendemos que é fundamental garantir a linha de comboio do Pocinho a Barca D’Alva…

P – Acredita na reabertura da linha?
R – Não tenho dúvidas nenhumas que tem de ser aberta, a questão é como o fazemos e é esse estudo que está a ser feito. Mas é uma prioridade e é mesmo fundamental. Dito isto, estava a tentar fazer a ponte entre o passado, as riquezas e o património mundial e as propostas do presente e do futuro. Significa que nós não vivemos de património inexplorado e temos de tirar proveito do património que temos, saber posicioná-lo e internacionalizá-lo, também foi isso que procurei fazer, como secretária de Estado do Turismo e como ministra do Trabalho, procurando cada vez mais colocar e posicionar internacionalmente esta centralidade ibérica como destino turístico e os ativos extraordinários que temos.

P – Olhando para o mapa do Ministério da Cultura, o museu do Côa é o único complexo com apoio direto do Orçamento de Estado. Enquanto ministra originária do interior não acha lamentável que assim seja?
R – Tudo fiz para garantir que o Museu do Côa não fechava e para que passasse a ter uma dimensão de gestão que olhava para a necessidade de se posicionar internacionalmente. Bruno Navarro foi exímio e extraordinário nisso porque percebeu exatamente que há ali duas grandes dimensões que temos de aproveitar. O património não vive sozinho, nem sem o conseguirmos aproveitar, temos é de o transformar num ativo de atração de turistas, basta ver a evolução que o museu tem tido no posicionamento internacional. Foi claramente por isso que o Turismo de Portugal entrou como acionista da Fundação Côa Parque, foi uma medida excecional por considerarmos que era preciso haver uma alavanca diferente, criando mais conteúdos, como tem acontecido, ou também com o apoio para o passadiço de ligação ao rio.

P – Está otimista em relação à região?
R – Se não estivesse não estava aqui a fazer nada. Não só estou otimista como estou comprometida e acredito imenso em tudo aquilo que podemos dar e puxar pelo distrito da Guarda. Temos 14 concelhos e muito a fazer por eles porque o distrito deve ganhar dimensão e escala ao nível de capacidade de influência – é isso que tenho procurado fazer, mas também ao nível da sua centralidade na Península Ibérica com o Porto Seco, que é uma oportunidade imensa para que isso aconteça. A minha missão e luta tem sido essa. É também um tributo que devo à minha mãe, estou a cumpri-lo porque lhe devo tudo o que tenho na vida.

P – O que falta fazer?
R – Falta sempre fazer muito porque a localização geográfica, por si, não chega. É preciso garantir que ela se transforme num ativo através da garantia de mobilidade fácil e acessível. Com este governo PS garantimos que a linha da Beira Baixa chegue à Guarda, fizemos a concordância das linhas da Beira Alta e Beira Baixa, lançámos o Porto Seco, que passou de sonho a realidade ao fim de 20 anos, acho que é isto que precisamos. Mas ainda falta fazer muito, temos muito pela frente e não temos tempo, temos de concretizar e acelerar as nossas prioridades. Em relação ao Porto Seco, neste momento falta uma capacidade de gestão integrada do projeto aproveitando todas as oportunidades que tem. O Porto Seco acaba por ser um instrumento que alavanca um conjunto de oportunidades, nomeadamente de atração de investimento, de recursos humanos e de jovens para aqui trabalharem. O que precisamos neste momento é foco e capacidade de concretização para aproveitar estas oportunidades. Sempre que vou à Olano tenho presente aquele mapa que têm exposto, que mostra exatamente o que significa esta localização estratégica da Guarda, que está exatamente no sítio certo para fazer a ligação ao litoral e a Paris. Já há empresas a aproveitar, agora podemos é transformar isto numa grande âncora de desenvolvimento, nomeadamente a partir do momento em que há o estatuto de Porto Seco ligado ao porto de Leixões.

P – E faltam pessoas…
R – Sim, todo o Portugal precisa de pessoas. É dos desafios maiores que temos, pois a demografia é mesmo um problema europeu, pelo que temos de ter políticas ativas muito fortes.

P – Disse recentemente que o Estado teria de procurar e facilitar o caminho burocrático para os emigrantes, o que tem sido feito nesse sentido?
R – Temos de trabalhar a três níveis. Um, garantir que as pessoas que temos cá sejam resposta à procura de recursos humanos das nossas empresas, alinhando a formação com as necessidades do mercado e reconvertendo-as para as áreas que são precisas. Tive uma reunião numa empresa muito conhecida e fundamental para a Guarda, em que estivemos a trabalhar para ver se conseguimos reconverter pessoas para a área dos transportes, pois há uma falta enorme de motoristas. Estamos a apostar no Porto Seco e temos de ter capacidade para ter motoristas ou mecânicos, por exemplo. É preciso fazer uma ligação maior entre necessidades de mercado e de formação, de reconversão de pessoas que já estão empregadas ou desempregados. Lançámos em plena pandemia um programa, e esta tem sido a grande exigência dos últimos dois anos, para termos medidas estruturais para responder aos desafios que temos pela frente. Este programa conta com a participação do IPG e o que fizemos foi trabalhar com empresas tecnológicas que identificaram perfis e competências que precisavam e trabalhadores muito concretos. Em conjunto com politécnicos, universidades, o IEFP e as empresas tecnológicas, foram definidos currículos de curta duração com componentes de sala de aula e de estágio em que o IEFP assegura o custo de reconversão destas pessoas e uma bolsa. O programa foi lançado em 2020 e no primeiro ano tivemos empresas tecnológicas a dizer que necessitavam de 200 pessoas, que conseguimos. Nesta segunda edição as empresas ficaram a necessitar de 1.000 pessoas com estes perfis. Qual é a grande vantagem deste programa? É um compromisso entre o Estado, os politécnicos e universidades que organizam a reconversão, as empresas tecnológicas e os trabalhadores. No final é assinado um compromisso com as empresas que ficam com 80 por cento dos participantes que têm aproveitamento e logo com contrato permanente de trabalho, não precário, com um valor de salário predefinido. Nas tecnológicas o assumido foi de contratarem com um salário de 1.200 euros e é o que estamos a fazer, a reconverter e a valorizar as pessoas do ponto de vista do salário. E se olharmos para a taxa de desemprego é a mais baixa desde 2001. Na crise anterior, de 2011 a 2015, chegámos a taxas de desemprego de 18 por cento, durante a pandemia, com os apoios à manutenção de emprego e à contratação, conseguimos coletivamente, com os esforços de todos, manter a taxa de desemprego abaixo da média europeia. Em 2015, quando o Governo do PS iniciou a sua missão, a taxa de desemprego ultrapassava os 12 por cento, neste momento está em 6,4 por cento e no último trimestre era de 6,1 por cento depois de uma pandemia.

P – Contudo, os jovens qualificados continuam a emigrar…
R – Desta vez ninguém andou a convidar jovens para emigrar, como foi feito noutros tempos, pelo contrário, o que temos feito é tentar criar programas para que quem imigrou regresse e, nomeadamente, com a discriminação positiva para regressar para territórios do interior e criar medidas para fixar os nossos jovens. Mais uma vez, são medidas que têm de ser transversais e é essa a nossa aposta porque passam pelas questões da saúde, habitação, emprego e salários. Ou seja, por trabalho digno, que tem sido a nossa aposta. Infelizmente não a conseguimos concretizar porque a Assembleia foi dissolvida…

P – As medidas estão a ser implementadas, estão no terreno, mas há jovens que não emigraram e estão a trabalhar em plataformas internacionais, o que tem uma consequência em termos de impostos, fiscalidade e Segurança Social.
R – Cada vez mais jovens, e ainda bem, trabalham de Portugal para o mundo e posicionamentos, nomeadamente do distrito da Guarda, que tem todas as condições para que isso aconteça cada vez mais. Dito isto, existe um mecanismo legal, já previsto, para que estes jovens descontem na Segurança Social em Portugal, muitas vezes não sabem como e aí temos de o transmitir de uma forma simples. Ainda há um trabalho imenso a fazer, até para ser mais fácil e intuitiva essa ligação à Segurança Social em Portugal. Foi agora ratificado um acordo com os países da CPLP, neste momento já temos Portugal, Cabo Verde e São Tomé, que permite esta mobilidade laboral, mas de forma enquadrada e sem criar perturbação social, porque é necessário garantir estes fluxos de imigração, mas em que as pessoas têm os seus direitos reconhecidos.

P – A Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela escolheu como grande desafio o 5G, em vez de apostar nas infraestruturas, como o Hospital, como muitos defendiam. Acha também que é esse o caminho?
R – É evidente que, hoje em dia, a Internet é um bem essencial. Territórios que não tenham Internet estão fora do mundo e posicionarmos o distrito da Guarda como centralidade, nomeadamente até para as questões do Porto Seco, é fundamental tanto o investimento como a cobertura. É como a água e a eletricidade básicas da nossa década.

P – Como tem sido governar em pandemia? Podemos dizer que tem sido uma grande aventura?
R – Tem sido uma aventura enorme e uma grande reinvenção permanente. Tem sido um desafio enorme, imenso, em que temos procurado permanentemente que esta missão de serviço se transforme de facto numa resposta real para as pessoas.

P – Quais foram os momentos mais complicados destes quase dois anos?
R – Digo sempre que nestes dois anos passaram 100 anos sobre a minha vida, sinto mesmo que envelheci dois anos, mas aprendi muito, acho que todos nós nos reinventámos nas nossas funções. Tive momentos muito críticos, desde logo no início da pandemia, em que a necessidade de antecipação de problemas era tão grande que me convenci de que estava a viver uma Guerra Mundial, e em ambiente de guerra temos todos de mobilizar o que for preciso. Acho que aprendemos todos com esta pandemia, mostrou que podemos fazer melhor do que fazíamos antes, mostrou também como a burocracia não acrescenta valor nenhum. Foi extraordinária a quantidade de situações que consegui resolver através de telefonemas, de contactos de pessoas no terreno, que passavam a operacionalizar e a responder sem necessidades de hierarquias e de circuitos de carinhos, que não acrescentam valor nenhum. Um exemplo concreto, tínhamos criado uma medida excecional durante a pandemia para garantir a abertura de equipamentos sociais para dar resposta quando era preciso criar locais de retaguarda sem que tivessem algum tipo de licença especial para o efeito. Com essa medida transitória percebemos que, afinal, estávamos a exigir coisas que não faziam sentido nenhum e, portanto, eliminámos o duplo licenciamento dos equipamentos sociais, alteração que foi publicada a 31 de dezembro. A pandemia mostrou as fragilidades a que temos de responder com mais rapidez em termos de investimentos estruturais, seja no combate às desigualdades, no investimento, nas qualificações, seja também nas respostas à demografia. É evidente que temos também de ter mais capacidade de resposta ao envelhecimento. Tive momentos difíceis no início, quando a televisão nos mostrava que, por exemplo, em Itália ou em Espanha as pessoas estavam a ser encontradas em lares completamente abandonadas. De repente percebi como montarmos aqui o esquema para que isto não aconteça.

P – E não aconteceu…
R – Não, e temos de estar todos muitíssimo orgulhosos, acima de tudo, os que têm estado na linha da frente, quem trabalha no setor social, que têm sido extraordinários e têm mostrado como o modelo do setor social em Portugal é único, em que há uma mobilização conjunta do Estado e da sociedade civil para responder às necessidades. E isso é extraordinário, acho que nos deu uma legitimidade social acrescida para mudar o que tem de ser mudado, nomeadamente no combate à precariedade – os trabalhadores precários foram os primeiros a ser dispensados, a ficar desprotegidos na pandemia. Mostra como temos de corresponder nas respostas ao combate ao envelhecimento com novas soluções de apoio aos idosos para que se mantenham autónomos e independentes ao longo da vida utilizando as tecnologias. Mas também na nossa capacidade de acelerarmos investimentos estruturais com esta pressão do tempo. A pandemia mostrou-nos que não temos tempo e que temos mesmo que acelerar para garantir que estamos a dar ao nosso país aquilo que é preciso.

P – Quando foi nomeada ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, porventura uma das primeiras intervenções públicas foi precisamente na entrega do Prémio Eduardo Lourenço, aqui na Guarda. Na altura ainda era secretária de Estado do Turismo, mas já toda a gente sabia da sua nomeação como ministra, e recordo nomeadamente a ideia de que era alguém a ocupar uma pasta relevante, mas não determinante na ação governativa. Com a chegada da pandemia, Ana Mendes Godinho não foi apenas a sucessora do quase mítico Vieira da Silva, mas passou a ser a ministra que teve de estar sempre presente e a correr pelo país…
R – Diria mesmo que tem sido um espírito de missão e entrega total, com a sensação de que estamos a viver os momentos de maior responsabilidade das nossas vidas, e procurando nunca esquecer-me de que estava a trabalhar em três dimensões: da emergência, de quem precisava de uma resposta; da
necessidade de transformação, porque essa também era a minha missão; do trabalho em simultâneo de imprimir ritmo e aceleração, procurando também, cada vez mais, criar esta cultura da confiança. Apostei muito nisso, nomeadamente no setor social, de quebrar barreiras, muros, e a pandemia deu-nos mais uma vez uma grande lição, que é perceber que é mesmo possível conseguirmos melhores resultados.

P – Há vários apoios, há o excecional à família, há o “lay-off” simplificado para bares e discotecas, há o apoio ao rendimento dos trabalhadores, porque não se estende também o apoio, por exemplo, à redução das atividades dos trabalhadores independentes e dos sócios-gerentes, que é um velho problema e que levámos praticamente dois anos a sentir que é um assunto difícil de resolver?
R – O apoio aos trabalhadores independentes e aos sócios-gerentesaplica-se, tal como se aplica o “lay-off” simplificado, no mesmo conceito, ou seja, para as atividades encerradas ou suspensas por ordem sanitária, aplica-se como o “lay-off” simplificado, portanto não há dúvida nenhuma que se aplica. Aquilo que se fez além disso foi aplicar esses apoios a estas atividades que estão suspensas por efeitos da pandemia. Em relação às outras medidas, procurámos direcioná-las em cada momento, em função das realidades concretas. Atualmente, o apoio à família está ativo em função da necessidade de se terem adiado o início das aulas. Também o apoio extraordinário ao rendimento dos trabalhadores serve exatamente para garantir que quem ficou sem rendimento e tem uma perda grande de faturação beneficia de um apoio adicional. O que temos feito é tentar mobilizar medidas em função também das características específicas de cada uma das situações e da sua aplicação no terreno. A pandemia revelou a quantidade de pessoas que estão socialmente desprotegidas, portanto, é para elas que tentámos criar formas de não o ficarem completamente.

P – Acredita nisso? Que será possível “empurrar” o salário médio através do aumento do salário mínimo?
R – Acredito que o aumento do salário mínimo tem um impacto positivo, não só nas famílias, mas também na economia, porque também isso é gerador de mais consumo. Aliás, em 2015, quando foi anunciado que íamos aumentar o salário mínimo, levantaram-se várias vozes sobre o que isto ia causar de perturbação e de aumento do desemprego. Ainda bem que mostrámos aomundo, somos, aliás, exemplo, de que aconteceu precisamente o contrário.
Com o aumento do salário mínimo conseguimos baixar a taxa de desemprego, neste momento para metade do que tínhamos em 2015. As remunerações médias aumentaram, mas não aumentaram o mesmo que o salário mínimo. O salário mínimo aumentou 40 por cento desde 2015, mais 200 euros, o que é muitíssimo importante. Qualquer trabalhador que recebia 505 euros, em janeiro de 2022 passa a receber 705 euros e temos o objetivo de chegar a 900 euros em 2026.

P – Mas tem noção que o salário médio não tem crescido como o salário mínimo?
R – Sim, o salário médio tem crescido menos do que o salário mínimo nacional, mas este último resulta de um ato do governo, após auscultação dos parceiros sociais. O nosso objetivo e o nosso compromisso é apostar muito na valorização dos salários médios e aumentar o salário médio nos próximos quatro anos. E vamos fazê-lo, basicamente, aumentando em 20 por cento o salário médio, subindo também o peso das remunerações no PIB. Isto significa que o peso do trabalho no PIB nacional ganha valor à semelhança da média europeia. O que queremos é atingir a média da União Europeia, o que significa que temos de aumentar em três pontos percentuais o peso daquilo que os salários representam no PIB nacional. O objetivo é fazê-lo através de um acordo global de competitividade, produtividade e rendimentos, o que implicará necessariamente a adoção de certas medidas interligadas para que as empresas produzam mais e sejam mais competitivas para conseguirem valorizar mais e aumentarem os salários dos seus trabalhadores.

P – Até agora temos falado essencialmente do Ministério do Trabalho, mas Ana Mendes Godinho também é candidata à Assembleia da República nas legislativas de 30 de janeiro. Não é nessa qualidade que a entrevistamos, mas não podíamos deixar de aproveitar para recordar que, enquanto candidata em 2019, prometeu que a segunda fase do hospital da Guarda avançaria num mandato. Foi um compromisso que assumiu publicamente e repetiu-o mais do que uma vez. O que foi feito entretanto?
R – Não só assumi como cumpri, com a frustração desta legislatura estar a meio e de, por consequência, não termos tido a capacidade de conseguir implementar todas as medidas. Em relação ao Hospital da Guarda, aquilo que se fez foi garantir o processo para o avanço do pavilhão 5, para a adjudicação da obra, dos projetos ao concurso público, passando pelo financiamento para garantir a sua concretização, portanto, penso que teremos todas as condições para que a obra avance…

P – Mas em 2019 comprometeu-se que nesta legislatura o pavilhão 5 estaria requalificado. É verdade que esta legislatura foi interrompida, mas acha que ia ser possível fazer o que falta em dois anos?
R – Esta legislatura não só ficou a meio como levou com uma pandemia brutal pelo caminho. Mas, apesar disso, penso que conseguimos não abrandar…

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P – No Parque da Saúde há também o problema dos pavilhões Dona Amélia e D. António de Lencastre, que estão a cair. Também defende a sua requalificação?
R – É evidente que têm de ser recuperados. É um património extraordinário que a Guarda tem, histórico e visionário que mostra bem como na altura se identificou a Guarda como destino de saúde. Não me vou comprometer em dois anos, precisamos de um Governo para quatro anos e é por issomesmo que precisamos de estabilidade. É difícil estar de dois em dois anos a ter processos eleitorais, por isso precisamos de estabilidade para garantir também que implementamos e concretizamos as várias dimensões e investimentos estruturais.

P – O presidente do Politécnico da Guarda, na abertura do ano académico, garantiu a construção de raiz, da Escola Superior de Saúde, no campus. Abraça essa ideia?
R – Não me vou comprometer com esse projeto. Confesso que a minha prioridade têm sido o hospital e o Porto Seco. No hospital, em termos de recursos humanos, temos um saldo positivo entre 2015 e 2019. Temos mais 41 médicos, mais 14 por cento, e temos mais 181 enfermeiros, mais 29 por cento. Há pouco tempo foi divulgado o ingresso de internos a nível nacional e para a Guarda vieram 61 internos. Aqui há também um potencial ao encontrar meios para fixar estes profissionais de saúde no interior, acho que é um dos desafios maiores que temos e para o qual também temos de trabalhar.

P – Herdou o problema Hotel Turismo enquanto secretária de Estado, entretanto o Hotel continua encerrado…
R – O Turismo foi uma das áreas mais afetadas durante a pandemia, por isso a prioridade tem sido apoiar também as empresas com programas muito específicos para garantir que elas se mantêm e que conseguem ultrapassar esta fase. A minha prioridade também tem sido a atração de investimento para a Guarda, focando muito nas áreas que conseguem ter uma dinâmica maior, como é o caso da logística e do Porto Seco. Em relação ao Hotel Turismo, ao contrário do que aconteceu praticamente em todo o país, infelizmente na Guarda foi um dos únicos concursos do REVIVE onde não houve investidores, por isso foi prolongado o prazo. A capacidade de captação de investimentos depende da capacidade de dinamismo das autarquias, mas também confio que com esta nova composição da Câmara haja uma maior capacidade para atrair dinamismo e investidores. O prazo está a decorrer, sei de alguns investidores que vieram visitar o hotel este mês, mas veremos. Caso não aconteça, temos de ter um plano B e acredito que a Guarda vai aproveitar, como as outras autarquias aproveitaram, o programa REVIVE.

P – Se o PS vencer estas eleições, e mantiver a pasta de que atualmente é responsável, a Secretaria de Estado da Ação Social vai continuar na Guarda?
R – Não posso assumir compromissos em nomes de terceiros, o que posso dizer é que defenderei sempre até ao limite a minha missão, que é acreditar que é mesmo preciso ter olhos no terreno e tenho feito por isso, não só através da minha presença aqui, que, volto a dizer, é uma presença que a mim me dá o oxigénio e inspiração que preciso para manter esta aceleração que é também o meu sintoma de vida. Acho que a Guarda tem ganho com isso, mas acima de tudo eu tenho ganho com isso, pelo que só posso agradecer este oxigénio permanente que me dão e esta luta que assumi como missão de vida ativa de cidadã que acredita imenso que o país é um só, não há um país do litoral e um país do interior.

 

Luís Baptista-Martins

Sobre o autor

Efigénia Marques

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