A maioria das viaturas que circulam na A23, auto-estrada da Beira Interior, fazem-no fora dos limites de velocidade legalmente impostos pelo Código da Estrada. Segundo a concessionária da via, a Scutvias, os veículos ligeiros de mercadorias são os principais culpados pelo excesso de velocidade, uma vez que 95 por cento dos condutores dos vulgarmente designados por “dois lugares” circulam acima dos 110 quilómetros por hora. Para contrariar esta tendência, o director-geral da Scutvias considera necessária uma «maior cultura de fiscalização».
De acordo com a empresa, os ligeiros comerciais são assim os grandes contribuintes para que a média de veículos a circular com excesso de velocidade na A23 seja de 80 por cento. Gil Conde, director-geral da Scutvias, explica que «em todos os lanços» há contagem e classificação dos veículos, bem como «medições de velocidade», daí que no final de cada dia seja encontrada a média de circulação. A média diária de utilização da A23 é de cerca de 10 mil utentes, mas nem todos os lanços registam o mesmo fluxo de trânsito. Assim, a zona de Abrantes é a que regista a maior circulação diária (20 mil veículos), seguida de Castelo Branco (15 mil), Fundão (14 mil) e Covilhã (10 mil). No sentido contrário, a zona da Guarda tem menor movimento, registando qualquer coisa como cinco a seis mil veículos diários. Contudo, «em regra, as pessoas não cumprem os 120 quilómetros por hora», sendo que a maior parte dos infractores são os condutores dos comerciais ligeiros que circulam «constantemente acima dos 110 km/hora», denuncia o engenheiro, sublinhando que esta categoria de veículos «faz subir a média geral» no total. De resto, Gil Conde realça que «os grandes acidentes que acontecem nas auto-estradas» têm em, muitos casos, aquele tipo de veículos como intervenientes, uma vez que «são carros que não têm estabilidade e peso para aguentar as velocidades que atingem», reforça.
Questionado sobre as medidas a tomar para evitar que a circulação em excesso de velocidade na A23 seja prática comum, o administrador da Scutvias considera haver um «problema de filosofia do controlo de actuações». Neste sentido, pensa que a solução «não passa por mais fiscalização» ao longo da A23, mas antes «por fazer cumprir a lei» de forma mais apertada e rigorosa. «Tem que haver a cultura de que o Código da Estrada é para ser cumprido e por isso, quando as autoridades detectam um condutor que não está a cumprir devem actuar. Não é multarem um dia e no outro não», critica. É que «fez-se um esforço enorme para alterar o Código da Estrada e depois vemos, por todo o lado, que as autoridades competentes não fiscalizam o cumprimento da lei. Ou seja, aleatoriamente, as pessoas são apanhadas quando não estão a cumprir e depois perguntam porque é que foram apanhadas e as outras que também infringiram não o foram», sublinha. É assim «necessária uma cultura de fiscalização», uma vez que as leis foram feitas para serem «cumpridas», insiste. Por outro lado, os portugueses praticam habitualmente uma «condução agressiva», quando deviam praticar uma «condução defensiva», considera.
Ricardo Cordeiro