«Porque não vemos as coisas como elas são: vemos as coisas como somos…» (Anaïs Nin)
Não sei se a minha geração é a mais egoísta da história, mas estará indiscutivelmente entre as maiores!
A realidade demonstra que a nossa geração é a primeira na história da humanidade que vai legar aos nossos filhos uma situação pior do que a que nós vivemos, e a ironia triste de tudo isto é que a gente que sobrevem é a mais bem preparada de todas.
Esta constatação não é minha, tem sido um dado progressivamente adquirido um pouco num contexto global, havendo as naturais exceções que confirmam a regra! Na Europa e no mundo desenvolvido, e em grande parte do espaço de subdesenvolvimento, assistimos a este fenómeno que nos deveria preocupar.
Em Portugal, a geração que nos precedeu viveu momentos dolorosos como a guerra colonial, o recurso à emigração forçada e à limitação da liberdade individual e coletiva. Foi essa geração que lutou e conquistou a liberdade com o 25 de Abril de 1974. Ainda beneficiou de alguns direitos que conquistou, como a gratuidade dos serviços de saúde, uma escolaridade obrigatória para os seus filhos, direito ao voto, direitos cívicos e a uma reforma melhorada, mas irrelevante. Foi uma geração de sacrifício, que proporcionou à nossa uma situação que em circunstância alguma podemos legar aos nossos filhos.
Enquanto hoje fomos tendo um emprego para a vida, a única coisa que oferecemos aos que vêm a seguir é a precaridade, salários menos compensadores e falta de perspetivas de ter uma reforma proporcional à qualidade das suas aptidões, indiscutivelmente melhores do que as da nossa geração.
Posso parecer pessimista ou catastrofista, mas de facto a pressão do capitalismo, a desregulação do trabalho e a cada vez maior distanciação da geração mais nova em relação à política e aos sindicatos, deixam-me assustado perante o quadro que se depara para o futuro.
Legámos uma sociedade de muito egoísmo, de excessiva falta de solidariedade em torno de valores com o receio que nos fossem tirados por outros algumas migalhas, que teriam sido importantes na construção de uma perene consciência coletiva.
A nossa classe média passou a média de classe porque olha sempre para o seu umbigo egoísta e desatento.
A nova geração não se revê, e faz muito bem, nos estereótipos com que a minha geração se entretém. Já não ligam ao “mascarar” uma parte significativa da ideologia do jacobinismo, do integralismo, do marxismo, do republicanismo, da social-democracia e de muitos fenómenos políticos passadistas. Tem novas propostas e felizmente vamos vendo essa geração em manifestações com motivações de temas em que a nossa geração não pensou, mas que são importantes num futuro num mundo global.
Muitas propostas desta geração dos nossos filhos parecem-nos pueris, mas a preparação técnica e científica dá-lhes alavancas novas para as transformarem em dinâmicas interessantes, que já não viverei o suficiente para ver na sua plenitude.
Felizmente esta geração que nós desconstruímos não adere à extrema-direita acéfala, como cada vez se interessa menos pelo envelhecimento das propostas dos partidos convencionais e algumas ideologias a precisarem de rever chavões e marketing fora de prazo.
«O passado é já bastante. Vamos passar ao futuro» (Ary dos Santos)