Num mundo de aparências e conclusões imediatas, a exploração da imagem vai muito para além das mil palavras da praxe. O que, à partida, fundeia logo dois problemas: obstaculiza a que as possíveis interpretações da mensagem sejam, criteriosamente, dissecadas e normaliza realidades alternativas. Não fora por isso, e a cada reivindicação retorquiríamos com a pergunta “e isso é bom para quem?”, a cada crítica perguntaríamos “e isso é mau porquê?”, em vez de, sem mais, anuir com aquilo tudo. Até porque, quer queiramos, quer não, há em quase todas as anuências mais de preguiça do que de intenção. Porquanto só por preguiça coletiva nos depararemos com acérrimos defensores dos direitos de toda a gente, em geral, e dos cães e dos gatos, em particular, a vociferar contra os direitos de alguns, em especial. Claro que depois dá nisto, de termos uns humanoides que, ao domingo, têm muita pena dos pobrezinhos e, durante a semana, ostracizam os pobres. Às vezes, confundem-se todos e trocam o calendário do pranto com o do ostracismo, mas nem será por mal. Geralmente, segundo os próprios, é por culpa dos outros e deste tal mundo de aparências e conclusões precipitadas. O que nos leva à conclusão de que os maus e mentirosos, e esses assim, nem existem. O que existe é este mundo e os culpados de tudo, que nunca somos nós e muito menos a nossa preguiça. Felizmente, só a morte não tem solução e todas estas vicissitudes são reversíveis.
Pelo menos terá sido o que aconteceu por estes dias, quando, depois de muitas voltas à volta do Sol, alguns dos que costumam gostar de convencer os outros através de imagens efémeras, sempre mais metafóricas do que lineais, como que num ato de contrição, decidiram inverter-lhes a anterior perspetiva. Tal qual aqueles bonecos gordalhuços que nunca caem, estes sempre-em-pé costumam morrer de velhos. O que também não é mau, porque, vivendo muito, sempre têm tempo para se redimir dos disparates que anteriormente promoveram. Por isso, quando aparece quem nos tenha tentado induzir a reverter toda a alternância e a iniciar novo processo, deve ser motivo de regozijo para a espécie. A humana, entenda-se. Nem será preciso confrontar ninguém com as suas inconsistências, basta que não esqueçamos da sua habilidade para as produzir e multiplicar, que já não faremos pouco, no que ao combate à “culpa é dos outros” diz respeito. Por isso, por exemplo, quando alguém que já achou que a génese de todas as nossas desgraças estava na quantidade de idosos e nos “altos” salários, que desembocavam em “altas” reformas, agora conclui que afinal poderá estar na falta de gente e que a falta de gente se poderá dever aos baixos salários e, também, aos que emigraram, mesmo tendo eles apoiado quem mandou fazê-lo, devemos congratular-nos. Pois esta nova abordagem revela já alguma evolução de pensamento, renovando-nos a esperança na humanidade, mesmo neste mundo de aparências e conclusões precipitadas. Convém é não esquecer que ao sempre-em-pé costuma dar-lhe para rodar e tombar para onde os ventos soprarem.