Aí temos as eleições autárquicas, este ano sem corrermos o risco de ver caravanas, febras, coiratos, vinho mau e prometimentos a esmo em espaços públicos. Eu, que até sou candidato, estou safo de um conjunto de situações a que só forçosamente teria que anuir.
Há nestas alturas uma situação que nos concelhos pequenos assume foros de autêntico escândalo, e tem a ver com a dispensa dos empregos de todos os “listados” dos partidos, ou forças de “independentes” no período da campanha eleitoral.
Sempre defendi que os cidadãos devem participar ativamente na atividade política quotidiana, melhor deviam ser intervenientes continuados na gestão da coisa pública. O seu cada vez maior alheamento e a desconfiança para com os políticos têm levado ao paulatino degradar da democracia e, consequentemente, ao aparecimento de pessoas cada vez menos qualificadas nos órgãos de decisão nas autarquias, nos serviços gerais e desconcentrados da administração central e nos órgãos de soberania legislativo. Uma coisa é a defesa da intervenção permanente dos cidadãos, outra é a obrigatoriedade de dispensa durante quinze dias de um conjunto de pessoas que estão nas listas, e que na totalidade do país são uns milhares.
Há muitos anos que se pede que seja alterada a legislação, para que as pessoas não tirem estas “férias”, a coberto de uma campanha que a maioria não faz. Em concelhos pequenos, muita gente acaba por entregar a justificação de que é candidato ao empregador, e parte para um período de descanso, deixando muitas vezes os problemas para os colegas, já que é difícil substituir gente por quinze dias. Se na administração pública esta situação causa embaraço, mas poucos se importam, já na atividade privada vai sobrecarregar os trabalhadores que ficam, e aumentar o pagamento de horas extraordinárias a gente que fica desmotivada e profundamente revoltada com uma situação que ninguém criou. Urge resolver isto pois quem anda na política deve fazê-lo por convicções e voluntaria-se para participar em eleições, desprecisando deste tipo de benefícios, que repito, são aviltantes para a economia local e nacional.
Para que conste isto não é nada contra o sistema democrático ou contra as eleições. Isto é só e apenas uma forma de melhorar algumas regras que se tem revelado injustas, e que possibilitam muito oportunismo já que há gente que só é candidata por causa desses quinze dias e nem põe os pés nas campanhas. Como em tudo paga “o justo pelo pecador”.
Quanto às listas de “independentes” que vão surgindo, só passaram a sê-lo quando os militantes dos partidos ou as direções concelhias, distritais ou nacionais não contaram com eles para os lugares que almejavam há uns tempos. Há exceções, mas a regra tem sido esta ao longo da vida democrática do País. A democracia partidária, faz-se com partidos, porque doutra forma deixaria de o ser, e teria que ter outro quadro legislativo que salvaguardasse o envolvimento de cidadãos como independentes. Assim é uma “salada russa” onde nem se consegue saber quem financia as tais listas de “independentes”, o que pretendem de facto e acima de tudo porque desconfiam dos partidos, ou melhor terão começado a desconfiar quando começaram a ser preteridos a favor de outrem. Continua a dizer que nada tenho contra a participação das pessoas em listas de “independentes”, mas quero é que digam claramente que vão lá por qualquer razão de ordem pessoal, afagar egos e nunca pelo “amor á terra”, porque isso é mesmo a gargalhada geral no quotidiano da política!
O título desta crónica “gamei-o” ao saudoso Eduardo Lourenço!
“Existo, logo penso!”
O seu cada vez maior alheamento e a desconfiança para com os políticos têm levado ao paulatino degradar da democracia