Os resultados dos Censos 2021 mostram que o velho ditado é teimoso e que está parcialmente certo. Portugal está em falência demográfica e o interior de Portugal caminha para um desastre ainda maior. Só não vê quem não quer e é pena que só se fale nesta sangria de 10 em 10 anos. Na última década o país perdeu 214.000 pessoas. Se não fossem os imigrantes teria perdido mais de 400.000, quase duas vezes e meia a população dos 14 concelhos do distrito da Guarda.
A quebra, que se vem evidenciando há muito tempo, foi talvez a mais profunda dos últimos 150 anos e nem a década de 70, em que se verificou o maior pico da emigração portuguesa, teve paralelo. Não obstante o aumento significativo da esperança média de vida, todos os anos morrem mais pessoas do que nascem e todos os anos a nossa população está mais envelhecida, com cada vez menos mulheres em idade fértil. Tudo isto com a agravante de que exportamos gente aparentemente mais qualificada do que aquela que importamos, num saldo económico, social e cultural que nos empobrece ainda mais. A Guarda encolheu em 10 anos cerca de 10% dos seus habitantes, numa passada que ou é travada ou representa uma exterminação total em menos de um século.
É este o brutal cenário que a ninguém surpreende, muito menos a mim, que ando desde 2009 a ler, a pensar e a escrever sobre ele. Uma coisa é certa: o fenómeno não é só nacional, já é estrutural e tem causas variadas. Mas o que inquieta é que não há sinais de que se esteja a fazer algo para que as famílias portuguesas queiram ter mais filhos. É certo que ninguém procria por decreto e poucos se deixam seduzir pelos apoios anémicos que algumas autarquias (honra lhes seja feita), com esforço e imaginação, vão desenhando e oferecendo a quem queira perpetuar os seus genes. Mas é também certo que as políticas de natalidade são indigentes e não têm produzido frutos. Os níveis salariais do país são fracos e estão cada vez mais na cauda da Europa, abaixo de quase todos aqueles que até há pouco tempo estavam bem atrás de nós. A verdadeira conciliação entre a vida familiar e a vida profissional ainda é uma miragem e só com uma outra exigência cívica, educacional (e até legal) pode ser posta em prática.
Os governos, este em especial, assobiam para o lado e nem sequer sabem o que hão de fazer com o tema, que ninguém no seu seio trata ou estuda. Com este irresponsável alheamento, vamos vivendo abúlicos e só a pensar no dia seguinte. O país vai emagrecendo e há partes substanciais que já não resistem ao raquitismo. Todo o interior do país perdeu muita gente (Odemira foi uma honrosa exceção, graças à invasão daqueles desvalidos imigrantes que trabalham na agricultura intensiva dos frutos vermelhos!!!) e, como era de prever, a tendência para a litoralização do povoamento e para a sua concentração nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto – e também Braga –, confirmou o adágio de que “o resto é mesmo paisagem”.
Há duas matérias que se entrecruzam e que são estruturantes para o futuro de uma Nação – a demografia e a coesão territorial –, mas que as políticas públicas desprezam sem que quem nos governa se importe com a emergente pressão dos sistemas de saúde e da segurança social, com o abandono da agricultura e da pecuária e com o desordenamento latente do território. O diagnóstico está feito há muito tempo e as medidas a adotar são mais que conhecidas. É apenas preciso vontade política, investimento e, acima de tudo, sentido de estado para as implementar. Infelizmente, nada disso se encontra no atual elenco governativo e é assim, sem sobressalto, que o país vai minguando e castigando as próximas gerações.
Deputado do PSD na Assembleia da República eleito pelo círculo da Guarda