Sociedade

Urgências da Guarda com «constrangimentos» nos próximos dias

Dsc 0736
Escrito por Luís Martins

Hospital Sousa Martins não tem escalados médicos de medicina interna no feriado e até domingo em consequência da indisponibilidade para trabalho extraordinário acima das 150 horas
já realizadas

Nunca a palavra urgência teve tanto significado nos serviços de saúde do país. Na Guarda, como noutros hospitais, há mesmo uma luta contra o tempo para minimizar o impacto da recusa de, pelo menos, 15 médicos terem entregue minutas de indisponibilidade para trabalho extraordinário acima de 150 horas já realizadas, o limite estabelecido para o ano, nas Urgências do Hospital Sousa Martins.
A tarefa tem sido assumida pela diretora clínica, Fátima Cabral, que tem vindo a contactar os clínicos para que, caso a caso, possam assumir escalas. Fonte da administração da Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda não adianta se as abordagens têm tido êxito, garante apenas «na terça-feira não houve problemas, os constrangimentos vão sentir-se no feriado e no fim de semana. O resto está coberto, por enquanto, mas é um problema com o qual estamos a lidar dia-a-dia», sublinhou a mesma fonte autorizada. O INTERIOR não conseguiu contactar Fátima Cabral até ao fecho desta edição, mas numa resposta escrita à agência Lusa a responsável adiantou estarem a ser feitos «esforços para colmatar as falhas nas escalas» e admitiu a possibilidade de recorrer a médicos em prestação de serviço.
O certo é que, para já, as Urgências guardenses não terão especialistas de medicina interna escalados entre esta quinta-feira e o fim de semana. Antevendo estes problemas, a ULS já pediu à população «a maior compreensão e que recorra sempre que possível aos serviços disponibilizados pelos centros de saúde da área de residência». Numa nota à comunicação é ainda referido que o serviço de Urgência do Sousa Martins «vai estar aberto 24 horas», mas confirma-se que, «devido ao constrangimento causado pela indisponibilidade apresentada pelos médicos, o funcionamento será condicionado nos feriados e fins-de-semana» durante este mês de outubro. É a consequência de um movimento nacional sem precedentes por parte da classe, que está a afetar vários hospitais.
Em setembro, um grupo de clínicos enviou ao ministro da Saúde uma carta aberta com mais de 1.000 assinaturas de médicos a avisar da sua indisponibilidade para fazerem mais horas extras. Desde então, segundo o movimento “Médicos em Luta”, a indisponibilidade dos especialistas já provocou «problemas na elaboração da escala das Urgências» em pelo menos 21 hospitais, nomeadamente Viana do Castelo, Garcia da Orta (Almada), Bragança, Barreiro, Guarda, Viseu, Santarém, Braga, Matosinhos, Leiria, Aveiro, Caldas e Torres Vedras, Portimão e Santa Maria (Lisboa). Por cá, Sérgio Costa, autarca guardense, apelou ao «sentido de responsabilidade» de todos os intervenientes neste braço-de-ferro e pediu «tréguas e diálogo» a médicos e tutela «em nome da saúde dos cidadãos». «Façam o favor de dialogar e encontrem formas de convergência. Façam tréguas nas lutas. Pensem nos nossos cidadãos sobretudo nesta região, que tão envelhecida que está e com pessoas a necessitar de cuidados de saúde», sublinha o edil independente, acrescentando que compreende a «legitimidade de quem reivindica».
Entretanto, o ministro da Saúde afirmou na segunda-feira que as Urgências só funcionaram nos últimos 44 anos porque os médicos aceitaram fazer um número muito elevado de horas extraordinárias. «Desde que o Serviço Nacional de Saúde existe, as urgências hospitalares funcionaram sempre na base da boa vontade dos médicos que aceitavam fazer horas extraordinárias em quantidades muito significativas e desse ponto de vista não há nenhuma mudança», declarou Manuel Pizarro, em Matosinhos. O governante insistiu na necessidade de «manter o diálogo» e disse querer fazê-lo «na expetativa de que, apesar das dificuldades», que afirmou «não ignorar», e da «insatisfação» dos médicos que vê todos os dias, seja possível «assegurar que as Urgências continuem a operar porque elas são essenciais para garantir a saúde dos portugueses».

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