Sociedade

Ser Conde da Guarda «é uma responsabilidade» para Pedro Lancastre

Escrito por Sofia Craveiro

Pedro Ribeiro Ferreira de Lancastre é o sexto Conde da Guarda. À semelhança dos seus antepassados, não nasceu no distrito, nem possui neste momento ligações familiares à região, mas quer honrar a herança. «Para mim é, acima de tudo, uma responsabilidade», afirma o atual Conde, que pretende contrariar a conjuntura e contribuir para o desenvolvimento da região.

A família dos Condes da Guarda viveu, no século XIX, num palácio no Largo de Arroios, em Lisboa hoje denominado Rua de Arroios. Atualmente pouco se sabe da história do imóvel, não sendo possível apurar quem o adquiriu, mas trata-se do local eternizado na célebre gravura “A Sopa de Arroios”, aberta em 1813 por Gregório Francisco de Queirós com base num desenho de Domingos António, que retrata o local onde era dada a refeição diária aos foragidos da terceira Invasão Francesa que vieram para Portugal.
Esta ação de generosidade é, para Pedro Lancastre, a grande herança do título. «No passado, quando os títulos eram concedidos eram atribuídas terras e estatuto. Eu – talvez por me considerar um conde “moderno” – não procuro status, procuro o bem social», afirma o atual Conde da Guarda.

E é esta a razão que o traz à Guarda. Pedro Lancastre diz querer contrariar a tendência da família, de afastamento da região, e para isso pretende contribuir ativamente para causas sociais que possam ser desenvolvidas no distrito. Atualmente, o sexto Conde da linhagem trabalha na vertente de consultoria informática. «Tenho uma vida muito internacional», razão que explica a necessidade de viver em Lisboa. Apesar disso, tem planos para usar o peso da herança a favor da região. O título que detém dá nome a um prato emblemático da cozinha tradicional portuguesa, o “Bacalhau à Conde da Guarda”, que faz tenção de utilizar para benefício da comunidade. «A minha ideia é fazer um concurso baseado neste prato, em que os restaurantes aqui da zona fazem a sua interpretação e depois é eleito um vencedor», adianta Pedro Lancastre, para quem esta seria uma forma solidária de organizar um almoço, no domingo de Páscoa, dirigido às famílias carenciadas da comunidade.


Este concurso seria, idealmente, organizado em parceria com a Diocese e a Cáritas. A intervenção social não é uma novidade para Pedro Lancastre, que, em conjunto com a sua esposa, detém o Museu das Crianças, integrado no Jardim Zoológico em Lisboa. Este espaço tem como objetivo ensinar aos mais pequenos temas relevantes de forma divertida e lúdica. Além desta ação, o Conde da Guarda ingressou na vida política pela primeira vez nas últimas legislativas ao integrar a lista do partido Iniciativa Liberal pelo círculo da Guarda. «Encontrei na política uma forma de me aproximar da Guarda», confessa, acrescentando que nessa altura, «quanto tentei estudar um pouco distrito, fiquei um pouco preocupado com a situação atual de desertificação». Questionado sobre a continuação da vida política no distrito onde concorreu, Pedro Lancastre afirma que poderá vir a considerar essa hipótese, «mas apenas se achar que posso dar um bom contributo, caso contrário haverá pessoas mais competentes que eu para desempenhar esse papel».

Até lá, Pedro Lancastre assume ter-se questionado «se faria sentido eu ajudar a Guarda sem compreender de facto quais são os seus problemas estruturantes, por isso, a resposta que encontrei é que preciso de descobrir quais são». Essa é uma das razões para esta primeira ação de solidariedade que pretende organizar, que, além de contribuir para a comunidade, «é também uma forma de conhecer as pessoas, o distrito e a sociedade», confirma.

A linhagem que deu origem ao título

O título que Pedro Lancastre detém atualmente foi oficializado por certificado datado de 3 de novembro de 2015, emitido pelo Instituto da Nobreza Portuguesa – sucessor do extinto Conselho de Nobreza.
Foi herdado do seu avô, D. Pedro Calheiros de Lancastre – quarto Conde da Guarda – que, em 1959, o recebeu após a morte da tia, a Condessa D. Maria Luísa de Oliveira de Almeida Calheiros e Meneses, que não tinha descendência. Este era o nome de família do homem a quem originalmente foi concedido o título de prestígio por D. Pedro V, em 1869, e daí se explicam as diferenças nos apelidos dos sucessores. As informações biográficas sobre o primeiro Conde da Guarda, Luís de Oliveira de Almeida Calheiros e Meneses, são escassas. Sabe-se apenas – através de um estudo feito por uma empresa especializada – que o título foi atribuído por feitos militares. Segundo conta Pedro Lancastre, «o padrasto [de D. Luís] era da Guarda e a mãe tinha algumas terras aqui, razão pela qual eu penso que lhe tenha sido atribuída a denominação».

Sobre o autor

Sofia Craveiro

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