Sociedade

Recolha de bens na Guarda a favor da Ucrânia superou as expetativas

Img 1227
Escrito por Efigénia Marques

Onda de solidariedade no distrito fez com que fossem reunidos milhares de bens essenciais

A guerra na Ucrânia gerou uma onda de solidariedade um pouco por todo o país e a Guarda não foi exceção. Uma recolha de bens essenciais foi organizada no domingo e segunda-feira para ajudar os cidadãos ucranianos que permanecem no país.
A iniciativa partiu da vontade coletiva de alguns imigrantes radicados em Portugal, caso de Ruslana Roman, a coordenadora da ação na cidade mais alta: «Aquilo que podemos fazer é ajudar desta forma, foi a única maneira que tivemos de ajudar e também pretendemos apoiar alguns refugiados que queiram vir para a Guarda», disse a O INTERIOR. O camião que saiu da Guarda trouxe alimentos e roupa de Viseu e passou também pela Covilhã. «No início começámos a receber tudo o que as pessoas nos deram, depois é que começámos a ver que o camião tinha que parar em três sítios diferentes e por isso temos de mandar as coisas mais urgentes primeiro, como os medicamentos e a comida», referiu a responsável.
A ajuda chegou tão rapidamente (em apenas dois dias) e de forma tão arrebatadora que Ruslana Roman teve de parar de aceitar donativos. Conseguiram rapidamente encher dois pisos de uma garagem com roupas, mantimentos, comida, produtos de higiene e até mesmo brinquedos. «As pessoas mostraram-se logo muito disponíveis para entregar bens, tivemos muita afluência, tanto que neste momento não estamos a aceitar mais nada porque, felizmente, entregaram mesmo muita coisa», acrescenta a coordenadora que vive na Guarda há cerca de 20 anos. O camião partiu esta quarta-feira e é conduzido por dois ucranianos voluntários. Mykhaylo Machyshyn é um desses condutores. Está a viver em Portugal neste momento, tendo trabalhado em Espanha, e tem a filha e a mãe em Lviv, cidade ucraniana próxima da fronteira com a Polónia. «Os meus familiares estão a precisar muito de ajuda. Elas estão numa das zonas mais calmas por enquanto, onde não tem havido tantos bombardeamentos», afirmou.
Na Guarda, a recolha foi feita no Café Lumiar, próximo do Colégio de S. José, e rapidamente chegou ajuda vinda de todos os concelhos do distrito. A ação contou ainda com o envolvimento da Caritas e da Veritas. A O INTERIOR, Ana Lopes, que veio acompanhada da filha, assumiu que «todos nos devemos por na pele dos nossos irmãos ucranianos porque não sabemos as consequências que esta guerra pode ter na nossa vida e foi isso que me motivou – daí ter vindo com a minha filha, para lhe mostrar que temos que nos ajudar uns aos outros, pois a guerra não é só lá, está no mundo e está aqui». Dentro das principais coisas que doou estão mantimentos, roupas de criança e roupas de adulto. Outro guardense que respondeu ao apelo considerou ser «obrigação de todos contribuir, mesmo que seja com pouca coisa. Eu trouxe roupa, mas já me informei e vou trazer mais alguns enlatados». Outra doadora afirmou que «todos devemos ser solidários» e que «o que lhes aconteceu não se justifica». Esta guardense entregou roupa, calçado, fraldas, cremes para bebé e produtos de higiene, principalmente para crianças.
Mas a solidariedade não se ficou pela recolha de bens. O Instituto Politécnico da Guarda (IPG) mostrou-se disponível para «receber, acolher e integrar» refugiados ucranianos nas suas quatro escolas. O presidente do Politécnico, revelou ter já comunicado essa disponibilidade à ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, e irá fazê-lo também ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e ao Ministério dos Negócios Estrangeiros. Segundo Joaquim Brigas, «assistimos nestes dias à maior agressão que um país europeu sofreu desde a II Guerra Mundial: a Ucrânia, que é um país democrático, e os ucranianos merecem-nos, por isso, toda a solidariedade». Nesse sentido, o IPG disponibiliza-se «a receber nos seus cursos estudantes ucranianos que queiram prosseguir os seus estudos, assim como também considera contratar professores ou investigadores que se tenham visto forçados a abandonar a Ucrânia devido à invasão da Rússia».

A impotência de estar a quilómetros de distância

Olena Sokolovska é natural da zona Oeste da Ucrânia e está na Guarda há mais de duas décadas, desde 2001, mas os acontecimentos no país de origem obrigam esta professora do Conservatório de Música da S. José da Guarda a ter uma atenção especial sobre o que se passa «dia a dia» na terra natal e no país ucraniano.
«É muito difícil, muito complicado. O meu espírito é ucraniano, eu sou ucraniana, apesar de Portugal já ser a minha casa, ainda tenho alguns amigos lá e é muito difícil estar longe e não conseguir ajudar. A única coisa que posso fazer é dar apoio psicológico e espiritual, mandar mensagem de força», disse Olena Sokolovska a O INTERIOR. A professora de violino e viola d’arco acrescenta que esta guerra «não é de agora e quem acaba por sofrer com tudo isto é o povo ucraniano». Ruslana Roman também vive em Portugal há mais de 20 anos. É natural de Lviv, perto da fronteira com a Polónia, cidade onde ainda tem alguns familiares. «É até agora a zona mais calma e eles próprios estão a ajudar muitos refugiados que estão a fugir do Leste da Ucrânia e tem sido de facto muito difícil», disse a imigrante. «Tem sido muito complicado gerir o que está a acontecer. Nós queremos fazer qualquer coisa, ajudar, porque isto é realmente muito difícil, é um sentimento de impotência muito grande por estarmos longe da nossa terra», acrescentou.

 

Catarina Reino

Sobre o autor

Efigénia Marques

Leave a Reply