Covid-19 Sociedade

Pandemia gera onda de solidariedade

Escrito por Jornal O Interior

A pandemia de Covid-19, que obrigou os cidadãos ao isolamento social, gerou diversas iniciativas de entreajuda na região e por todo o país

A atual situação de restrição imposta em todo o país causou diversos constrangimentos no dia a dia das populações. Perante o perigo de contágio por Covid-19, e a necessidade de estar isolado em casa, muitas são as pessoas que se vêm numa situação de particular fragilidade. Os idosos são a faixa etária que mais perigos corre em caso de contágio, devendo por isso ter cuidados redobrados. Também pessoas com imunidade reduzida e grávidas estão em maior risco, além de indivíduos com problemas cardiovasculares, diabetes, dificuldades respiratórias, hipertensão ou cancro, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Perante este cenário de alerta e a necessidade de isolamento, multiplicam-se as atitudes de solidariedade na região.

A plataforma digital “Aqui Há Beira”, sediada na Covilhã, que habitualmente divulga eventos culturais e turísticos da região, está neste momento a trabalhar para criar uma rede de apoio para pessoas em situação de risco. O objetivo é “recrutar” voluntários que possam realizar tarefas que envolvam deslocações –idas ao supermercado ou à farmácia – criando pontos de contacto. «Nesta situação atual não fazia qualquer sentido continuar a promover o que costumamos promover», explica Elisa Bogalheiro, cofundadora e diretora-geral da plataforma. Assim, aproveitando o alcance que a plataforma já tem, a responsável decidiu «promover uma rede de solidariedade» que permita criar «uma ponte entre quem precisa de ajuda e quem está disponível para ajudar». Já foram contactadas pessoas conhecidas e entidades que possam ajudar a identificar os casos de risco, como Juntas de Freguesia, farmácias nas aldeias ou estabelecimentos «que habitualmente sabem onde estão as pessoas» que possam precisar de ajuda.

«A ideia é também conseguirmos que não seja necessário deslocar as pessoas para muito longe», para que os próprios voluntários não estejam demasiado expostos a riscos de contágio, adianta a Elisa Bogalheiro. A maior dificuldade que enfrenta neste momento «é sinalizar as pessoas que precisam dessa ajuda», pois, especialmente no caso dos idosos, a comunicação à distância torna-se mais difícil por não estarem presentes nas redes sociais. «Somos nós que temos de ir até eles e para isso temos de descobrir onde estão e saber quem são, e de construir uma rede de confiança», acrescenta Elsa Bogalheiro. A iniciativa arrancou na sexta-feira e já há cerca de 20 voluntários inscritos. Além da realização de tarefas também se pretende criar pontos de acompanhamento à distância para quem está em isolamento. «Uma chamada telefónica diária também pode fazer toda a diferença», acredita a responsável.

Outro exemplo de ação solidária veio da Clínica Veterinária da Covilhã, que colocou à disposição «alguns dos seus equipamentos» que podem ser utilizados em hospitais, como concentradores de oxigénio, monitores multiparamétricos e também ventiladores, cujos modelos mais recentes podem ser adaptados e utilizados por seres humanos. A iniciativa surgiu em resposta à solicitação da Ordem do Médicos.

Já Pensão Aliança, na Guarda, e a Quinta da Cheinha, em Pinhel, decidiram oferecer quartos gratuitos para os profissionais de saúde e das forças de segurança pernoitarem e descansar. «É a nossa humilde forma de ajudar», lê-se na página de Facebook da Pensão Aliança. Enquanto a Quinta da Cheinha disponibiliza sete, a Aliança oferece dois. Marco Rodrigues, responsável desta última unidade, afirma que o objetivo é oferecer alternativas e ajudar «quem trabalha em áreas mais expostas à contaminação e queira evitar o contacto com familiares» como forma de prevenção.

Para usufruir do quarto na Guarda é disponibilizado o número de telefone 271 222 235. «Já fomos contactados por uma enfermeira», revela o responsável. Já no caso da Quinta da Cheinha o número de telefone é o 917 501 468 e o email petiscopinhel@gmail.com.

A oferta de dormida sem custo foi também anunciada pela autarquia guardense. Este domingo a Câmara Municipal anunciou que vai disponibilizar dormitórios para os profissionais dos mesmo setores, «caso se justifique» com a evolução da pandemia do coronavírus. «Esta medida pretende prestar uma ajuda suplementar e relevante para estes profissionais, heróis em tempo de pandemia, por forma a terem espaço onde possam pernoitar sem que coloquem em causa a saúde dos seus filhos e familiares», refere a autarquia em comunicado enviado a O INTERIOR. O município adianta que estes dormitórios poderão, em caso de necessidade «ser adaptados para cidadãos infetados que estejam em recuperação» e não disponham de camas disponíveis. Numa outra vertente também a autarquia do Fundão se mostrou disponível para ajudar os munícipes, com a criação de uma linha telefónica especial para «garantir o fornecimento ao domicílio de bens essenciais de supermercado, medicamentos e outros». O alvo são pessoas com mais de 65 anos, necessidades especiais ou doença crónica comprovada, que podem ligar para o 961 382 115 ou 275 779 060.

Iniciativas informais são divulgadas através das redes sociais

As redes sociais são um importante meio de socialização, especialmente quando o contacto físico deve ser evitado. Assim surgiram diferentes grupos no Facebook onde se promovem de forma mais informal ações de solidariedade locais. Um destes casos surgiu a partir de Seia.
António Novais, que gere o grupo “Seia – a nossa cidade”, lançou o desafio aos seus concidadãos e propôs um modelo de formulário que pode ser impresso e colocado nas portas e entradas de prédios para recolher dados de quem precisa de ajuda. Este documento tem como finalidade informar os residentes sobre a possibilidade de pedirem ajuda para alguém ir a mercearias ou farmácias quando a saída do lar possa ser demasiado arriscada. A iniciativa cativou a delegação de Seia da Cruz Vermelha Portuguesa que se voluntariou para organizar a rede de voluntários e esclarecer dúvidas. Neste momento «são já uma dezena» os que se ofereceram para ajudar.
António Novais deu o primeiro passo, mas a O INTERIOR explica que a iniciativa mostra, «ao fim e ao cabo, um sentimento geral por parte da população». Além deste grupo, o senense criou ainda “Uma foto, uma cena em quarentena”, também no Facebook. Neste espaço os internautas partilham imagens sobre a clausura e incentivam-se mutuamente a respeitar as indicações da Direção-Geral da Saúde. O grupo já ultrapassou Seia e conta com mais de três mil membros, sendo «já internacional neste momento», refere António Novais.

Além da entreajuda multiplicam-se também as ações de homenagem. Uma, a nível nacional, de apoio aos profissionais de saúde, levou milhares de pessoas a bater palmas nas varandas às 22 horas de sábado. A região não foi exceção e, à hora marcada, muitos foram os que aplaudiram quem trabalha para salvar vidas. No dia seguinte foi o hino nacional que se ouviu pelas janelas dos domicílios.

Sofia Craveiro

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Jornal O Interior

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