A aldeia de Seixo Amarelo, na freguesia de Gonçalo, no concelho da Guarda, tem vindo a perder população de ano para ano. Os Censos de 2011 apontavam para a existência de 84 residentes, no entanto, atualmente não chegam a 50. Mas há agora uma nova esperança para que estes números se revertam com a chegada de dezenas de estrangeiros à localidade. A maioria destas pessoas foge da confusão e azáfama das grandes cidades europeias e procura a natureza e tranquilidade nas encostas da aldeia, a pouco mais de 20 minutos da cidade da Guarda.
Marcus e Maya Drummond são um casal inglês e decidiram «trocar a cidade pela natureza à procura de um verdadeiro sentido de comunidade», que dizem ter encontrado no Seixo Amarelo. Maya, que está grávida, sublinha que «há uma grande sensação de casa» na localidade e faz inveja com a «paisagem» que vê quando acorda. Atualmente os dois vivem numa caravana enquanto «reabilitam a casa» que compraram. O casal pretende focar-se depois em projetos relacionados com a natureza e a sustentabilidade, cultivar os «próprios alimentos» e «convidar pessoas a ficar aqui e mostrar-lhes que vivemos de forma sustentável, perto da natureza e da terra, mas também com conforto». Marcus e Maya tem-se preocupado com a «restauração da terra», principalmente depois dos «incêndios que passaram pelas encostas» do Seixo Amarelo, no Verão de 2022, e desejam criar uma «floresta, um bosque e espaços ao ar livre mais resilientes».
Ambos estão «gratos» por terem um bebé enquanto residem no Seixo Amarelo. «Acho que íamos ficar mais stressados a criar uma criança em Londres por causa da poluição e coisas assim, então sentimo-nos tranquilos por ter ar fresco, água boa e capacidade para cultivar alimentos…», realça a futura mãe a O INTERIOR, revelando que quando era jovem sempre imaginou «crescer na natureza e nas montanhas». Quando estava em Londres, o namorado, Marcus, trabalhava na conservação da natureza «a ensinar como cultivar alimentos». O casal adianta que conheceu a região guardense porque têm amigos no Fundão, com quem exploraram a zona da Serra da Estrela. «Eu queria morar perto de portugueses – e todos os nossos vizinhos mais próximos são de cá, o que ajuda, apesar de ainda estarmos a aprender a falar português», explica Marcus Drummond.
Os dois não sabem quanto tempo vão ficar na encosta do Seixo Amarelo. Dizem que «neste momento queremos estar aqui, mas ainda precisamos de algum tempo para nos instalarmos, entendermos melhor a situação sociodemográfica, a comunidade e a cultura», justifica Marcus. Certo é que, na aldeia, a companhia dos estrangeiros está a tornar-se rotina. A pouco mais de um quilómetro de distância do casal inglês vive o italiano Luca Dortoni com a namorada francesa. Luca veio de Milão, também para «fugir da cidade», e três anos depois de residir na região guardense «tem muitos sentimentos e confirmações dos motivos pelos quais me mudei para aqui». Juntamente com a companheira, Luca Dortoni acrescenta, com ironia, que escolheu vir para Portugal por considerar que se trata de um «terreno neutro entre França e Itália». «Há muito amor e ódio, muitas coisas que amo e muitas outras difíceis de digerir», refere, assumindo que no Seixo Amarelo gosta «da sensação de voltar a ser criança, os brinquedos mudam, mas divirto-me na maior parte dos meus dias a construir coisas».
Ocasionalmente DJ na Covilhã, este italiano considera «a burocracia» um dos aspetos negativos de viver na região. «É difícil e frustrante, mas é um problema comum a todas as sociedades com que já lidámos», tranquiliza, afirmando que tenciona ficar no Seixo Amarelo «por um tempo». Neste momento são mais de 30 os estrangeiros que se mudaram para a aldeia. Vêm da Holanda, Inglaterra, França, Itália, Israel e de outros pontos do globo, todos à procura de construir uma nova vida, de preferência perto da natureza e da tranquilidade.
Chegada de estrangeiros combate o «despovoamento» da aldeia
O Seixo Amarelo tornou-se uma anexa da freguesia de Gonçalo em 2013. Para Firmino Cairrão, último presidente da Junta de Freguesia, os cidadãos estrangeiros «têm bom gosto» por escolher estas encostas.
«Fartos das cidades estão eles, aqui conseguem repousar a mente», adianta o residente, para quem estes novos moradores são «uma maravilha, muito abertos e muito humildes, com vontade de se entrosar na sociedade, vontade de aprender e de mostrar aquilo que sabem». Firmino Cairrão olha para a chegada destes “novos guardenses” como uma «mais-valia» para a aldeia. «É mais um habitante, mais uma pessoa que vemos, mais um recanto que está sempre limpo, porque hoje não é só recuperar uma casa e mantê-la limpa ao redor, principalmente estas quintas, e o que vejo é que os estrangeiros têm vontade e fazem isso», elogia. O antigo presidente da Junta de Freguesia do Seixo Amarelo lembra que a localidade está a ficar «despovoada porque não há maneira de fixar gente jovem. Os mais velhos vão acabando e os mais novos não estão cá», pelo que é importante que estas pessoas «deem vida» a esta zona.
Sofia Pereira