«Temos a obrigação de ter aprendido já alguma coisa, e essa aprendizagem tem que se refletir no comportamento de todos nós. Todos somos chamados a cumprir as normas e as regras de distanciamento, de proteção individual, de cuidados de higienização, tudo isso não acabou, é para manter e para reforçar em todas as situações».
O aviso é de Ana Isabel Viseu, coordenadora da Unidade de Saúde Pública da ULS da Guarda, que foi a convidada da “Grande Entrevista” desta segunda-feira na Rádio Altitude. A médica adiantou que nos últimos dias não tem havido muitos casos de infeção pelo novo coronavírus na região e os que se verificaram estão relacionados com não residentes e por «circunstâncias de vida familiar menos agradáveis». Na segunda-feira havia 33 casos ativos, 23 no domicílio e dez internados, dos quais três nos cuidados intensivos do Hospital Sousa Martins, referiu. O mesmo não aconteceu no passado recente, sobretudo a partir do Natal, quando se deu um «grande aumento» de casos. «Penso que, eventualmente, não conseguimos ler bem os sinais que os meses anteriores nos estavam a dar», admitiu Ana Isabel Viseu.
A responsável revelou ter vivido no último ano várias situações «muito delicadas, que entravam em conflito com a liberdade das pessoas e que implicavam perdas muito significativas em termos económicos e familiares». Houve ainda momentos de «grande pressão» e teve que tomar «decisões muito dolorosas, mas cumpriram-se». A médica de Saúde Pública confirmou também que todos foram surpreendidos com «uma realidade que ultrapassou todas as previsões que tínhamos elaborado». «Foi um desafio sem precedentes, que temos tentado acompanhar adquirindo conhecimento com a gestão da pandemia. Já tínhamos elaborado planos de contingência para a Gripe A e, no fundo, fomos socorrer-nos desse saber – alguns profissionais de saúde e que trabalhavam connosco não acreditavam que as coisas pudessem tomar uma dimensão tão drástica e que seria até precoce fazer esta preparação», declarou.
Ana Isabel Viseu revelou ainda que o Serviço de Saúde Pública tem «muito parcos recursos», pelo que receava não conseguir dar resposta. «No início da pandemia tínhamos três médicos de saúde pública apoiados por dois médicos internos e por dois colegas de medicina geral e familiar. Posteriormente foi contratado um novo médico e tínhamos dois enfermeiros. Era uma equipa muito pequena e isso preocupava-me muito para a resposta imediata à pandemia», assumiu, lembrando que o primeiro caso local foi confirmado a 17 de março: «Foi um alerta e nesse mês tivemos 100 casos», lembrou.