A nomeação pela ministra da Cultura, Graça Fonseca, foi conhecida na sexta-feira e apanhou toda a gente de surpresa. O ator, encenador e programador será o quarto diretor-geral das Artes com o atual Governo, sucedendo a Carlos Moura-Carvalho (demitido em maio de 2016, menos de um ano depois de ter sido nomeado), Paula Varanda (também demitida pelo ministro Castro Mendes devido a uma situação de incompatibilidade denunciada por uma reportagem da RTP) e Sílvia Belo Câmara. Américo Rodrigues assume funções em regime de substituição e, em declarações à agência Lusa, afirmou que este novo cargo «é um desafio porque a Direção-Geral das Artes (DGArtes) tem uma imagem má neste momento». E acrescentou que o que define o seu perfil para o cargo é que «sou da prática, venho do território, porque fui programador, criador, porque vivi no país real e sei da importância que tem o trabalho artístico de qualidade e que há coisas que têm de ser transformadas».
O novo diretor-geral das Artes – que declinou prestar declarações a O INTERIOR até tomar posse – referiu também que, enquanto programador e autor, nunca concorreu a um concurso de apoio da DGArtes e que integrou júris de seleção do organismo. Já ao diário “Público” garantiu que o seu grande desafio passa por «uma coisa óbvia»: «A DGArtes tem de cumprir a sua função e vou tentar que o faça com uma simplificação de processos para assegurar que os prazos são cumpridos, que as decisões são tomadas na altura certa, que os concursos são abertos na altura definida», afirmou. Américo Rodrigues assumiu também como prioridade o envolvimento de «todos os agentes da comunidade artística», bem como fazer passar a ideia «de que a DGArtes não é apenas uma entidade que distribui subsídios. Tem por missão apoiar a criação e a programação, e isso é um serviço público de primeira grandeza que não passa apenas pelo apoio [financeiro]. Esse é um dos desafios. Melhorar a ideia que a comunidade, nomeadamente a artística, tem da DGArtes», sintetizou.
Américo Rodrigues nasceu na Guarda, em 1961. É licenciado em Língua e Cultura Portuguesas pela Universidade da Beira Interior e Mestre em Ciências da Fala pela Universidade de Aveiro com uma tese sobre “As emoções na fala”. Foi diretor do Teatro Municipal da Guarda (2005-2013) e coordenador da Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço (2015-2018). Exerceu funções de animador e programador cultural na Casa de Cultura da Juventude da Guarda/FAOJ (1979-1989) e na Câmara Municipal da Guarda (1989-2005). Foi um dos fundadores do coletivo Aquilo Teatro, da Associação Luzlinar e da Associação Cultural/Teatro do CalaFrio. Coordenou os cadernos de poesia Aquilo (1982- 1997) e foi codiretor da revista “Boca de Incêndio” (2004-2006), entre outras publicações. Em 2011, recebeu a Medalha de Mérito Cultural. É poeta, ator, encenador e performer na área da poesia sonora.
Elogios e felicitações na Câmara da Guarda
A Câmara da Guarda felicitou Américo Rodrigues pela sua nomeação para diretor-geral das Artes.
Na segunda-feira, Carlos Chaves Monteiro, que presidiu à reunião quinzenal do executivo, na ausência de Álvaro Amaro, comunicou aos vereadores a escolha do técnico superior do município para o cargo e deixou «uma palavra de felicitação» ao nomeado. «É mais um guardense que vai desempenhar um cargo importante a nível nacional, e neste caso, na área das Artes, e que a todos nos orgulha bastante», afirmou o vice-presidente em declarações aos jornalistas no final da reunião. Carlos Chaves Monteiro considerou ainda «importante» haver um guardense «à frente das Artes nacionais» numa altura em que a cidade é candidata a Capital Europeia da Cultura em 2027 e se tem destacado com o TMG e o Simpósio Internacional de Arte Contemporânea (SIAC), entre outras atividades. «Será um parceiro importante para a Guarda alcançar os seus objetivos nesta área e contamos com ele, par ir mais longe», disse o autarca.
Os vereadores socialistas também felicitaram o novo diretor-geral das Artes, com Eduardo Brito a declarar que esta nomeação é «o reconhecimento do seu valor e da sua competência». Américo Rodrigues é «um quadro importante e de reconhecido mérito da Guarda, que só deve rejubilar com a sua nomeação», acrescentou o eleito. Por sua vez, Pedro Fonseca afirmou que esta nomeação significa que «quem não serve para a Cultura na Guarda, serve para a Cultura no plano nacional». E lembrou que atualmente Américo Rodrigues estava a trabalhar «em projetos educativos e não na sua área, o que quer dizer alguma coisa», tendo ainda lamentado o seu não envolvimento na candidatura à Capital Europeia da Cultura. «Não compreendo como se prescindiu de Américo Rodrigues, ele que é um dos maiores ativos da cultura da Guarda», disse o vereador.