Especial Natal Região

Aldeia Viçosa cumpre “Magusto da Velha” na terça-feira

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Escrito por Efigénia Marques

Castanhas atiradas da torre da igreja, oferta de vinho, “cavaladas” e uma dramatização, é assim o dia seguinte ao Natal em Aldeia Viçosa (Guarda), onde todos os anos se cumpre rigorosamente a tradição secular do “Magusto da Velha”.
A estória conta-se em poucas palavras e muitas obrigações praticadas pelos habitantes daquela localidade do Vale do Mondego há mais de três séculos. Reza a lenda que uma velha muito abastada e proprietária da grande “Quinta do Lagar de Azeite”, na então povoação de Santa Maria de Porco – hoje Aldeia Viçosa –, deixou um testamento à igreja local segundo o qual havia a «“obrigaçom”» de distribuir castanhas – o alimento principal à época – e vinho ao povo. Em troca os paroquianos tinham de rezar «um Padre Nosso» pela sua alma. O compromisso ficou lavrado em testamento, entre a “velha” e a paróquia de Porco, segundo o qual esta «tem obrigação de dar na primeira oitava de Natal cinco meios de castanha e cinco alqueires de vinho pela alma de uma velha que deixou noventa e seis alqueires de centeio a esta Igreja impostos na Quinta do Lagar de Azeite para que com esta castanha e vinho se fizesse no mesmo dia um magusto e todos dele comessem e rezassem na Igreja um Padre Nosso pela sua alma».
Desde então que, todos anos, a 26 de dezembro são lançados da torre da igreja 160 quilos de castanhas e servidos 50 litros de vinho, oferecido pela Quinta do Ministro, após a missa pela “Alma da Velha”. Atualmente, a Junta de Freguesia de Aldeia Viçosa recebe um Certificado de Renda Perpétua emitido pelo IGCP – Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública com uma renda de cêntimos, mas de «enorme valor simbólico», sublinha Luís Prata, autarca local. Tanto assim que, mais do que uma lenda, o “Magusto da Velha” é um acontecimento incontornável em Aldeia Viçosa e consta do “Livro de usos e costumes da Paróquia de Porco”, do padre António Meirelles, de 1698, que descreve a tradição e que situa a sua origem na Idade Média. Para o presidente da Junta, esta tradição «singular e única no mundo homenageia a solidariedade e a fraternidade».
Mais recente é a prática das “cavaladas” no adro da igreja, onde quem se baixa para apanhar uma castanha – ou rebuçado – fica sujeito a que lhe saltem para as costas. De há uns anos para cá, a Junta serve também pão torrado embebido em azeite e jeropiga, proporcionando ainda animação musical durante a tarde. E para contextualizar a tradição realiza-se ainda uma resenha histórica, uma dramatização da lenda e um cortejo. Tudo começa às 14h30 com uma visita contada à História de Aldeia de Santa Maria de Porco, na Igreja Matriz, seguida de missa pela alma da benemérita. Pelas 15h30 terá lugar a dramatização de cena medieval pelo grupo Hereditas, que terminará com o “Cortejo da Velha”. O lançamento de castanhas para o adro está marcado para as 16h15, altura em que será servido o vinho da Quinta do Ministro e as torradas embebidas em azeite.
Este ano, o salão cultural da aldeia recebe um “mercadinho do magusto” com produtos regionais, azeite e vinho local, e artesanato, bem como a exposição do trabalho dos três vencedores da “Maratona Fotográfica pelo Vale do Mondego”, realizada no 6º encontro “Imagem & Território”. Organziada pela Junta de Freguesia, com o apoio do município da Guarda, a festa do “Magusto da Velha” termina com a oferta de uma sopa de castanhas.

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Efigénia Marques

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