Região

A vida no campo da multifacetada Beatriz

Escrito por Inês Gonçalves

Beatriz Rodrigues era professora e decidiu regressar à terra dos seus avós maternos para se dedicar ao campo. Considera-se uma «mulher da natureza» e foi no Espinhal que encontrou o ideal para viver.

Beatriz Rodrigues é apaixonada pela vida do campo e tem também um atelier no Sabugal

Depois de mais de três décadas a “saltar” por vários pontos do país, Beatriz Rodrigues, professora de Educação Visual e Tecnológica desde 2001, decidiu mudar de vida e regressar à aldeia que a viu crescer e que nunca esqueceu. «As minhas memórias mais alegres são no Espinhal por causa dos meus avós, que já faleceram. Aquela sala pequena, onde cabia toda a gente e mais alguma… Criei uma ligação com esta terra porque me sentia bem aqui», refere a também artista multifacetada.
Nasceu em França, mas tinha 6 anos quando a família resolveu regressar a Portugal. Os pais fixaram-se em Viseu, de onde é natural o pai, e montaram um negócio até se reformarem. Beatriz Rodrigues adianta que a música, a natureza e as artes plásticas sempre fizeram parte da sua vida. «Estudei em Viseu e também foi lá que comecei com as bandas, em 1995. Tirei o curso de Educação Visual e Tecnológica na Escola Superior de Educação de Coimbra e, em 2001, comecei a dar aulas», recorda a antiga professora. A docência levou-a à Madeira, Moimenta da Beira, Sátão, Gondifelos (Vila Nova de Famalicão) e Guarda, onde lecionou dois anos. Na segunda vez optou por ficar em casa dos avós, no Espinhal, para não ter que viajar entre Viseu e a Guarda. Corria o ano letivo de 2010/ 2011 quando sentiu que a profissão estava cada vez mais inconstante e com horários incompletos. «No segundo ano em que fiquei colocada na Guarda sentia-me bem no Espinhal. Apesar da ausência dos meus avós, aqui encontrava tudo o que necessito para viver», explica Beatriz Rodrigues.
Guitarrista e cantora de várias bandas alternativas, conheceu o seu atual companheiro, Ricardo, natural de Viseu, e com ele entrou num projeto musical mais a sério, os “The Dirty Coal Train”, que já atuaram em França, Espanha, Brasil e Argentina. Após algum tempo a viver em Lisboa, Beatriz Rodrigues, de 39 anos, percebeu que não era ali o seu lugar e decidiu voltar para o Espinhal. «A vida dá muitas voltas, como já anteriormente sonhava fazer algo aqui, senti que era o momento. Não quis que tudo o que era tratado pelos meus avós ficasse abandonado», justifica a mais recente residente da pequena aldeia do Sabugal. Em 2017 candidatou um projeto de jovem agricultor, que não foi aprovado, mas no âmbito do qual adquiriu algumas colmeias.
Em setembro de 2018, mês em que se fixou no Espinhal de vez, avançou para aquele que chama de “plano B”. «Optei por fazer as coisas aos poucos com o que já tinha. Agora tenho 17 colmeias, que quero aumentar, uma estufa onde faço agricultura no Inverno, um burro mirandês e ambiciono tornar os terrenos o mais funcionais possível. São cada vez mais as coisas que me prendem aqui», garante também a agricultora. «Aqui encontro paz, tranquilidade e esta natureza que não encontramos em mais parte alguma», acrescenta. Mas, tal como o campo, também as artes plásticas estavam na sua vida e por isso, em novembro, abriu um espaço que acolhe tudo o que faz. «Considero-me multifacetada, faço tatuagens, costura, dou aulas de artes plásticas. O meu objetivo sempre foi encontrar a situação ideal, mas sempre ligada ao campo. De manhã dedico-me à agricultura e à tarde estou no atelier, no Sabugal», declara Beatriz Rodrigues, que tenciona fazer um balanço do projeto do atelier no final do ano. Embora viva num concelho desertificado do interior, a artista tenta afirmar-se pela internet e pelo boca-a-boca. «Pelo facto de ser nova aqui as pessoas são reticentes e não veem ter comigo, tenho que ser eu a ir ter com elas. Passa um pouco por aí, por mostrar o que sou e o que faço aqui», afirma a artista. E um passo importante para o reconhecimento e a aceitação da comunidade foi dado recentemente com uma exposição no Museu Municipal do Sabugal que reúne alguns dos trabalhos que tem desenvolvido ao longo dos anos e mostram a influência que o Espinhal tem na sua criatividade. Intitulada “Pertencer”, a mostra está patente até 5 de março.

Sobre o autor

Inês Gonçalves

Leave a Reply