Ana Mendes Godinho, cabeça de lista do PS na Guarda, considera que o partido obteve uma «vitória esmagadora» no distrito ao vencer em dez dos 14 concelhos, quando há quatro anos apenas tinha ganho num.
Para a antiga secretária de Estado do Turismo, este resultado é «fruto de um projeto com uma visão de futuro em que as pessoas acreditaram». Na sua opinião, «o eleitorado demonstrou uma grande confiança no PS e naquilo que o PS pode fazer pelo distrito da Guarda». Ana Mendes Godinho acrescenta que também percebeu que «estamos num momento de viragem: ou deixamos o interior morrer, ou é preciso um tratamento de choque e para isso é preciso ter força, e essa tem sido um bocadinho a minha missão. O meu compromisso é assumir a Guarda como missão em tudo o que faça». A candidata reconhece que a promessa de António Costa de «descongelar» a segunda fase da requalificação do Hospital da Guarda pode ter sido um momento decisivo da campanha, mas prefere falar em «compromisso» do agora novo primeiro-ministro: «Penso que deixou as pessoas descansadas porque a saúde é um tema importante para quem aqui vive, mas há outros, de visão para o futuro e não de curto prazo e medidas estratégicas», lembra.
Ana Mendes Godinho admite que a vitória do partido em Vila Nova de Foz Côa, terra natal da sua mãe, foi «emocionalmente importante» e deu um «sabor especial» aos resultados na Guarda, mas não adiantou se vai assumir o lugar de deputada na Assembleia da República: «O meu futuro é esta permanentemente em serviço público, essa é a minha missão de vida», afirma. Quanto ao partido, que viveu um período de turbulência nos últimos meses que culminou com a demissão do presidente da Federação e do secretariado, cabeça de lista considera que os resultados de domingo demonstram que «quando trabalhamos em conjunto fazemos claramente a diferença, o fundamental é isto, não haver divisões. Foi a vitória da união». Os socialistas festejaram efusivamente na sede do partido e seguiram em caravana pelas ruas da Guarda. Os socialistas elegeram dois deputados: Ana Mendes Godinho e António Santinho Pacheco, que vai iniciar o seu segundo mandato no Parlamento.
«Se o PSD estivesse unido jamais o PS ganharia no distrito», afirma Carlos Peixoto
Carlos Peixoto, cabeça de lista do PSD na Guarda, considera que teve dois adversários nestas eleições, «o PS e outro PSD, que desistiu de participar nesta campanha e prejudicou muito o partido».
No rescaldo da noite eleitoral, o também líder da distrital justificou a derrota dizendo que «não houve a dinâmica de outros tempos» e que «se fizéssemos como outros fizeram, o PSD teria no distrito um resultado que envergonharia qualquer pessoa». Sem apontar responsáveis – a exceção foi o presidente da JSD distrital, cuja «birra por não integrar a lista» levou a que «não fizesse o que devia ter feito» –, Carlos Peixoto afirmou apenas que «essas pessoas devem fazer um ato de contrição, um rebate de consciência, e perceberem o mal que fizeram ao partido». O deputado reeleito elogiou a sua equipa, cujos elementos disse terem sido «uns heróis, trabalharam arduamente e permitiram evitar um resultado ainda pior», e garantiu que «um PSD unido seria imbatível».
O social-democrata declinou assumir responsabilidades na derrota, imputando os maus resultados àqueles que «voluntariamente não quiseram aderir ao movimento maioritário do partido». Na sua opinião, se todos os militantes e dirigentes «estivessem juntos, jamais o PS ganharia as eleições no distrito da Guarda». Para melhor entendedor: «A culpa é das estruturas concelhias que viraram completamente as costas e que atuaram como contravapor», acrescenta Carlos Peixoto, para quem o que se passou resultou da «fratura» causada pelas diretas para a eleição do presidente do partido e pela divisão da bancada parlamentar. «O ambiente foi sempre de atrito nos últimos meses, pouco propício à paz no seio do PSD», conclui. O candidato reeleito alerta ainda que nestas eleições o distrito perdeu dois deputados, «um pela redução da população e outro porque a cabeça de lista do PS não vai assumir o lugar, vai virar as costas ao distrito porque vai para outras vidas», vaticina Carlos Peixoto.
Quem não conseguiu o mandato no Parlamento foi Carlos Condesso, líder da concelhia de Figueira de Castelo Rodrigo e chefe de gabinete do presidente da Câmara da Guarda.
Reações
Bloco teve o «melhor resultado de sempre» na Guarda, diz Jorge Mendes
«O Bloco de Esquerda obteve, em termos relativos (percentagem), no distrito da Guarda o melhor resultado de sempre (7,81 por cento). Assistimos a uma clara consolidação do BE como a terceira força política do distrito.
É de salientar também que nestas eleições se assistiu a uma subida do Bloco em nove dos 14 concelhos do distrito com percentagens acima dos 10 por cento nos concelhos da Guarda e de Manteigas. A consistência dos resultados eleitorais nos últimos quatro anos é uma evidência. O trabalho feito pelo partido nos últimos quatro anos mostra que é possível o Bloco de Esquerda continuar a crescer e a afirmar-se como uma força importante neste distrito do interior»
CDS «aquém do que merecia», considera Henrique Monteiro
«Não vale a pena poupar nas palavras porque não há vocábulos que alterem os números. O CDS teve uma derrota na noite de domingo, perdendo mais de uma dezena de mandatos e milhares de votos. Podemos invocar muitas razões, mas vou ficar por três apenas: o surgimento de novos partidos na área da direita, o que fragmentou o voto neste espaço político; a abstenção elevada que tradicionalmente penaliza a direita e a perda de capacidade de criar relações fortes de confiança com os eleitores. Haverá outras razões menores que não interessará estar aqui a dissecar e que o partido saberá resolver a seu tempo. Ficámos manifestamente aquém daquilo que desejávamos e merecíamos, mesmo sabendo que as eleições legislativas são mais influenciadas pelos contextos políticos nacionais do que pelos locais».
CDU «ganhou, a pulso, mais de 2.200 votos», constata André Santos
«Os resultados obtidos pela CDU na Guarda não se podem desligar do seu contexto nacional. De facto, pese embora algumas honrosas exceções na comunicação social local, que deram alguma visibilidade ao facto de não estarmos a eleger um primeiro-ministro, mas sim deputados que iriam representar a Guarda, a maioria da comunicação social nacional não alinhou por esta bitola. Para além disso, foram notórias diversas atitudes por parte da generalidade destes órgãos que prejudicaram objetivamente a CDU, como sejam omissões, deturpações ou apoucamento das nossas propostas. Sabíamos assim, de antemão, que esta batalha não seria fácil. O que devemos valorizar é que, mesmo neste quadro pouco favorável, a CDU conquistou mais de 2.200 votos no distrito, ganhados a pulso, nas ruas e à porta de diversos locais de trabalho. O que podemos garantir a estes eleitores e a todos os que vivem e trabalham no distrito é que a nossa vontade de lutar pelos interesses dos trabalhadores e do povo da Guarda não esmoreceu»