O mês passado, José Manuel Silva, o presidente da Câmara Municipal de Coimbra, publicou no Facebook o seu recibo de vencimento (de julho de 2024). O autarca comentou que o fazia para esclarecer quanto ganha na sua função de presidente da Câmara e, assim, responder à pergunta e aos comentários sobre o “tacho” que tem – a remuneração base foi 3.892,15€, acrescida de 1.229,10€ de despesas de representação e de 132,00€ de 22 dias de subsídio de refeição, totalizando 5.253,25€ de vencimento, sobre o qual incidiram descontos de contribuições e impostos de 2.208,57, recebendo assim um total líquido de 3.044,68€.
Como se sabe, o vencimento dos autarcas é estipulado através de uma fórmula que, tendo por base o salário do Presidente da República, segue uma tabela sobre o número de habitantes do respetivo concelho. José Manuel Silva lidera um dos maiores e mais importantes municípios portugueses. Candidatou-se com um apoio alargado, na convicção de que este era o desígnio da sua vida – mudar Coimbra para melhor! José Manuel Silva é médico, respeitado e reconhecido, foi, de resto, Bastonário da Ordem dos Médicos. E se exercesse medicina, entre público e privado, como tantos outros médicos com menos reputação ou prestígio, com mais ou menos horas extraordinárias, ganharia por mês 15 ou 20 mil euros!!! Escolheu a causa pública, acredita poder mudar a sua cidade (e está a mudar), optou por dedicar-se à comunidade, mesmo perdendo milhares de euros por mês… E não gosta de ouvir que está agarrado ao “tacho”! Por isso, manifestando o seu desagrado, divulgou o seu recibo de vencimento porque está farto de ouvir os populistas e as “bocas”. Não lhe irá servir de nada, o “povão” vai continuar a dizer o mesmo.
Como José Manuel Silva, a maioria dos que se dedicam à coisa pública poderiam escolher outros caminhos para singrarem na vida. Muitos poderiam ganhar mais mesmo sem terem de ouvir as provocações e os comentários desagradáveis que muitas vezes a população emite. Ou sem terem de ser escrutinados e controlados, na sua vida pública ou privada. Ou das críticas da oposição, dos jornais e dos que discordam das opções… A vida pública e política é isto. E é para quem quer. Na verdade, o desempenho e atividade pública e política é, em Portugal, mal remunerada. O discurso populista de que os políticos são todos iguais e querem é poleiro levou a que os vencimentos dos dirigentes públicos sejam sempre aumentados de forma discreta. Tanto que, sabemos, os melhores preferem não entrar na vida política e muitos que poderiam contribuir para uma melhor vida coletiva escolhem fazer a sua vida, discretamente, sem a exposição e o controlo que a vida pública implica.
Ainda assim, há também muitas pessoas que, por vocação e gosto, dedicam a sua vida à causa pública e ao serviço da sua comunidade. Muitas são esquecidas na vã glória de alguns momentos de campanha, outros afirmam-se como referência da comunidade por aquilo que representam e essencialmente pela capacidade de defenderem valores e projetos em que a maioria se revê. E há até aqueles cuja vida é reconhecidamente de dedicação à causa pública e à política. É o caso do socialista António Santinho Pacheco.
O político natural de Vila Franca da Serra foi homenageado no passado fim de semana depois de uma vida dedicada à sua terra, ao seu concelho (Gouveia), ao distrito (Guarda) e ao país. Pode parecer coisa pouca, mas Santinho Pacheco, que foi presidente da Câmara de Gouveia, deputado eleito à Assembleia da República pelo distrito da Guarda e o último Governador Civil do Distrito da Guarda, foi uma personalidade ímpar que dedicou 50 anos à região e à sua comunidade. Foram poucos os homens que durante tantos anos se mantiveram sempre na linha da frente do combate pelas causas e projetos em que acreditavam, sempre no superior interesse do coletivo, da comunidade.
Por isso, parabéns a Santinho Pacheco pelo seu desempenho e dedicação à coisa pública. E Bem Haja pela disponibilidade e esforço por representar e defender o distrito da Guarda.
Vida pública
“Santinho Pacheco, que foi presidente da Câmara de Gouveia, deputado eleito à Assembleia da República pelo distrito da Guarda e o último Governador Civil do Distrito da Guarda, foi uma personalidade ímpar que dedicou 50 anos à região e à sua comunidade.”