Tretas!

“devia ser sugerido, estudado e analisado o investimento num aeroporto regional nas Beiras (Centro), entre a Guarda e Castelo. Ou entre Viseu e Leiria”

1. As últimas semanas foram de verdadeira perturbação política, com encenações, demissões e “braço-de-ferro” entre Presidente e governo. Foram semanas de “casos e casinhos”, como tantas outras semanas, de turbulências ignóbeis, discussões estéreis e de factos políticos fátuos… foram uma vergonha para a classe política portuguesa, mas também para todo o circo que anda à volta dos políticos – as televisões, os jornais, as rádios, as redes sociais, o jornalismo, a opinião e o comentário.
A insensatez e a imprudência das elites foram um mau exemplo para o país; o desassossego e inquietação dos mais altos magistrados da nação mostraram a falta de sentido de Estado e a completa irresponsabilidade de quem nos governa; a relevância de toda esta agitação mostra um país pouco adulto e pouco preocupado com a realidade: um país com dois milhões de pobres, com uma real degradação social e política, despreocupado com as alterações climáticas, com a seca, com os atentados ao ambiente, com o futuro!
Como muito bem salientou Miguel Sousa Tavares, «em lugar de andar a meter-se nos assuntos do governo ou a ameaçar com o uso dos seus poderes, o Presidente podia, com mais proveito comum, encabeçar a defesa da terra, da agricultura, da água, da paisagem e do futuro do país, que depende de tudo isto». Porque num momento em que Portugal está sob a ameaça iminente de ter de começar a racionar a água, não só para a agricultura, mas inclusive para o consumo humano, vemos como o país político e a opinião pública continua dependente da novela da TAP e das novidades da CPI – obviamente que queremos conhecer os contornos labirínticos sobre a governança da companhia aérea onde enterrámos mais de três mil milhões de euros dos contribuintes e queremos esclarecimentos sobre toda a palermice à volta das trapalhadas de João Galamba, ministro a que António Costa decidiu acorrentar-se. Mas o país é muito mais do que novelas e circo, o país é estudar, planificar e decidir em prol do bem comum. E é isto que esperamos de quem nos governa, é isto que esperamos das elites (desaparecidas) e é isto que queremos dos nossos eleitos – que estudem, planifiquem e decidam, porque levamos tempo demais parados enquanto o mundo avança…
2. Levamos 50 anos a discutir o novo aeroporto de Lisboa. Há opiniões para todos os gostos. E há uma comissão técnica para escolher a melhor localização entre as nove (!!?) alternativas elencadas – mas é o governo quem tem de decidir e depressa, no pressuposto de que Lisboa (e Portugal) precisa mesmo de um novo aeroporto. Na prática são cinco locais a considerar – Montijo, Alcochete, Santarém, Pegões e Rio Frio, mais o aeroporto Humberto Delgado. Foram já afastadas, e bem, Ota e Alverca (ambas por exiguidade de espaço) e Beja (por distância excessiva). E foram riscadas mais umas quantas que a imaginação e fantasia de alguns sugeriu. Santarém também já devia ter sido excluída, pois está a 80 km de Lisboa (a média na Europa é de 22 km de distância à cidade que serve) e a proposta de ligação é fantasiosa, cara e lenta e o “grupo investidor” continua no segredo dos deuses e uma invenção que só serve para atrasar o processo – erradamente, e no pressuposto de que estão a defender um aeroporto mais próximo, há muitas autarquias do Centro, como a de Castelo Branco, ou comunidades intermunicipais, como a da Beira Baixa, que defendem o aeroporto em Santarém. E há que ter a noção da realidade: o novo aeroporto será para servir Lisboa.
Provavelmente, iremos voltar ao inicío e a escolha recairá em Alcochete – Rio Frio tem pouco espaço e a opção Montijo seria mais uma escolha “à portuguesa”, sem ambição, sem futuro e por influência dos franceses da Vinci – perspetivando as necessidades de Lisboa, o interesse nacional e o futuro do país.
E sim, devia ser sugerido, estudado e analisado o investimento num aeroporto regional nas Beiras (Centro), entre a Guarda e Castelo Branco – depois da ambição de um aeroporto internacional na Covilhã, onde o aeródromo foi arrasado para dar lugar ao “cubo” onde a PT instalou um “data center”, que podia ter colocado em qualquer outro local da região, no meio de um monte, numa encosta ou ravina, num vale ou numa colina… uma construção de betão que prometia o maior desenvolvimento da Cova da Beira e que aplanou com o sonho de um aeroporto no interior. Ou entre Viseu e Leiria (o de Monte Real podia ter uma dimensão e aposta regional mais efetiva, mas está no cone de aterragem do Humberto Delgado). Ou na Guarda (Alto Leomil)… Porque sem um aeroporto não há turismo! E o turismo é a “galinha dos ovos de ouro” para o Portugal do séc. XXI (não devia ser, mas é… basta ver o propalado crescimento da economia portuguesa, que se deve exclusivamente ao aumento de turistas).
3. Não sou fumador, mas fumando gostava de ter a liberdade de pode fumar no espaço público, respeitando os outros e as regras que me impedem de fumar em todos os locais públicos fechados, nos espaços encerrados, nos cafés, nos restaurantes ou em frente às escolas (é vergonhoso ver os professores a fumar à porta das escolas dando um exemplo errado aos alunos)… Respeitar os outros e contribuir para uma sociedade mais saudável e livre de tabaco não é, não pode ser, querer uma sociedade bacteriologicamente pura e inimiga da liberdade individual do direito a fumar na rua e no cumprimento de regras básicas e de bom senso. A nova lei é excessiva.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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