Para a UNWTO (Organização Mundial de Turismo), o número de turistas internacionais poderá diminuir 60-80% em 2020, pelo que o turismo precisa de ações firmes que garantam a sua recuperação para continuar a construir economias e sociedades mais iguais, sustentáveis e resilientes.
Face a uma cultura de consumo desenfreada e alargada a uma escala global, que o turismo nas suas múltiplas formas e contextos representava, estamos hoje perante um cenário profundamente distinto, em que o consumo está bloqueado pela pandemia Covid-19 e as restrições e medos que a mesma levanta, o que nos leva a questionar os modelos e/ ou as formas como as práticas turísticas serão realizadas no futuro. Poderemos afirmar que consumíamos produtos e espaços turísticos de uma forma desconsciencializada, perante a forma simples e atrativa como tudo nos era proposto, para rapidamente congelarmos os nossos movimentos, reconsiderarmos toda a segurança e questionarmos que práticas e em que espaços as possamos desenvolver. Estamos numa fase em que verdadeiramente o turismo estabelece um processo de desaceleração e de reconstrução de tendências.
O turismo, como fenómeno social e atividade económica baseada na experiência e na relação com lugares diferentes do quotidiano, pressupõe mobilidade, segurança, serviços, entre um alargado conjunto de relações que tornam a experiência enriquecedora. Todavia, com a atual situação de pandemia, as restrições impostas e o medo do contágio, redefinem-se as prioridades dos turistas. Partindo da suposição de um retorno gradual a viajar, será determinante ganhar a confiança dos visitantes em relação à salubridade, mas sem destruir a experiência turística.
É, portanto, necessário reinventar a maneira como o turismo será desenvolvido e para o qual as precauções sanitárias (básicas) devem ser tomadas (limpeza de superfícies, uso de máscaras pelo pessoal de serviço, distâncias de segurança, etc.), garantindo uma experiência suficientemente confortável. Neste contexto os espaços de maior densidade, urbanos e litorais, terão maiores constrangimentos e, porventura numa fase imediata, constituirão destinos de não priorização. Contrariamente, as áreas rurais e o turismo de interior ganharão expressão e adeptos pelas modalidades de alojamento menos densificado, a valorização da Natureza, as atividades promovidas ao ar livre, o significado das suas identidades, a afetividade, a proximidade e pelo respeito e empatia da comunidade que o acolhe.
Desta forma, a promoção turística deverá ser enfocada na proximidade geográfica e relação emocional, valorizando produtos locais a partir da perspetiva de sentimento de pertença. Esse posicionamento não somente poderá apoiar a resiliência turística, mas também ser uma alternativa para a diminuição da quantidade de viagens longas, muitas internacionais, as quais têm incrementado problemas socioambientais de escala mundial. A desaceleração dos tempos de consumo, na qual nos encontramos, permitirá, inclusive, aumentar a possibilidade de agregação de valor ao “slow tourism”, para o qual a colaboração é determinante, as tecnologias existem e as potencialidades emergem.
* Professor coordenador do IPG e investigador do CITUR & CICS.NOVA