A tendência Outono 2019 na moda política portuguesa são as polémicas de fim-de-semana. Como o último foi mais comprido, com feriado à sexta-feira, tivemos duas polémicas em vez de uma – e nenhuma delas foi a derrota do Sporting em Tondela, que já só três membros da Juve Leo é que ainda se aborrecem com os resultados.
Como ambas as polémicas são de cinco estrelas em palermice, optei pela ordem alfabética do primeiro nome do visado. Primeiro, André Ventura, depois, Daniel Oliveira. Escolhi este critério por ser a ordem que se costuma usar nas escolas secundárias, que é o lugar típico deste género de discussões.
Depois de alguém ter lido a tese de doutoramento de André Ventura, onde manifesta a sua preocupação com a discriminação e estigmatização das minorias pelas políticas repressivas de combate ao terrorismo, o novo deputado está a ser acusado de ser uma pessoa com sentimentos humanitários. O Doutor Ventura protestou imediatamente, dizendo que não, que não admite receber elogios dos editoriais do “Público”, nem permitirá que a deputada do Livre pare de lhe chamar racista. Afirma que o que escreveu na tese é ciência, mas que no Parlamento emite opiniões. Como o entendo, Doutor, que escrevi uma tese de doutoramento sobre humor e comédia, e nesta coluna do jornal encontra-se tudo menos isso. Esta distinção feita pelo deputado do Chega é como se um oncologista descobrisse o mecanismo da transformação molecular do cancro e viesse à televisão dizer às pessoas que as castanhas é que fazem mal.
O protagonista da segunda polémica, por ordem alfabética, foi Daniel Oliveira, acusado por Joacine Katar Moreira de usar argumentos iguais aos da extrema-direita. Posso atestar pessoalmente o ridículo desta afirmação. Nos tempos áureos dos blogues também eu me peguei com Daniel Oliveira e o máximo que me aconteceu foi ser chamado de “galifão”. Fosse ele de extrema-qualquer-coisa e provavelmente este espaço no jornal estaria agora ocupado por publicidade a suplementos vitamínicos. Mas o mais extraordinário desta discussão foi um post, que eu não li, mas que me foi relatado por um amigo. Conta ele que viu a jornalista Fernanda Câncio ir ao Twitter pedir calma a ambos – e essa informação foi-me transmitida com o mesmo tom com que Rutger Hauer proclamou em “Blade Runner”, «eu vi coisas que vocês nunca sonhariam». Se Fernanda Câncio entra numa discussão para apaziguar, não restam dúvidas – o Quinto Círculo do Inferno são as redes sociais.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia